Opinião
André Pugliesi, repórter.
Enfim, um verdadeiro camisa 10
Messi é manjado. Em janeiro, o sinistro argentino fatura a Bola de Ouro da Fifa e, com o prêmio de melhor jogador do mundo na prateleira de casa, segue apavorando ao longo do ano no sensacional Barcelona. Assim, a expectativa por aqui recai toda sobre Paulo Henrique Ganso.
Recuperado da contusão, o moleque do Santos também tem tudo para arrebentar em 2011, bote fé. Ele é craque old school (saca o apelido). Joga bola com elegância e discrição oposto a Neymar, também excelente, mas referência do futebol "enjoado", de dribles às vezes inúteis e marra absurda.
Se tudo der certo, e o Mano Menezes não inventar, teremos ainda, finalmente, um camisa 10 legítimo na seleção brasileira. É para matar de vez a saudade de Zico e Rivaldo e esquecer Ronaldinho Gaúcho e Kaká.
Os jogadores de futebol são acompanhados por centenas de adjetivos durante toda a carreira, mas atualmente ninguém recebe tantos como o argentino Lionel Messi. A lista de qualidades é imensa e, por incrível que pareça, não para de crescer, assim como a prateleira de troféus, sejam eles coletivos ou individuais.
E mais um pode estar a caminho. O prêmio de melhor jogador de futebol do mundo, que será entregue pela Fifa no dia 10 de janeiro, não é novidade para ele, que já faturou no ano passado e bateu na trave em 2007 e 2008.
A unificação com a Bola de Ouro, da revista France Football, deu ainda mais força ao prêmio. De forma inédita, o jogador chega disputando o troféu com dois companheiros de Barcelona: Iniesta e Xavi. Caso saia vitorioso, o argentino pode muito bem colocar na conta os passes precisos dos colegas.
Para começar o ano como melhor do planeta, Messi tem a seu favor as conquistas do Campeonato Espanhol e da Supercopa da Espanha, além da artilharia na Liga dos Campeões. Com dez anos de Barça, o que realmente pende para seu lado é o futebol vistoso e surpreendente, que transparece a sensação de que é fácil fazer o que ele faz. No entanto, ele garante que não é bem assim. Após nova exibição de gala, contra a Real Sociedad, no dia 12 de dezembro, não titubeou e mandou: "Parece fácil, mas não é".
Pode até ser difícil, mas o jogador continua em evolução, apesar dos 23 anos, e ainda tem muito a mostrar. A temporada europeia de 2010/2011 começou com o argentino iluminado, comandando mais um momento diferente do time catalão. "Parece que o Messi está sempre melhorando. Todo grande jogador tem uma fase de esplendor. Ele está nesta fase e acho que ainda vai durar mais tempo", acredita o comentarista e colunista da Gazeta do Povo, Tostão.
Os dois concorrentes têm os mesmos títulos e outro ainda mais importante: a Copa do Mundo. Os espanhóis levantaram a taça e foram fundamentais na campanha da Fúria, ainda mais Iniesta, que marcou o gol do título. Além disso, em ano de Mundial, quem sempre levou a melhor no prêmio da Fifa foi algum jogador da seleção campeã: Cannavaro (Itália, 2006), Ronaldo (Brasil, 2002), Zidane (França, 1998) e Romário (Brasil, 1994).
Apesar de considerar Messi o melhor, Tostão hesita em apontá-lo como favorito. "Como ele não brilhou na Copa, seria até razoável não vencer. Como é o melhor da temporada, não há nada de errado se derem para o Xavi ou Iniesta."
Ganso volta para "retomar" o meio de campo nacional
Camisa 10 é sinônimo de craque. O Brasil, no entanto, sente falta de um jogador que pode ser definido desta forma. Por aqui os argentinos Conca e Montillo tomaram conta da meia-cancha no Brasileiro. Como esperança nacional, há um armador clássico que pode acabar com o domínio estrangeiro: Ganso.
Depois de um arrasador início em 2010, com pedidos incessantes para que Dunga o convocasse para a seleção brasileira que disputaria a Copa do Mundo, o meia do Santos viu o ano acabar cedo, quando rompeu o ligamento cruzado do joelho esquerdo na partida contra o Grêmio, em agosto. Após a recuperação, tem tudo para dar a volta por cima e se tornar novamente o jogador a ser olhado e admirado pelos torcedores e pela crônica esportiva.
A qualidade técnica dele é praticamente unânime. O estilo clássico de Ganso impressiona, com bom posicionamento, visão de jogo apurada e inteligência fora do comum. É isso que o torna craque? O colunista da Gazeta do Povo, Aírton Cordeiro, acredita que sim. "O talento diferencia o craque do bom jogador. Ele tem virtudes que pouquíssimos têm. Primeiro é a inteligência e depois a agilidade." A torcida de Cordeiro é para a rápida reabilitação do meia.
O primeiro semestre do jogador foi inquestionável e muito disso se deve ao companheiro de time Neymar. Os dois formaram a dupla sensação em 2010 e o atacante santista não tem medo de afirmar que Ganso será o melhor do mundo nos próximos anos. Recentemente disse que seu companheiro é um gênio e que ainda vai ser melhor do que Zidane. A comparação pode parecer absurda, mas 2011 está a caminho para quem sabe provar o contrário.