Primeiro campeão da história do UFC, o brasileiro Royce Gracie está em Curitiba para um seminário nesta quarta-feira (1.º), na academia CM System, no bairro Mercês.
Vinte e um anos depois de fazer três lutas na mesma noite e provar a superioridade do jiu-jítsu contra adversários bem maiores, o lendário lutador falou à Gazeta do Povo sobre o momento do MMA atual, o declínio dos brasileiros e as repetidas lesões em treinos. A aposentadoria de Wanderlei Silva e o retorno de Anderson Silva também foram assuntos da entrevista.
O que você achou da aposentadoria do Wanderlei Silva?O Wanderlei marcou época no Japão, no UFC também, mas gostava mesmo de assistir ele lutar no Pride. Ele carregou a bandeira do Brasil por muito tempo. Até conversei com ele antes de lutar contra o Yoshida [em 2003]. Estávamos no mesmo evento e ele me deu uma opinião, uma ajuda, já que ele o tinha vencido antes.
O que achou das críticas do Wanderlei ao UFC?Não vi o vídeo dele, mas a condição dada ao atleta pode sempre melhorar. Já melhorou bastante. No começo era cru. A propaganda era entram dois, sai um. Era sem luva, sem regra, sem tempo, sem limite de peso. Hoje tem regras. A luta é igual para os dois lados.
Quais lutadores você gosta de assistir? Tem muito lutador bom hoje em dia. Gosto do Demian Maia, do Nick e do Nate Diaz. São caras que gosto de ver porque sabem usar a estratégia. Georges Saint Pierre é outro, gosto também do Ronaldo Jacaré.
Por falar em Nick Diaz, como você acha que será o retorno de Anderson Silva ao octógono? Só tem uma maneira de descobrir. Tem de entrar no ringue pra saber. O Anderson sabe o que tem de fazer. Não é marinheiro de primeira viagem, já esteve lá. Se estiver com a cabeça boa, tem tudo para voltar bem.
O longo tempo de inatividade pode atrapalhar? Às vezes é bom descansar um pouco. Sou a favor do descanso. Ele está nessa pressão há anos. Aconteceu tudo que aconteceu, o Weidman ganhou dele, mas o Anderson sabe o que tem de fazer. Nós como fãs não queremos que esses caras parem nunca, mas o lutador tem de saber a hora certa. Tem de continuar porque tem vontade. Se estiver lutando por dinheiro, por obrigação, é hora de parar.
Como foi no seu caso? Em 2011 você chegou a negociar uma última luta, mas não deu certo...Eu ainda estava com gana de lutar. Mas é preciso escutar o corpo. Não sou mais garoto, faço 48 anos em dezembro. A recuperação não é a mais a mesma.
Tem alguém do cenário atual que você gostaria de ter enfrentado? Não dá para comparar. É difícil. Nunca escolhi adversário na minha carreira. Nunca pensei nisso.
O que tem acontecido com os brasileiros no UFC? Atualmente só o José Aldo tem um cinturão... Está todo mundo treinando, todo mundo montando estratégia. Mas foi uma mudança muito rápida, uma porção de brasileiros perdeu o título de uma vez. Mas há uma nova geração chegando, garotos novos. No Brasil tem muito talento. Você vai na Amazônia e vê muito garoto bom. Não estamos atrás [dos estrangeiros], não.
Por que as lesões estão cada vez mais comuns no MMA?O camp de treinamento tem de fazer de tudo para não deixar o atleta se machucar. É uma matemática complexa. O técnico tem de empurrá-lo ao limite, mas ao mesmo tempo tomar conta dele como se fosse um bebê. Você treina para tentar chegar ao topo, mas acontecer de se machucar e não vale a pena lutar assim e botar tudo a perder.
Você já lutou machucado? Nunca. Meu treinamento é o mais leve que existe. A dieta que sigo é importante. Considero que dormir faz parte do treino, comer faz parte, tudo faz parte. Não é só a questão física.
Como você analisa a evolução do MMA?No começo era um estilo contra outro. O Gracie jiu-jítsu contra o taekwondo, o karatê contra o judô, o kickboxing contra o sumô. Hoje, depois de anos provando que o jiu-jítsu é a defesa pessoal mais completa, as coisas mudaram. Não é mais um confronto de artes marciais. É um atleta contra o outro e vence quem está mais preparado, quem consegue estragar a estratégia do adversário. Um xadrez. Planejar a luta para o outro errar.
Passa pela sua cabeça treinar atletas profissionais?Difícil. Teria que parar tudo que faço. No momento eu gosto de viajar com meus seminários ensinando nossa arte. Passo sete meses fora de casa no ano. Só não estive na África do Sul e na Rússia. No resto já estive.
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