Durante quase cinco horas de depoimento nesta terça-feira no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-PR), o presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF) atacou um adversário para defender quem o apóia.

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Onaireves Moura trouxe à tona – durante o segundo inquérito que investiga corrupção na arbitragem local – uma nova versão para explicar a existência e atuação do "Bruxo" (o operador do chamado "mensalão no apito"). Uma interpretação que inocentaria Johelson Pissaia, seu diretor administrativo e braço-direito.

De acordo com o cartola, no período entre 2003 e meados de 2004, era o ex-juiz Amoreti Carlos da Cruzquem organizava e comandava o esquema fraudulento. Uma manobra construída à base do tráfico de influências e extorsão.

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Moura denunciou que Cruz sabia da escala antes mesmo do sorteio – em conluio com Fernando Luiz Homan, chefe da comissão de arbitragem na época. Com a informação privilegiada em mãos, ligava para os clubes e oferecia o pacote para manipular resultados.

"Nunca nos chegou a informação que árbitros tinham conhecimento disso. Mas a prática vinha ocorrendo em jogos do amador em Curitiba e alguns do profissional do ano passado", acusa o homem-forte do futebol regional, no banco dos réus e amparado por uma pilha de documentos.

Moura ainda garantiu ter tomando conhecimento da manobra com ela em andamento. A gota d'água teria sido a final do Estadual de 2004: Atletiba, na Arena, sob a mediação de Marcos Tadeu Mafra – um dos apitadores eliminados na semana passada pelo TJD.

"A escala vazou e as equipes ficaram sabendo. Isto criou uma revolta para os dirigentes tanto de Atlético quanto Coritiba. Chamei o Homan na minha sala e exigi que não houvesse uma irregularidade sequer durante a final. Na segunda-feira, voltei a chamá-lo para questionar sua escolha. Ele me justificou, mas preferi agradecê-lo pelos trabalhos prestados à FPF (leia-se demissão)", relata.

No roteiro de Onaireves a fraude poderia sim ter continuado, mesmo após a saída da suposta "fonte" de Amoreti. "Ele adquiriu credibilidade para negociar com os clubes", avalia – para em seguida revelar qual seria o segundo passo do seu suspeito.

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"Desfeito o conhecimento da escala prévia, ele tratou de fundar um sindicato com a finalidade de assumir o controle dos árbitros. Tentou assim, em agosto, uma fusão com a associação, em acordo com Francisco Carlos Vieira (árbitro e então presidente da entidade de classe). Conseguimos evitar a manobra, pois o Johelson ligou para uma série de árbitros no interior para informá-los da história."

Explicado como era arquitetado o possível estelionato, Moura começou então a reforçar o discurso de denúncias e críticas.

Disse que haveria ainda mais dois bruxos à solta: um no interior e outro na capital. "Não tenho indícios suficiente, por isso só vou revelar os nomes à Promotoria de Investigação Criminal (PIC)", garante. Na seqüência cutucou o TJD. "Estavam chegando provas, mas como o tribunal decidiu punir quem denunciava, parou tudo. Poderiam criar uma delação premiada, incentivando a revelação dos fatos."

Com relação ao árbitro José Francisco de Oliveira – que o acusou de fechar acordo financeiro para beneficiar o Operário em 2000, durante jogo contra o Prudentópolis (1 a 1) – veio o contragolpe.

Cidão garante ter em mãos um cheque de R$ 5 mil que comprova o acerto entre a cúpula da FPF e o time de Ponta Grossa. "Se existe mesmo, acho que foi algo que ele negociou, sem a minha participação. Isto explica o porquê de um dirigente do Operário ter tentado invadir o vestiário dele ao término do jogo para tirar satisfações, conforme nos foi passado pela representante daquele confronto", esquiva-se.

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Nesta quinta, o TJD aguarda o depoimento de Antônio Mikulis, ex-presidente do Operário.