Dentro de campo
Problemas no joelho anteciparam aposentadoria do volante
Mozart foi cria do Paraná, mas firmou-se e virou ídolo no Coritiba, logo após uma passagem pelo Bordeaux, da França. Pintou no Alto da Glória em 1999, para ser campeão paranaense daquele ano. Destacava-se pelo poder de marcação e a cabeleira encaracolada, tão loira que era quase branca.
Ainda defendendo o Coxa, foi convocado para a seleção pré-olímpica e faturou uma vaga para a Olimpíada de Sydney (em 2000), ao lado de outro craque revelado pelo Alviverde, o meia Alex. "Foi um grande momento na minha carreira", relembra. Nos Jogos, o Brasil sofreu uma desclassificação vexatória para Camarões, nas quartas de final.
Em seguida, o volante foi parar no Flamengo e, da Gávea, pintou no Reggina, da Itália. "A experiência internacional foi fundamental para a minha vida e os meus negócios. Sei falar francês, italiano e entendo russo", diz.
Até que em 2010, aos 30 anos, por problemas no joelho esquerdo, decidiu abandonar o futebol. "No primeiro ano, bate um arrependimento. Depois, me acostumei", comenta.
De tudo que o marcou no mundo da bola, Mozart só não desfruta mais dos cachos. "Eles que me abandonaram, não foi uma decisão minha", explica, bem-humorado.
Técnico, professor de escolinha ou empresário de atleta. Pendurada as chuteiras, não tem erro, são por esses caminhos que os jogadores costumam seguir. Há quem se arrisque na administração dos imóveis amealhados ao longo da carreira ou de algum comércio, digamos, convencional. São poucos os que encaram a vida após a morte nos gramados distantes da bola.
É o caso de Mozart. Aposentado desde 2010, o ex-volante do Coritiba com passagens por Flamengo, Palmeiras e clubes da Europa, além da seleção brasileira adotou atualmente uma alcunha que seria impossível assumir enquanto era profissional. O curitibano tornou-se o "cachaceiro".
Em 2005, quando defendia o Reggina, da Itália, Mozart ouviu do empresário Fulgencio Torres uma proposta para investir na Porto Morretes. A oferta foi sedutora e o jogador topou sem pestanejar.
"Eu já morava em Morretes, pois minha esposa [Isabela] é da cidade. Além disso, a família dela sempre esteve envolvida com isso, tem mais de cem anos de tradição na produção de cachaça", relembra Mozart, próximo de completar 33 anos, pai de Manuela, 11 anos, e Luca, 4.
Mas se a entrada no ramo desceu macia, o desenrolar não foi tão fácil. "Não tinha muita experiência, mas me cerquei de pessoas competentes e sempre me preocupei em fazer tudo dentro da lei, com tributação etc", diz.
Passados sete anos, a Porto Morretes virou o principal negócio do ex-volante, dono de 62% das ações da empresa e empresário também em outros setores.
Premiada
Recentemente, a marca paranaense faturou três prêmios na 9.ª edição brasileira do Concurso Mundial de Bruxelas (CMB). Passou a ser exportada para o Canadá, Suíça, Estados Unidos e até na Casa Branca a turma já deu uma beiçada no "néctar" produzido nos engenhos do Litoral.
"Foi promovida uma degustação na Casa Branca, por iniciativa da Hillary Clinton [secretária do estado americano e esposa de Bill Clinton, ex-presidente do país]. Não sei se o presidente Barack Obama bebeu, mas nosso produto estava lá", comemora.
Embora já tenha incorporado alguns jargões do meio empresarial, como break-even-point (ponto de equilíbrio, na tradução para o português) o antigo camisa 5 ainda não manja tudo do suco da cana sabe apenas que ele não é água.
"Aprendi a degustar a cachaça, mas não sou especialista. Nunca fui de beber muito. Tomava a minha cervejinha quando era atleta, e continuo tomando. Mas ainda preciso aprender mais, sentir melhor o sabor, o aroma", confessa.
Quanto ao número máximo de talagadas, Mozart sugere três. É o suficiente para curtir uma boa bebida e não ultrapassar a fronteira entre a brisa maneira e a euforia delirante. "O ideal é beber em casa, para aproveitar. Mas sempre com moderação".