Em 2008, Murilo Endres era mais lembrado como o irmão mais novo de Gustavo, o dono do meio de rede daquela seleção brasileira que ficou conhecida como Geração de Ouro. Um ano depois, alçado a titular, o caçula da família começou a construir a sua própria história tirando proveito da renovação efetuada por Bernardinho.
Foi a cobrança diária do treinador que o ajudou a se transformar no melhor jogador do mundo nesta temporada. Título que tinha visto seu ídolo, Giba, conquistar, mas que nem nos melhores sonhos poderia imaginar igualar. Hoje, bater os adversários não parece ser tarefa complicada para Murilo. Difícil mesmo é vencer a timidez, e se acostumar com os holofotes e o assédio que se voltam em sua direção.
Na cerimônia do Prêmio Brasil Olímpico, nesta segunda-feira, ficou evidente. A chegada ao Teatro do MAM, no Rio de Janeiro, foi discreta. O problema é que a altura denunciava a presença de um dos indicados ao troféu de Melhor do Ano, e os pedidos de fotos e entrevistas se multiplicavam. As mãos sofriam, os olhos procuravam o chão, já que não podiam encontrar apoio em Jaqueline, a esposa. Ela não o viu vencer a eleição por estar disputando o Mundial de Clubes, no Qatar.
"Foi um ano inesquecível. Nem em sonho eu imaginava isso. Ganhamos o nono título da Liga Mundial, passando a Itália, e igualamos o tri no Mundial daquele time maravilhoso deles. Para mim ser o melhor jogador do mundo é estranho, não estou acostumado. Tenho que aprender a lidar com isso. Sempre me espelhei no Giovane, no Giba e no Nalbert e eles sempre tiveram esse foco em cima deles. E é difícil assumir esse posto e se acostumar a ser ídolo. Ser exemplo assusta. Tudo isso é muito novo para mim. Senti falta da esposa para segurar a mão nessa cerimônia. A sensação foi como na primeira final que disputei com a seleção e fiquei nervoso. Me senti um peixe fora d'água", sorri.
A simplicidade marca a personalidade de Murilo. É visível até mesmo na maneira de se vestir. A ausência de gravata e terno mereceu um puxão de orelhas de Giba. O terno só era usado nos tempos em que jogava na Itália porque era obrigatório. O único que tem no guarda-roupa ficou em sua casa, no Sul. Na de São Paulo não há espaço para nenhum. Lugar de sobra só para agradecimentos aos companheiros de equipe, com quem prefere dividir o protagonismo. Diz que, se pudesse, daria um pedacinho do troféu que tinha acabado de receber para cada um deles. Bernardinho e Giba certamente receberiam os maiores. O treinador já cansou de declarar que Murilo é um jogador completo. O experiente capitão da seleção não se furtou em dar orientações ao pé de seu ouvido toda vez que um tempo era pedido.
"Bernardo é um cara humilde, melhor técnico do mundo, maior vencedor que deixa muita coisa de lado para estar lá com a gente. É o primeiro a chegar ao treino, sempre preocupado para que o grupo tenha tudo o que é necessário. Ele me ajudou muito a implantar na minha cabeça que eu precisava trabalhar mais pelo meu potencial físico. Espero que continue me instigando cada vez mais para tirar o melhor de mim. Já o Giba, desde quando eu não era titular ele conversa muito comigo. Me espelhei no estilo dele de jogar. Pelo fato de estar fora de quadra, dentro dela eu acaba sendo a voz dele. Sei a importância que tem no meu crescimento e também a que continua tendo para a seleção. Sabemos que podemos contar com ele e que não está velho e nem precisa se aposentar".
O casamento também teve uma boa parcela de participação no ano dourado. Após 10 anos de namoro, ele e Jaqueline voltaram para o Brasil e oficializaram a união em outubro de 2009. Feliz na vida pessoal, o reflexo também tem vindo dentro de quadra para os dois. E espera que siga assim por muito tempo.
"No ano que vem nosso objetivo é a classificação para as Olimpíadas de Londres para dar tranquilidade ao nosso trabalho. Vai ser só em novembro, na Copa do Mundo. E antes disso vamos ter Liga Mundial, Pan e Sul-Americano. Será um ano puxado, mas estamos em boas mãos. Quero ir aos Jogos de 2012 e continuar d depois. Até lá acho que vou me acostumar a ser ídolo", brinca.
O discurso de Murilo está alinhado com o de Bernardinho, que pela quinta vez subiu ao palco para receber o prêmio de melhor treinador. O desafio traçado para 2011 é a vaga olímpica, mas ele sabe que as cobranças por triunfos serão ainda maiores.
"Este ano foi de grande pressão e grandes conquistas. A mudança era necessária e as peças foram se encaixando. Se vai ser ou não uma geração vitoriosa como a outra, isso só o tempo vai dizer. E as pessoas vão esperar mais vitórias. Mas é isso que traz motivação de nos fazer focar sempre na próxima competição", disse Bernardinho, dividindo seu prêmio com o grupo.
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