Os clubes brasileiros que tanto reclamam da falta de dinheiro podem estar ganhando um padrinho bondoso nos próximos 15 dias: a instabilidade do mercado financeiro. Com a alta do dólar (após três meses, a moeda americana superou a faixa de R$ 2, fechando ontem a R$ 2,031), vender um jogador para o futebol do exterior nas duas últimas semanas do mercado europeu pode se tornar um empreendimento altamente vantajoso.
Exemplo disso foi a venda de Alexandre Pato, do Internacional para o Milan (a maior transação do futebol brasileiro na temporada, até o momento). A negociação do atacante, concretizada no dia 2 de agosto, rendeu aos cofres do clube gaúcho aproximadamente US$ 20 milhões, o equivalente a R$ 39 milhões. Se a transação fosse realizada ontem, com o real desvalorizado, o Colorado receberia R$ 40, 6 milhões.
"A negociação surgiu e nós tivemos que aceitar. Eles [Milan] poderiam desistir", ponderou o presidente do Internacional, Vitório Píffero.
Para ele, é incostentável que a variação na cotação da moeda americana aumenta o lucro dos clubes brasileiros em transferências internacionais. Mas isso não deve resultar em uma procura maior dos europeus pelo pé-de-obra nacional.
"É vantajoso para os clubes brasileiros. Mas para os europeus não há diferença. Eles pagam em euro ou dólar, o interesse deles por nossos jogadores não aumenta, nem diminui", explica.
A indecisão entre pegar ou largar uma proposta "irrecusável" também prejudicou o Coritiba. Em 2005, o clube vendeu o lateral-direito Rafinha ao Schalke 04, por 5 milhões de euros, pagos em três prestações.
"Na primeira prestação o euro estava R$ 3,05, na segunda R$ 2,87. Daí perdemos alguns centavos de euro que no fim deram quase R$ 300 mil de prejuízo", contabilizou o presidente do clube, Giovani Gionédis. "Lá fora a moeda é constante, mas o real não é."
O Atlético, por sua vez, deve sair no lucro com a inconstância monetária. O clube ainda deve esperar mais oito dias para receber o valor referente à transferência do goleiro Guilherme para o Locomotiv Moscou, da Rússia, por aproximadamente US$ 4,4 milhões valor não confirmado pelo Rubro-Negro.
Na segunda-feira, quando o negócio foi oficializado, esta quantia correspondia a R$ 8,5 milhões. Ontem, já era equivalente a R$ 8,9 milhões. Dependendo do mercado, até o dinheiro chegar Guilherme pode valer mais de R$ 9 milhões.
"Quando fechamos o negócio não sabíamos da oscilação da moeda. O câmbio às vezes nos surpreende", avaliou o presidente do Conselho Gestor, João Augusto Fleury.
Para ele, a maioria dos clubes brasileiros não tem know-how para acompanhar as mudanças do mercado. "Os europeus sabem quando podem e quando não podem negociar e nós temos que arriscar", afirma.
No Paraná, o risco garante a sobrevivência. "Não podemos ficar escolhendo o momento ideal do mercado financeiro para negociar um atleta. Se a proposta for boa, nós negociamos", avalia o presidente paranista José Carlos de Miranda. O dirigente considera necessário uma certa coragem para negociar. "Futebol é loteria, por isso é difícil de acertar sempre", completou.
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