De dentro da quadra da Arena Minas, na noite de terça-feira, a central Fabiana só via que acontecia algo de anormal na arquibancada. Bicampeã olímpica e capitã da seleção brasileira, ela defendia o seu time, o Sesi-SP, contra a equipe da casa, em jogo da Superliga Feminina. Não sabia que a confusão nas tribunas acontecia por sua causa.
Na manhã de ontem, a jogadora foi ao Instagram e descreveu o episódio de racismo de que diz ter sido vítima em Belo Horizonte. A jogadora não ouviu os insultos dirigidos a ela. Mas o ofensor estava bem ao lado de seus pais e também próximo de amigos e de familiares da líbero Suelen, outra jogadora do Sesi.
"O ginásio estava lotado e esse senhor estava do lado dos meus familiares, dos meus amigos. Quando aconteceu o episódio, todo mundo foi para cima [da pessoa]. Chamaram os seguranças, que tiraram o cara do ginásio e o entregaram para a polícia. Eu vi o tumulto, mas não sabia o que estava acontecendo", explicou a jogadora. "Quando acabou a partida, me falaram a história. Meus pais estavam superchateados. Minha mãe falou que via [o torcedor xingá-la] e não acreditava que era para a filha dela, ficou sem reação", disse.
O fato de os xingamentos terem ocorrido ao lado de sua família fez Fabiana decidir tornar o caso público. O jogo não foi televisionado. "Talvez se não fosse ao lado dos meus pais... Mas aí eu ligo hoje [ontem] para a minha mãe e ela está supertriste, chorando... Isso me machuca muito. Foi o que mais comoveu."
Fabiana afirma nunca ter sido vítima de racismo. "Na hora, não acreditei. Não é torcedor do Minas porque a torcida tem um carinho muito grande por mim [ela começou a jogar vôlei no clube]. É uma pessoa má de espírito, um infeliz", continuou.
O boletim de ocorrência lavrado na Arena Minas não tem a informação de injúria racial, mas de atrito verbal. Para que o caso siga adiante, Fabiana terá de prestar queixa, o que ainda pode fazer.
A central não confirmou se vai ou não dar seguimento ao fato. Antes, vai conversar com o Minas para decidir o que fazer. "Vamos tomar juntos a melhor atitude possível. Não é possível que isso não tenha um fim. Tem de haver uma punição, senão muita gente pode achar que isso é normal, mas não é."
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