Nome histórico do jornalismo esportivo brasileiro, Luciano do Valle faleceu de forma fulminante neste sábado (19), aos 66 anos, por motivos ainda desconhecidos, enquanto voava para mais uma transmissão no microfone da Band, que ele transformou no "Canal do Esporte" nos anos 1980. Foram oito Copas do Mundo na voz dele, que se preparava para o Mundial do Brasil.
Boa parte da cultura esportiva brasileira de hoje deve-se a Luciano. Na lista das modalidades impulsionadas pelo narrador estão vôlei, basquete feminino, futebol feminino e boxe. Foi ele também o responsável por abrir as portas do Brasil à NBA, ao futebol americano e à Fórmula Indy.
Luciano começou a carreira cedo, na Rádio Educadora, em Campinas, sua cidade natal. Logo estava na Rádio Brasil, ainda em Campinas. A primeira aventura em São Paulo foi na Rádio Gazeta, a convite do lendário narrador Pedro Luiz. Em 1968, mudou-se para a Rádio Nacional (atual Globo).
Ele chegou na TV em 1974, pela própria Globo. Ali, substituiu Geraldo José de Almeida no posto de titular, na fase pré-Galvão Bueno. Pela emissora, narrou o segundo título de Emerson Fittipaldi na Fórmula 1, naquele ano mesmo. Foi titular dessas transmissões até 1982.
Neste ano, teve uma das maiores audiências da TV brasileira, uma vez que a Globo tinha a exclusividade da Copa da Espanha. Foi a partir da voz dele que o Brasil sofreu com os gols de Paolo Rossi no fatídico jogo que tirou a seleção do Mundial. Na Globo foram duas Copas (1978 e 1982) e duas Olimpíadas (1976 e 1980).
Em seguida teve uma rápida passagem pela Record, organizando, com a ajuda da emissora, o jogo de vôlei entre Brasil e União Soviética, no Maracanã, que se tornou um divisor de águas no esporte brasileiro e que detém, até hoje, o recorde de público numa partida de vôlei.
Luciano chegou à Band em 1983, iniciando o período de cerca de uma década de grande reformulação na transmissão esportiva na TV. De cara ele criou o "Show do Esporte", levando, para a TV, as jornadas esportivas do rádio. Em 10 horas de programação dominical, não faltava espaço para outras modalidades.
Assim foi precursor nas transmissões da Fórmula Indy, a partir de 1985, narrando o título de Fittipaldi em 1989. Levou ao Brasil também a rivalidade entre as equipes de Hortência e Paula, que, juntas, ganharam o Pan de 1991 em Havana e o título mundial de 1994 pela seleção brasileira. Ele, lógico, narrou as duas conquistas.
Luciano foi uma espécie de promotor de Maguila, principal boxeador peso pesado brasileiro da história. O narrador se arriscou até de treinador, comandando a seleção brasileira de masters na Copa Pelé, evento criado pelo próprio. Djalma Dias, Carpegiani, Edu, Rivellino e Jairzinho estavam entre os seus jogadores.
O narrador fez diversas apostas, a maior parte acertadas. Bancou a transmissão do Campeonato Paulista de Aspirantes, de diversas competições de futebol feminino (até hoje a Band organiza um torneio internacional entre seleções), popularizando nomes como Sissi, Kátia Cilene e Formiga, e até jogos de sinuca, tornando Rui Chapéu famoso no Brasil.
Acertou principalmente quando passou a transmitir a NBA no País, em 1987, pegando a época em que brilhava o Chicago Bulls de Michael Jordan. Sempre com o apoio de narradores e comentaristas como Álvaro José e Téo José, abriu espaço até para o futebol americano no Brasil.
Foi Luciano, também, quem criou diversos modelos bem sucedidos para a TV. Um deles foi o Verão Vivo, transmitido de postos da Band no litoral brasileiro, misturando competições esportivas e eventos culturais. Outro foi o Apito Final, programa de debate esportivo após a rodada do futebol, reunindo personalidades. É a base do modelo de mesa redonda que fez muito sucesso nas últimas duas décadas.
A lista de feitos de Luciano do Valle é enorme. Comandou programa de variedades (Valle Tudo), transmitiu carnaval e até programa matinal (Tudo em Dia). No início de 2012, teve um AVC que o obrigou a passar por sessões de fonoaudiologia. Ele tentou voltar rapidamente às transmissões e, durante um Santos x Palmeiras, errou quase tudo, virando motivo de chacota nas redes sociais.
Mesmo assim, só mais de um ano depois revelou o AVC. Apesar de estar com a saúde debilitada, não se afastou das transmissões, comandando sempre a partida principal do fim de semana na Band. Depois, ficou um tempo fora por causa de uma operação na bexiga, que o tirou da cobertura dos Jogos de Londres/2012 pelo Bandsports.
Seu último trabalho foi no título paulista do Ituano, nos pênaltis, sobre o Santos, há uma semana. Neste domingo narraria a partida entre Atlético-MG e Corinthians, em Uberlândia, pela primeira rodada do Brasileirão. Estava em um voo para a cidade mineira quando passou mal neste sábado. Ainda foi atendido pelo Corpo de Bombeiros no aeroporto, mas não resistiu.
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