A espiral de efeitos negativos por causa da ocultação da lesão do pugilista Manny Pacquiao antes da “luta do século” contra o americano Floyd Mayweather Jr. ganhou novos protagonistas depois da ação coletiva apresentada contra o filipino por moradores de Las Vegas.
Eles exigem uma indenização de US$ 5 milhões a Pacquiao, seu treinador, Michael Koncz, e a empresa promotora Top Rank por esconderem de forma fraudulenta a lesão do atleta. Segundo o processo, todos sabiam do problema e não informaram à Comissão Atlética de Nevada, como exige a lei. O segredo foi mantido também para os torcedores que compraram ingressos para o combate realizado no MGM Grand Arena, que adquiriram a luta pela TV por assinatura e que apostaram em “Pacman” como o vencedor do duelo.
“Os processados sabiam e tinham pleno conhecimento de que Pacquiao estava seriamente lesionado. Além disso, sabiam que o problema poderia afetar gravemente seu rendimento”, diz a ação.
Estima-se que todas as receitas geradas pela “luta do século” ultrapassem a casa dos US$ 400 milhões, podendo chegar até a US$ 500 milhões, maior marca da história do boxe em ambos os casos.
Apesar de Pacquiao ter resistido aos 12 assaltos regulamentares, só perdendo para Mayweather após a decisão unânime dos juízes, a questão levantada no processo é: a “luta do século” foi promovida adequadamente ou era um duelo injusto desde o princípio devido à lesão?
Os dois torcedores que entraram com a ação alegam que não era e que os promotores podem ser enquadrados na Lei de Práticas Comerciais Fraudulentas do estado americano de Nevada. O advogado que representa a Top Rank, Daniel Petrocelli, garante que as acusações são falsas e não têm sustentação jurídica.
“Há documentos que mostram de forma explícita os remédios que Manny estava usando para tratar o ombro direito e todos foram totalmente revelados à Agência Antidoping dos Estados Unidos (Usada, na sigla em inglês), que contratamos para esta luta”, disse.
Mas a Usada, através de seu presidente, Travis Tygart, foi categórica ao afirmar que a organização não tem relação com a lesão de Pacquiao e a obrigação de comunicá-la à Comissão Atlética.
“Não tínhamos informações médicas, não há imagens de ressonância magnética, nem documentos. Não foi um problema antidoping. O verdadeiro questionamento é porque a equipe dele marcou ‘não’ no formulário onde a pergunta sobre lesões é feita”, rebateu Tygart.
“Não tenho certeza se há um meio termo neste assunto”, completou o presidente da Usada, afirmando que a equipe do filipino cometeu um erro ao ocultar a informação da comissão.
Petrocelli disse que Pacquiao foi examinado por médicos antes da luta e provou tinha condições físicas de entrar no ringue, mas voltou a lesionar o ombro durante o combate. O advogado descartou também a possibilidade de a ação dos torcedores, em especial a alegação da falta de conhecimento do público sobre o problema com o pugilista, ser considerada pela Justiça.
“Esta é um processo frívolo e temos certeza que será desprezado”, acrescentou.
A notícia do processo ocorreu um dia depois de o presidente da Comissão Atlética de Nevada, Francisco Aguilar, ter confirmado que a Procuradoria-Geral do estado investigará o motivo de Pacquiao ter marcado “não” na opção sobre lesões presente no questionário que precisa ser respondido pelos lutadores antes da luta. O filipino pode ser multado e suspenso por esconder a informação, algo estabelecido por lei e que deve ser divulgado antes da cerimônia de pesagem.
O cirurgião Neal ElAttrache, médico de Pacquiao, também confirmou através da imprensa que o atleta passará por uma operação nesta semana e ficará em recuperação por um período entre nove e 12 meses. Tempo que Mayweather disse esperar para que ambos possam fazer uma revanche da “luta do século”, que acabou sendo uma completa decepção para todos os torcedores após a grande expectativa gerada.
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