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Tempo fechado na capital paranaense. Domingo de chuva fina e vento frio. Um cenário desanimador. Um novo obstáculo. Acostumado a superar dificuldades, o telefonista Ezequiel Eli Pinheiro Rosa, de 35 anos, seguiu disputando com sua cadeira de rodas um espaço entre os carros até o Parque Barigüi.

Em meio ao verde desbotado pelos primeiros indícios de inverno, ele completou sua viagem de quatro dias entre Londrina e Curitiba. Usando o meio de transporte que o acompanha desde a infância, quando perdeu os movimentos da perna esquerda em decorrência da poliomielite, percorreu impressionantes 400 km.

"Os primeiros 95 km me mataram. Tem muita subida. O resto foi tranqüilo", contou.

A longa viagem em cadeira de rodas tinha como finalidade chamar a atenção. Ezequiel é paratleta. Maratonista, sonha disputar as Olimpíadas de 2008, em Pequim, nos 100 m, 200 m e 400 m pelo Brasil. Para isso, tem treinado cinco vezes por semana, três horas por dia e percorrendo entre 35 e 40 quilômetros por sessão. Esse esforço não é suficiente. Falta dinheiro.

"Deixei de correr várias provas no exterior por falta de recursos", revela o curitibano, que decidiu pela empreitada para ganhar notoriedade e tentar entrar no Livro dos Recordes – o que poderia lhe abrir as portas para patrocinadores.

Vice-campeão da São Silvestre em 1988 e com o currículo recheado, Ezequiel chegou a pensar em largar o esporte de competição. A família, de 11 irmãos, o incentivou a continuar.

"O cadeirante tem gastos muito maiores que o de outro atleta. Nosso material é caro", explicou. "E, apesar disso, os prêmios das provas nessa categoria são irrisórios perto do que ganham os andantes", reclamou.

Por mês, sem contar a troca dos três pneus que custam R$ 150 cada, ele gasta em torno de R$ 400 só com a cadeira. A esperança do paratleta é poder se dedicar aos treinos integralmente, com incentivo mensal fixo e verba para eventuais viagens.

Batalhador, encara com confiança mais esse capítulo de sua vida, que é uma grande lição. Morou com oito irmãos em um orfanato desde os dois anos, quando a mãe morreu.

O pai não tinha condições de sustentá-los. Naquele mesmo ano, sofreu paralisia infantil. Aos 14 anos, descobriu o basquete para cadeirantes no Clube Esportivo dos Deficientes. Nunca mais parou de se exercitar, nem mesmo quando a meningite, aos 18 anos, paralisou o lado direito de seu corpo. Ativo, recuperou parte dos movimentos. Hoje concilia o basquete como hobby e o atletismo como profissão. Em sua primeira maratona, em 1984, corria com cadeira de rodas de hospital.

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