Por pouco um conflito de datas não compromete a participação da natação brasileira na Olimpíada de Londres, em 2012. Em julho, com diferença de três dias e 18 mil quilômetros, serão disputadas as provas de natação do Mundial Militar, no Rio de Janeiro, e do Mundial de Xangai, na China. Como o tempo seria muito pequeno para uma longa viagem, havia o risco de a equipe de nadadores se dividir.
Por ser no Brasil, os Jogos Mundiais Militares fizeram o Exército investir pesado no esporte desde 2009. O órgão selecionou cerca de 40 nadadores de elite, transformou-os em sargentos e, desde então, paga R$ 2 mil mensais a cada um e realiza treinamentos ao menos dez vezes ao ano. Em 2010, de forma inédita, o Brasil foi o campeão da modalidade no torneio das Forças Armadas, na Alemanha. Já o campeonato na China este ano é simplesmente a seletiva para os Jogos Olímpicos, a competição mais importante do globo.
Mas, depois de um ano de discussões, o Exército e a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) parecem ter chegado a um acordo. A prioridade será dada ao Mundial de Xangai, no qual as provas de natação ocorrem de 24 a 31 de julho. Ou seja, na teoria, quem obtiver índice irá à China; o restante disputará a competição militar, de 17 a 21 de julho.
"A gente já está conversado. Tivemos reunião do conselho técnico nacional sobre isso. A prioridade está sendo dada para Xangai, pois é eliminatória para os Jogos Olímpicos. Os militares já estão alinhados com isso", afirmou o diretor técnico de natação da CBDA, Ricardo de Moura.
A definição de quem vai e quem fica ocorrerá entre 21 e 24 de abril, no Rio de Janeiro, na eliminatória para o Mundial na China. Dois nadadores em cada estilo deverão fazer parte da equipe brasileira. Mesmo assim, o chefe do time do Exército não perde a esperança de contar com os melhores também para sua competição.
"Temos de responder duas perguntas: o que é melhor para o atleta? E o que é melhor para o país? O que não podemos é ter uma equipe mais ou menos aqui e outra lá", afirma o major André Siqueira. "Antes de tudo, temos de esperar para saber quais serão os índices e quem conseguirá atingi-los. Depois disso, vamos ver com o atleta o que ele quer fazer. A decisão será dele. E muitos manifestaram o interesse de disputar o Mundial Militar."
O major sustenta que, mesmo com a diferença de apenas 3 dias entre uma competição e outra, a viagem de 30 horas até a China e ainda um fuso horário de 11 horas, seria possível disputar os dois campeonatos sem danos no desempenho de alguns atletas.
Sendo assim, se a opção for deixar o aspecto físico de lado, boa parte dos classificados à Xangai terão, antes, de nadar no Rio de Janeiro. Fabíola Molina, por exemplo, afirmou que disputará as duas competições. Kaio Márcio, recordista Mundial dos 200 m borboleta em piscinas de 25 metros, pediu baixa e se desligou do Exército em dezembro para se concentrar apenas no classificatório para Londres. Já o curitibano Henrique Rodrigues deverá competir nas duas.
"Ano passado, em agosto, aconteceu algo parecido. Disputamos o Pan-Pacífico nos Estados Unidos e logo depois viajamos para a Alemanha. Para mim não mudou nada. Fiquei em quinto no Pan e no Mundial Militar bati o recorde", contou o curitibano, que não vê muitas diferenças na atual situação. "Se deixarem [disputar as duas competições], acho que sim. Tenho muita vontade."
A CBDA tentará evitar esta possibilidade. "Quem for ao Mundial na China, em princípio, não deverá ir ao Mundial Militar", diz Ricardo de Moura.
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