Foram duas horas de bate bola e muita conversa. A cada par de pontos, um intervalo para conversar e orientar cada uma das meninas que esteve do outro lado de quadra. Fernando Meligeni saiu de quadra contente, cheio de elogios às jovens atletas que fizeram parte da clínica no Lagoa Iate Clube (LIC), em Florianópolis, nesta terça-feira (24).
"Eu fiquei impressionado com a atitude das meninas. Eu tinha preocupação com o nível delas, e fiquei impressionado. Logicamente, jogar comigo é um incentivo, elas gostam, mas estavam todas focadas, querendo escutar. De repente, um pouco tímidas para perguntar, mas quando você se coloca no lugar delas, entende que o tênis feminino está muito machucado. Acho que as pessoas não imaginam o quanto."
Em bate-papo após a clínica, o campeão pan-americano de 2003 e ex-número 25 do mundo lamentou o atual estado do tênis feminino brasileiro e reforçou a importância de eventos como a Semana Guga Kuerten, que aproxima jovens atletas de nomes importantes do esporte no país, como os próprios Guga e Meligeni, além de Larri Passos, ex-treinador do tricampeão de Roland Garros.
Machucado como?
Por que, de repente, não sai jogador da Bolívia? Porque o próprio jogador pensa que não vai sair nunca. Então, a credibilidade, o "acreditar" da menina não existe. É isto que está acontecendo com o tênis feminino (brasileiro). Então, é tratar mais com carinho. Ser duro, mas com carinho. Endurecer sem perder a ternura. É parar com aquela coisa de gritar e parar, explicar, conversar. É mais ou menos o que eu tento. Não vou fazer diferença tecnicamente em uma clínica de uma hora com as meninas, mas quero que elas vejam que é possível chegar a ser boa jogadora.
Qual a maior importância de uma clínica e de um evento como esses? Elas (meninas) são o espelho do técnico. Se o técnico chegar e disser que não vale a pena fazer a clínica, elas vão acreditar porque têm 14 anos. Se o técnico entender que é uma experiência legal, que vale a pena, então nossa importância é muito grande. É mais uma informação (para os jogadores) e, muitas vezes, batendo da mesma maneira que o técnico fala diariamente. Tudo que eu falei aqui eles escutam todo dia, só que é um reforço no trabalho. Infelizmente, muitos técnicos não veem assim.
Por quê? É ego dos treinadores?
Por uma questão de ego, acham que a clínica não serve para nada. Mas não é a clínica, é a convivência. A convivência com o Larri (Passos) durante uma hora te motiva. Você não vai jogar melhor depois de uma hora com o Larri, o Jaime (Oncins) ou o Meligeni. Não existe isso. É a convivência. O moleque vê dentro da quadra. Lógico que a palestra ajuda, tudo ajuda. Uma dúvida que eu tiro de um pai aqui, show. Mas é isso que a gente tenta passar. O Guga vem todo dia aqui, fala com os moleques. E os moleques ficam pensando "quero ser o Guga". É isso que vale. É o alimento do sonho.
Isso acende alguma faísca para voltar a fazer a Copa Fino, que era algo bem parecido com o que é feito aqui?
Meus ideais sobre o campeonato (Copa Fino) eram muito grandes. Só que as pessoas têm que abraçar a causa. Por isso que hoje eu tenho as minhas dúvidas. Agora teria que pleitear diferente, fazer diferente. Eu me sinto sozinho. Senti que eu estava fazendo o campeonato sozinho. Ah, mas todos os campeonatos são feitos assim? Tudo bem, mas não é a maneira que eu quero trabalhar. Eu sou exigente, nada mais do que isso.
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