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"Klopp" e o carisma do técnico de boné e barba mal feita, por Fernando Rudnick
No início de março, logo após o Liverpool ser eliminado pelo Chelsea da Copa da Inglaterra, um jornalista perguntou a opinião do técnico Jürgen Klopp sobre a pandemia do novo coronavírus.
Dono de um estilo "sincerão", o alemão não se aguentou. Na resposta, em tom áspero, Klopp disse não entender a importância de se ouvir a opinião de um treinador de futebol sobre um assunto tão sério.
"Você tem que perguntar as coisas nos termos certos. Não para pessoas sem nenhum conhecimento, como eu... Política, coronavírus, por que eu? Eu uso um boné de beisebol e tenho uma barba mal feita", falou.
Esse é exatamente o mesmo Klopp que você conhecerá a fundo ao ler a biografia homônima escrita pelo jornalista Raphael Hönigstein, publicada no Brasil pela editora Grande Área. Essencialmente, um cara autêntico e humano. Daqueles que realmente fala o que pensa. E que tem um carisma absurdo, talvez formatado por sua maneira simples de encarar a vida.
O técnico do Liverpool não esconde. Foi um jogador meia-boca. Seu corpo não acompanhava a velocidade de pensamento do cérebro. Por isso, nunca foi além da segunda divisão da Alemanha. Conviveu com salários baixos e dificuldade para pagar as contas. Começou a carreira como um veloz atacante, encerrou como defensor no Mainz 05, em 2001.
Foi lá, no time da cidade famosa por seu Carnaval – não pelo futebol –, que se tornou treinador. Assumiu, meio que por acaso, com o objetivo de escapar do rebaixamento. Conseguiu muito mais. Não antes de chorar, sofrer, persistir. Depois, comemorou. Tomou cerveja com a torcida. Virou ídolo.
Nascido em Stuttgart, mas criado na pequena Glatten, na região da Floresta Negra, no estado alemão de Baden-Württemberg, Jürgen também marcou história no Borussia Dortmund. Foi peça-central na reconstrução do clube, aliás.
Com seu gegenpress, estilo de futebol baseado na intensidade para recuperar a bola, venceu duas vezes a Bundesliga, uma vez a Copa da Alemanha, além de duas Supercopas nacionais. Implantar sua filosofia, contudo, não foi simples. Mas o mérito é ainda maior se levarmos em consideração o futebol praticado e a concorrência de um gigante chamado Bayern de Munique.
No livro, você também descobrirá por que Klopp não foi parar no Bayern. A história é boa. Outras passagens, como a época em que trabalhou como jornalista para complementar a renda e as inspirações para o modelo de jogo também estão lá. Assim como exemplos de seu temperamento explosivo e a maneira transparente de trabalhar.
Honigstein não escreve de maneira linear, no entanto. Há diversas idas e vindas por diferentes épocas da vida de Klopp. Esse estilo de narrativa pode confundir um pouco, mas é compensado com detalhes profundos e perspectivas de dezenas de entrevistados.
"Klopp" não é o melhor livro de futebol de mundo, claro. Ele tem falhas, exatamente como o treinador (e todos nós). Mas é um retrato fiel de um personagem extremamente carismático.
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