Torcida

Mão pesada faz do lutador o grande ídolo de Paranaguá

Apesar de levar uma vida simples em Paranaguá, John Lineker já sente os primeiros indicativos da fama iminente. Ou quase isso. Campeão dos pesos galo (até 61 kg) do principal torneio de MMA nacional, o Jungle Fight, o lutador se acostuma aos poucos com pedidos cada vez mais frequentes de fotos e autógrafos. Especialmente no Litoral.

Enquanto esteve com a reportagem pelas ruas da cidade, atendeu com frequência crianças, mulheres e adultos, mas esboçou a mesma curiosidade dos fãs com a situação. Involuntariamente, o envergonhado atleta se tornou patrimônio dos parnanguaras.

"Estamos torcendo para ele, que representa nossa cidade. É um orgulho", diz Rivaldo Galdino, que chegou a treinar boxe com Lineker quando o lutador do UFC era apenas um adolescente. Desde aquela época, a mão já era pesada, garante o ex-parceiro de treinamentos. "Se marcasse [bobeira], ele nocau­teava a gurizada lá. Até os mais velhos sofriam com ele. Ele sempre foi ‘tigrinho’", completa Galdino, revelando o primeiro apelido do Mão de Pedra.

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Da casa alugada de apenas três cômodos onde mora na Vila Guarani, bairro simples de Paranaguá, John Lineker leva no máximo 15 minutos para percorrer, a pé, o trajeto de dez quadras até a academia que frequenta cinco dias por semana, pelo menos três vezes ao dia.

Ainda que a rotina de treinos pouco tenha mudado em relação há quatro anos, quando competiu profissionalmente nas artes marciais mistas (MMA) pela primeira vez, a jornada do lutador de 22 anos está prestes a dar um salto.

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A seis dias de sua estreia do Ultimate Fighting Championship (UFC) – o principal torneio de lutas do mundo – ele se vê diante da chance não só de realizar o sonho de adolescente, mas também de agarrar uma oportunidade de mudar de vida.

"Meu sonho no esporte é dar uma vida boa para minha família, meu filho, minha esposa. Conseguir ganhar o cinturão é meu objetivo também. E vou ganhar, pode ter certeza. Não vou sair da minha cidade para os gringos baterem em mim", conta o peso mosca (até 57 kg), com um acentuado sotaque caiçara. O adversário do primeiro desafio, no próximo sábado, em Nova Jersey, nos EUA, será o americano Louis Gaudinot, de 27 anos.

Até assinar com o UFC, o caminho do parnanguara foi construído com muita dedicação, repetindo outros exemplos do esporte. Ao todo, Lineker lutou 24 vezes (19 vitórias) em 36 meses – o que revela uma exaustiva média de dois combates por trimestre. Antes de ser contratado pelo Ultimate, o hoje supercampeão Anderson Silva, por exemplo, competia em média somente uma vez a cada cinco meses. Já o curitibano Wanderlei Silva, ídolo de Lineker, fazia um duelo a cada três meses até chegar ao Pride, evento no qual ganhou fama mundial.

"É uma conquista de muitos anos de trabalho. Graças a Deus chegou o momento. Mas não deixei de trabalhar só porque cheguei lá, continuo batalhando", diz o lutador, cujo nome, pouco comum, é uma homenagem feita pelo pai ao ex-atacante da seleção inglesa Gary Lineker.

Trabalho, aliás, não falta ao lutador de 1,59 m de altura. Além do boxe, sua especialidade, o jiu-jítsu e o wrestling (luta olímpica) estão no cardápio de preparação. Isso sem contar os treinos de força, equilíbrio e resistência cardiovascular. "Às vezes tenho de falar que ele está treinando demais para ver se para", conta o treinador Marcelo Ribeiro, da Emporium Team.

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Quem conseguiu barrá-lo temporariamente foi uma apendicite. Em março, Lineker passou por uma cirurgia simples, mas que lhe custou um valioso mês de preparação. "Sempre que tenho uma luta importante, passo por uma prova. Isso é para eu chegar com mais garra, determinação, mais coração", minimiza ele, que ainda batalha contra a balança. Até a véspera do combate precisa perder 11 kg – pesa 68 kg.

Depois de passar por vários obstáculos, o Mão de Pedra, apelido que ganhou por causa da força de nocaute de seu braço esquerdo, garante que vai fazer o possível para manter sua sequência de triunfos também no exterior. Ele não perde há 13 duelos, mas o próximo carrega todo o peso extra de um futuro diferente.

Segundo a Gazeta do Po­­vo apurou, a menor bolsa de um estreante do UFC é de US$ 6 mil – cerca de R$ 11 mil –, dobrada em caso de vitória. Também há bônus de pelo menos R$ 100 mil para melhor luta, finalização e nocaute da noite. Valores ainda inimagináveis para quem compete no Brasil, o que faz do Ultimate o desejo de todo lutador.

PalpiteEstilo 'padrãozinho' de Louis Gaudinot deixa técnico otimista

Louis Gaudinot, rival de John Lineker no próximo sábado, no UFC on Fox 3, lutará em casa em Nova Jersey. Cinco anos mais velho do que o paranaense, o americano, no entanto, não bota medo no treinador Marcelo Ribeiro. Apesar de ter sido vice-campeão da última temporada do reality show The Ultimate Fighter, ele é considerado um atleta apenas "normal" para os padrões do evento.

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"Ele tem uma preparação física boa, também é um boxer, mas não tem jogo para o John. O Gaudinot é muito padrãozinho, quer só pontuar, enquanto o John é explosivo e tenta vencer a todo momento", explica Ribeiro, cujo pupilo ostenta oito nocautes no currículo.

A experiência no rigue é, segundo o treinador, outra vantagem para o brasileiro.

O americano tem apenas sete lutas no cartel (cinco vitórias) contra 24 do parnanguara, que promete não sentir a pressão.

"O UFC não é qualquer torneio, mas o John vai se comportar como se estivesse em mais um dia de trabalho, focado", garante o técnico, que aposta na 'entrega' de seu pupilo para voltar da América com a primeira vitória no evento. Logo na estreia.

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Esportes | 3:14

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