
Com o bronze, Adriana ataca: Fui humilhada
A boxeadora Adriana Araújo considera que a conquista do bronze é uma resposta a supostas críticas do presidente da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe), Mauro José da Silva. Após o combate, ela reclamou da desvalorização do esporte no país. E revelou que chegou a ser humilhada por Silva antes da Olimpíada.
"Ele disse que eu não tinha capacidade de me classificar [para os Jogos] e muito menos de conquistar uma medalha. Mas nunca dei ouvido. Para calar a boca dele, me classifiquei e conquistei o bronze", acusou a atleta.
O desentendimento de Adriana e dos outros quatro atletas baianos da seleção de boxe Everton Lopes, Robson Conceição, Érica Matos e Robenílson Conceição , que representam metade do grupo em Londres, vem do fato de preferirem treinar em Salvador, em vez de São Paulo, base da CBBoxe.
Na capital baiana, eles eram treinados por Luís Dorea, dono da Academia Champions, que teve no seu quadro de lutadores o pugilista campeão mundial Popó e que atualmente treina o campeão dos pesados do UFC, Júnior Cigano, e os lutadores de MMA Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro. "Esse rapaz caiu de paraquedas, entrou por indicação e está achando que é o dono do boxe. Os atletas sofreram muito nesses anos, não podiam se manifestar", reforçou Dorea.
O treinador disse que a postura do dirigente resultou na exclusão de Pedro Lima (ouro no Pan do Rio) da equipe. De acordo com Dorea, o presidente da confederação tem um problema pessoal com o pugilista. "Ele não tem nenhum respeito. Humilha e destrata os atletas", complementou.
Mauro José negou as acusações. "A Adriana está falando isso porque o Dorea não faz parte da seleção. Ela quer manter vivo o nome dele. Ela ganhou a medalha porque veio treinar em São Paulo", ressaltou. "O Dorea foi chamado para trabalhar em São Paulo, mas disse que não podia. A atleta está sendo usada por ele", afirmou.
A baiana Adriana Araújo, 30 anos, já havia entrado para a história olímpica do Brasil por ter sido a primeira brasileira a vencer um combate do boxe nos Jogos Olímpicos (a modalidade só estreou nesta edição). Mas não parou por aí.
Ontem, ela rompeu com o período de 44 anos de espera por uma nova medalha do país nos ringues. A última e até então única tinha sido com Servílio de Oliveira (peso mosca, até 51 kg), em 1968, no México.
Mesmo não se classificando à final da categoria leve (até 60 kg), por ter perdido para a russa Sofya Ochigava por 17 a 11 na semifinal, calhou de Adriana ter mais uma vez seu nome marcado na competição. O bronze que a lutadora havia garantido segunda-feira na luta das quartas de final no boxe não há decisão de terceiro lugar foi a centésima medalha do Brasil em Jogos Olímpicos.
"É uma medalha histórica para o Brasil e para toda a América Latina. Ela abrirá caminho de muitas meninas para que pratiquem o esporte", confia Adriana, que em 2005 largou o futebol para se dedicar aos combates nos ringues.
A marca de cem medalhas representa um salto de conquistas do esporte brasileiro nos últimos 20 anos. Em Barcelona-1992, o país somava 39 medalhas ao longo de todas as participações até então. De lá para cá, o Brasil conquistou 62 pódios em cinco disputas, contando Londres-2012, que ainda não terminou.
A expectativa do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) é de que a delegação nacional feche a participação na capital britânica com o mesmo número de premiações de Pequim-2008, quando o Brasil conquistou 15 medalhas.
Até ontem, os atletas brasileiros haviam conquistado dez medalhas: duas de ouro, uma de prata e sete de bronze.
Sobre a derrota na semifinal, Adriana reconheceu a superioridade da russa no combate. Mas não deixou de questionar algumas marcações dos juízes.
"Técnica e taticamente estava tudo dentro do que treinamos. Mas a Sofya não é uma atleta que está chegando agora. É atleta experiente, uma campeã mundial. Para mim foi bem, mas a gente não depende apenas da gente no ringue, depende também dos juízes", criticou, ao fim da luta.
Além das marcas que alcançou, Adriana está feliz pela expectativa de que, com a sua conquista, rompa-se o preconceito contra o boxe feminino no Brasil. E espera que, junto com os bronzes dos irmãos Yamaguchi e Esquiva Falcão, que ainda lutarão as semifinais das categorias meio-pesado (até 81 kg) e médio (até 75 kg) e poderão transformá-las em prata ou ouro, a modalidade ganhe mais incentivo (leia mais nesta página).
"Com certeza, a partir de agora haverá ainda mais apoio e investimento nas novas atletas. O brasileiro tem aptidão para o boxe e vamos brigar por mais medalhas nos Jogos do Rio em 2016 em várias outras categorias", confia.
Após o confronto, a baiana aproveitou para anunciar que a Olimpíada de Londres foi sua despedida do boxe amador. Quando retornar ao Brasil, Adriana pretende se profissionalizar.
"Sinto dizer que esta foi a minha última luta amadora. Estou feliz com o que consegui, mas não vou estar no Rio em 2016 porque vou para o profissionalismo", declarou.

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