Há exatamente um ano, o zagueiro Serginho, do São Caetano, morreu após se sentir mal dentro de campo, no jogo contra o São Paulo, pelo Campeonato Brasileiro, numa tragédia que sacudiu o futebol nacional. O jogador sofria de arritmia cardíaca e um processo judicial discute a responsabilidade do então presidente do clube, Nairo Ferreira, e o médico Paulo Forte no caso.
Os dois foram condenados pela Justiça Desportiva em dezembro do ano passado - Nairo Ferreira foi afastado do futebol por dois anos e Paulo Forte, por quatro. Atualmente, corre na Justiça Comum um processo contra ambos, denunciados por homicídio doloso pelo promotor paulista Rogério Leão Zagallo. Existe a suspeita de que os dirigentes sabiam, desde o início de 2004, quando Serginho fizera exames no Instituto do Coração, em São Paulo, que o zagueiro correria risco de morrer caso não abandonasse o futebol.
Há uma semana, as testemunhas de acusação foram ouvidas em audiência na 5ª Vara do Tribunal do Júri, no Fórum da Barra Funda. Se condenados, Nairo Ferreira e Paulo Forte podem pegar até 30 anos de prisão. Ainda não há previsão para sentença.
- Se o processo terminasse hoje, a condenação seria irrefutável, pelas provas já apresentadas. Mas é claro que todo processo pressupõe a ampla defesa e, se as provas apresentadas pela defesa mostrarem a inocência dos réus, eu mesmo como promotor de Justiça posso postular a absolvição deles. No entanto, pelas provas que temos até agora, essa inocência está longe de ser postulada, pelo menos por hora - afirmou Rogério Leão Zagallo ao programa 'Dossiê Sportv'.
Jogadores cardiopatas abandonaram o futebol
Já o advogado de Paulo Forte acredita que conseguirá refutar qualquer alegação de responsabilidade dos acusados.
- Estou convencido de que o doutor Paulo Forte não foi informado de nenhum impedimento para que Serginho continuasse atuando. Nem o doutor Paulo e tampouco o doutor Nairo Ferreira ou qualquer outra pessoa no clube - disse ele.
A morte de Serginho causou uma mudança de atitude dos clubes em relação à saúde dos atletas. Exames mais completos passaram a ser feitos e jogadores foram orientados a encerrar a carreira devido a problemas cardíacos, casos de Bebeto Campos, do Paysando, e Emerson, do Grêmio, ambos no fim de 2004, e Fabrício Carvalho, do próprio São Caetano, em fevereiro deste ano.
Bebeto Campos aceitou com resignação sua aposentadoria precoce no futebol e acredita que esses exames preliminares mais apurados podem ter mudado seu destino e o dos colegas.
- Pelo que os médicos falaram comigo, acho que isso salvou minha vida - disse ele ao 'Globo Esporte'.
Mas nem todos os jogadores que descobrem ser portadores de alguma cardiopatia são obrigados a largar os gramados. Este ano, durante os exames de pré-temporada do Vasco, o meia Ygor descobriu uma leve arritmia cardíaca. Mas um cateterismo realizado uma semana depois permitiu que o atleta voltasse aos campos em menos de um mês.
Azulão perdeu força após a tragédia
O atacante Grafite, do São Paulo, o jogador que estava mais perto de Serginho no momento em que este caiu em campo no jogo fatídico, confirma a mudança de comportamento dos departamentos médicos dos clubes.
- Desde a morte do Serginho eu já fiz três exames no São Paulo, hoje em dia é assim. Já teve clube em que eu cheguei, o médico olhou meu tornozelo, meu joelho e me liberou para jogar. Isso agora mudou - disse ele.
Para o São Caetano, a perda de Serginho foi sentida também dentro de campo. Logo após a tragédia, o clube perdeu 24 pontos no Campeonato Brasileiro, acusado de ter negligenciado resultados de exames médicos na inscrição do jogador. Ainda assim, sua boa campanha evitou um rebaixamento. Um ano depois, o clube ainda não conseguiu se reencontrar. O time sensação do início da década passou todo o Brasileiro no meio da tabela e agora, na reta final, luta para evitar o rebaixamento, com 41 pontos e na 15ª posição.
- Esse ano foi difícil, ainda mais com a falta do Serginho. As pessoas perguntam o que aconteceu com aquele São Caetano guerreiro. A verdade é que a gente não conseguiu se acertar e o time está numa posição intermediária, lutando contra o rebaixamento - admite o presidente em exercício do clube, Luiz de Paula.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura