Paixão
Fãs não abandonam o Fantasma
O time do Operário não é o único a desbravar de ônibus as estradas do Brasil na Série D. A torcida de Ponta Grossa também acompanha o Fantasma aonde ele for. Já foi assim em Porto Alegre (12 horas de viagem), em Itápolis (8 horas) e ontem, em Joinville.
Mesmo que a equipe do interior paranaense tenha ficado 15 anos distante da Primeira Divisão estadual e 19 anos fora de qualquer competição nacional, os fãs não perdem a paixão pelo alvinegro. Vale até deixar a namorada sozinha para viajar atrás do Operário.
"É uma paixão loucamente emocionante. Não tem explicação. São oito anos de namoro, ela já entende, mas às vezes é difícil explicar", admite o advogado Mateus Lemos, de 27 anos, sobre a namorada Kellen, que ficou em Ponta Grossa nos três jogos do Fantasma fora de casa na Quarta Divisão.
Ontem, em Santa Catarina, dois ônibus lotados e mais alguns carros particulares chegaram à Arena Joinville com torcedores operarianos. O otimismo segue apesar da derrota. "Temos muito mais paixão pelo time do que os torcedores da capital têm pelas equipes deles", avisa o balconista Kleber Martins, de 28 anos, garantindo que a loucura pelo Operário não tem mesmo limite.
"Vamos lá. É time grande. Com alegria, vamos trabalhar!". Os gritos de incentivo do preparador físico do Operário de Ponta Grossa, Carlos Gamarra, no aquecimento dos jogadores, retratam a motivação das equipes para trabalhar em um dia de Série D.Muito mais no gogó e na raça do que na estrutura, é que 40 clubes brasileiros participam da Quarta Divisão nacional. Ontem, em Joinville, o Fantasma foi derrotado por 2 a 0 pelo time da casa, na quinta rodada da competição.
Menos mal que desta vez a cabeça inchada do revés teve efeito menor no retorno para casa. Os pouco mais de 200 quilômetros de deslocamento de ônibus nem se comparam às intermináveis 12 horas percorridas para enfrentar o São José, em Porto Alegre, e às 8 horas para pegar o Oeste, em Itápolis, no interior de São Paulo.
"O cara sai de barba feita e chega barbudo", brinca o técnico Pedro Caçapa, de 42 anos, ex-jogador que conhece os caminhos do futebol entre as equipes de menor porte no Brasil.
Sem nenhuma ajuda da CBF, quem está na "Quartona" precisa se virar para entrar em campo. Sem cota de televisão e com menos públicos e patrocínios do que nos Estaduais, os clubes sofrem até para não atrasar salários.
Realidade que não desanima os atletas. No Operário, a média salarial não passa de R$ 3 mil. A despesa mensal do clube não chega aos R$ 70 mil. Nada que tire a esperança de quem está usando o torneio como vitrine. "Se você faz gols na Série D, a repercussão é muito maior do que em campeonato do Mato Grosso, onde já joguei", avalia o centroavante Edenílson. "É um campeonato curto. Se você for mal um ou dois jogos, já fica desempregado rapidinho", diz o meia Danielzinho.
No estruturado vestiário da Arena Joinville, bem diferente do que os operarianos já viram na Série D, tinha espaço de sobra para o aquecimento físico e com bola. Houve a tradicional empolgação na reza antes do jogo e as orientações finais do técnico Caçapa.
Assim que a escalação adversária chegou, o treinador chamou os três mais experientes do grupo (o atacante Edenílson, o lateral-direito Cassiano e o zagueiro De Lazzari) para uma análise final. Roteiro que desta vez não deu resultado.
"Chamamos a Série D de a Cascudinha. Não tem muito espaço. Tem de dar aquela mordida linda na marcação", avisa o técnico. Sem morder com tanta força ontem, o Fantasma ainda tem esperança de passar de fase. "É o que queremos, para atrair mais público e patrocinadores", pede o diretor Dorli Michels.
Objetivo que o Joinville com gols de Paulinho Dias (logo aos 4 do 1.º tempo) e Marcelo Silva (24 do 2.º) já concretizou. As expulsões de Fabiano e Rílber impediram qualquer chance de reação. O que obriga o Operário a vencer o São José, domingo que vem, em Ponta Grossa, em mais um dia de Série D.