Personagem
Estrela, Cielo compete hoje
Ele aparece em todas as listas mexicana quando o tema é "atletas para se ver no Pan". Cesar Cielo leva hoje para a piscina a pecha de grande atração. A partir das 14 h (de Brasília), o campeão olímpico cai na água na sua primeira disputa: os 100 metros livre. Ontem, ele teve uma leve indisposição (possivelmente por causa da altitude), mas está confirmado em ação.
O assédio sobre o atleta tem sido tamanho que, desde que chegou a Guadalajara, há cinco dias, não falou, por recomendação do técnico Alberto Silva. "Agora é foco na competição", declarou o treinador, que "blindou" não só Cielo, mas todo o time brasileiro da natação.
Ele chega em situação bastante diferente do Pan do Rio, em 2007, quando era um desconhecido. Ganhou três ouros e uma prata, ofuscados pelos seis ouros de Thiago Pereira. Nem mesmo a crise com o positivo para uso de furosemida em um exame antidoping, em maio, arranhou sua imagem. O nadador foi apenas advertido.
O ouro nos 50 m livre, o bronze nos 100 m na Olimpíada de Pequim, os quatro títulos mundiais, os recordes nas duas distâncias e a ausência de Michael Phelps tornaram o currículo do atleta em um dos mais estrelados em Guadalajara. Cielo disputará, os 50 e 100 m livre e os revezamentos 4x100 m livre e medley. (AB)
Guadalajara - Obras entregues às vésperas da competição, valores investidos maiores do que os previstos, falta de transparência... A organização do Pan de Guadalajara, com início ontem, parece ter seguido a cartilha da edição anterior, em 2007, no Rio.
Mas, em comparação ao evento carioca, os mexicanos foram, ao menos, mais econômicos sobretudo em relação ao uso do dinheiro público.
Na conta total, que inclui toda a infraestrutura das praças de eventos, adaptações de trânsito, os jogos no Brasil saíram por R$ 3,6 bilhões nove vezes mais que o previsto. O evento na "Pérola do Oeste", como é conhecida a cidade mexicana, gira em torno de R$ 1,3 bilhão. Porém um dos primeiros orçamentos era de R$ 438,4 milhões (três vezes menos).
O detalhe é que para cada milhão de dólares aplicado pelo governo local, três vezes mais foram injetados por empresas sem participação do estado. Mais de 30 companhias aportaram verba na competição. A participação privada na edição brasileira foi pífia.
Quem comanda essa conta é o Estádio Omnilife, que recebeu a cerimônia de abertura e terá os jogos de futebol. A praça esportiva, na região metropolitana da cidade-sede, foi bancada exclusivamente por um milionário mexicano dono de uma empresa de nutrição à base de produtos naturais e do clube Chivas. A edificação, para 49 mil pessoas, saiu pelo preço de R$ 255,9 milhões.
Cobrado pelos mexicanos, na quinta-feira, o governador do estado de Jalisco e presidente do Copag, o comitê local, Emilio González Márquez, garantiu que apresentará um relatório detalhado de todos os gastos para o evento.
Em Guadalajara, o problema maior até o momento são os atrasos. O estádio do atletismo ficou pronto apenas quinta-feira, véspera da abertura dos Jogos. Inicialmente, teria 15 mil lugares. Ficou com 8,5 mil.
A Vila Pan-Americana, que a princípio seria no centro da cidade, foi motivo de uma briga judicial que atrasou os trabalhos. A praça foi inaugurada apenas no início deste mês. A mesma sorte não teve as obras viárias em torno do Estádio Omnilife, sem o total do projeto no entorno executado.
Ainda a seu favor, os mexicanos têm dois pontos sobre o Rio, afirma o diretor de operações do Pan de Guadalajara, Ivan Sisniega: "A venda de ingressos vai de vento em popa. No caso do futebol, já vendemos tudo para as finais e semifinais, o que não aconteceu no Rio. A ocupação nos hotéis é a mais alta da nossa história. Supera em quatro vezes a do Brasil", atesta.
Estima-se que 800 mil turistas visitarão a cidade, conhecida no Brasil basicamente por abrigar a seleção nacional durante as fases preliminares das Copas de 70 e 86, durante o evento pan-americano.
Guadalajara "blindada" contra o narcotráfico
"Não é fácil se acostumar. Mas acho que estão fazendo isso por prevenção", diz o taxista Mário Guarín, 47 anos, que há um trabalha nas ruas de Guadalajara. Ele se refere à grande quantidade de policiais que circulam em caminhonetes e a pé pela capital de Jalisco. A cidade recebeu uma verdadeira operação de guerra para sediar os Jogos Pan-Americanos.
Ao todo, foram colocados em ação 11 mil policiais, divididos entre Guadalajara e as cinco sub-sedes do evento Puerto Vallarta, Ciudad Guzmán, Tapalpa, Lagos de Moreno e Chapala. São 650 câmeras de vídeo instaladas nos locais e nos arredores de todos os locais de prova e também na Vila Pan-Americana.
No centro de imprensa e nos hotéis em que há dirigentes hospedados, a entrada é regulada por conferência rigorosa do credenciamento e revista, com direito a equipamento de raio X. Para estas funções, geralmente relegadas a voluntários, foram escalados policiais.
Há ainda vigilâcia do espaço aéreo com aviões e helicópteros. Tudo para evitar uma revanche dos cartéis do narcotráfico durante os 16 dias em que a cidade receberá seis mil atletas para o maior evento esportivo das Américas.
Em fevereiro, Guadalajara foi aterrorizada por pistoleiros que, desfilando armados pelas ruas, queimando veículos, bloqueando ruas, buscavam traficantes rivais.
O município é, desde a década de 80, um dos principais cartéis de traficantes de droga, especialmente cocaína. Segundo um estudo da secretaria de Segurança Pública do México, esses cartéis praticam pelos menos outras 25 atividades criminosas, como sequestros, tráfico de armas, contrabando e extorsão.
Desde 2006, o presidente do país, Felipe Calderón, defende tolerância zero aos cartéis. Estes, reagem. Como o estado de Jalisco responde a 7% do PIB mexicano, há uma pressão da população para que se resolva o problema. Os traficantes, por outro lado, revidam com violência.
Em setembro, a agência de inteligência norte-americana Stratfor publicou uma análise sobre os riscos de ataques durante os Jogos. Além de recomendar o reforço do esquema policial, fez indicações aos turistas semelhantes aos Jogos no Rio de Janeiro, em 2007.
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