Às vésperas da eleição, o prefeito Luciano Ducci (PSB) solicitou a retirada da proposição enviada à Câmara Municipal que alterava a quantidade de potencial construtivo crédito virtual concedido pela prefeitura para se construir imóveis de tamanho acima do estabelecido pela legislação municipal destinado às obras de adequação da Arena da Baixada para a Copa de 2014.
A desistência, por meio de documento protocolado às 17h19 de ontem, traz como justificativa a "realização de estudos mais aprofundados".
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O texto enviado ao legislativo em junho acabava com o teto de R$ 90 milhões repassados ao Atlético e o valor passava a ser calculado por número de cotas (246.134), que chegaria a R$ 123 milhões cada título vale R$ 500.
Essa mudança seria necessária, conforme justificativa dada à época, para adequar a participação dos governos municipal e estadual no orçamento mais recente do estádio: R$ 184,5 milhões.
A ação pegou a cúpula da organização do evento da Fifa em Curitiba de surpresa. "Não estou sabendo disso. Não fui informado de nada", disse o secretário municipal para assuntos da Copa, Luiz de Carvalho.
Da mesma forma, o secretário estadual, Mario Celso Cunha: "Não sei nada sobre isso. Desconheço. Ninguém me comunicou".
Quem não gostou da decisão de Ducci foi o Atlético. "Não era para ele [Ducci] ter pedido isso", reclamou o vice-presidente jurídico do clube, José Cid Campêlo Filho. "Acreditamos que ele deve encaminhar um novo texto, com mais possibilidade de ser aprovado", seguiu.
De qualquer forma, Campêlo Filho garante que o Rubro-Negro consegue concluir a Arena sem a liberação da diferença. "Sempre tivemos um plano A e um plano B. É algo paliativo que temos de prever", completou o dirigente atleticano, sem dar detalhes sobre a tal saída alternativa. O presidente do clube, Mario Celso Petraglia, à frente de todo processo, está em viagem pela Europa.
O pedido de ontem veio na semana anterior à prevista para a votação no plenário da Câmara, que já havia sido adiada em duas oportunidades. A oposição pediu mais esclarecimentos ao Executivo e aguardava a votação do parecer do Tribunal de Contas do Paraná (TC-PR) sobre a natureza financeira dos títulos imobiliários cedidos pela prefeitura ao Atlético.
Conforme a reportagem da Gazeta do Povo apurou, o relatório enquadra o potencial construtivo como dinheiro público. A nova previsão para a apreciação do parecer entre os conselheiros do TC-PR, confirmando ou não essa tese, é a sessão da próxima quinta-feira.
Para o presidente do órgão, Fernando Guimarães, se trata de um indicativo de que o poder público municipal deve redigir um novo texto, possivelmente levando em consideração as recomendações do colegiado.
Mesmo sem a votação do parecer, o município já tinha conhecimento do que seria pedido. "Eles [técnicos do TC-PR e da prefeitura] sempre interagem. É necessário o detalhamento de algumas coisas. A questão da contrapartida, o detalhamento do valor aplicado pelo Atlético, a questão de alienação do potencial construtivo, independentemente da natureza [dinheiro público ou privado]", explicou Guimarães.
"[A solicitação] comprova a fragilidade da proposta apresentada pelo prefeito. Fragilidade e também a precipitação do Executivo. Por pouco [a proposta] não foi aprovada", comentou o vereador Pedro Paulo (PT), que pediu vistas do projeto assim que chegou à Câmara, em junho deste ano.
A reportagem tentou sem êxito ouvir a versão da prefeitura. A assessoria de imprensa disse apenas não ter ainda detalhes para os esclarecimentos.
Colaboraram Nícolas França e Rogério Galindo.
Obras na Arena da Baixada