Foz carrega otimismo para final no Bom Jesus da Lapa
Fabiula Wurmeister, da sucursal
Líder durante quase todo o campeonato, o Foz do Iguaçu precisa apenas de um empate, fora de casa, contra o Roma para voltar à elite do futebol do Paraná.
Jogar como visitante na decisão não assusta o capitão Joel. "A força da torcida é lógico que sempre ajuda, mas se formos para cima do adversário e desequilibrarmos a partida, a torcida contrária acaba jogando a nosso favor. Isso me deixa ainda mais motivado", garante.
Segundo o técnico Carlos Nunes, o público tímido durante todo o campeonato prejudicou o time da fronteira. "Tenho certeza que isso vai mudar assim que o Foz voltar à Primeira Divisão." A partida em Apucarana será disputada no Estádio Bom Jesus da Lapa, a partir das 15h15.
Para o treinador e os jogadores, o clima para a partida que vale "tudo ou nada" é de expectativa, muita confiança. Dizem que é hora de colocar em campo o que de melhor aprenderam no ano.
"Poderíamos estar numa condição melhor, com pelo menos três pontos de vantagem, o que nos garantiria a classificação. Mas, diante do equilíbrio entre os times que chegaram à final, estamos bem. Principalmente porque se vencermos seremos os campeões e, se empatarmos, também conquistamos a vaga", avaliou Nunes.
Em caso de derrota, para se classificar o Azulão da fronteira depende do resultado do outro jogo da última rodada e terá de torcer pela vitória do São José sobre o Arapongas, que joga em casa, no Estádio dos Pássaros.
Roma
Se subir, até o nome mudaria
"Tem de torcer. É o time que tem", resigna-se o torcedor Dirley Chicomatte, dono de uma borracharia nos arredores do Estádio Bom Jesus da Lapa, ao ser questionado sobre a torcida para o Roma, time da cidade que pode voltar hoje à elite do Paranaense após três temporadas na Segundona.
O receio do borracheiro é o mesmo que boa parte dos torcedores de Apucarana demonstra há dez anos. Período no qual a franquia Roma, originalmente locada em Barueri (SP), está no Norte do Paraná. Alguns não escondem que torceriam bem mais se o antigo Apucarana Atlético Clube voltasse a representar o município.
"Claro que prefiro o nome da cidade. Roma é só o da Itália", lamenta o caminhoneiro Carlos Lopes, cliente da borracharia do Dirley, mas que nem por não considerar o nome da equipe o ideal, deixa de ser presença assídua nas arquibancadas. "Domingo [hoje] estarei lá com certeza", garante, referindo-se ao duelo com o Foz do Iguaçu.
Se o acesso for garantido, Sergio Kowalski, presidente do Roma, promete pensar na troca de nome. "É algo que teremos de discutir internamente. Quem sabe com mais apoio da cidade", afirma, nas entrelinhas cobrando uma ajuda maior da prefeitura. "Acho complicado essa mudança. O Roma já tem um nome respeitado no estado", opina o supervisor Ítalo Vasconcellos.
Com identidade nova ou velha, o que Apucarana quer é o time local enfrentando os grandes.
Na sede do Arapongas Esporte Clube, o presidente Adir Leme assina um cheque atrás do outro, separa dinheiro vivo para o acerto de pequenas contas e sai às pressas para pegar o horário de banco ainda aberto. Na tarde de sexta-feira, a movimentação do dirigente era para deixar tudo em ordem antes da rodada decisiva da Segunda Divisão, hoje.Sem atrasos de salários ou nenhum outro pagamento, o Arapongas depende apenas de si, frente ao eliminado São José, às 15h15, no Estádio dos Pássaros, para voltar à elite estadual após 19 anos. Também com estrutura considerada boa para a Segundona, o vice-líder Roma e o ponteiro Foz do Iguaçu fazem confronto direto no mesmo horário, em Apucarana.
Só uma das três equipes vai terminar o domingo lamentando seguir fora da Primeira Divisão paranaense. Pelo que se viu durante a competição, são só as três mesmo que possuem condição para subir à elite.
Nos demais dez clubes que participaram do torneio, as notícias nunca foram boas. O São José, da região metropolitana de Curitiba, teve média de público de 22 pagantes. Chegou a ter jogo frente ao Campo Mourão sem ninguém comprar bilhetes.
A equipe mourãoense, por outro lado, ameaçou desistir da disputa após se ver eliminada na fase decisiva. Apesar de ter continuado, não se sabe o que irá acontecer hoje, quando viaja para pegar a também desclassificada Portuguesa Londrinense.
Sina da administração de Hélio Cury na Federação Paranaense de Futebol, passar uma competição ser ter nenhum WO parece um desafio inatingível.
"É a Federação que varzeia o campeonato. Os caras podem perder uma de WO que não são eliminados", lamenta o meia Safira, destaque do Roma na briga pelo acesso.
Sem o incômodo da falta de condições, em Apucarana o time local vive em uma realidade simples, mas bem aceitável. Os jogadores chegam a pé para o treino, enquanto camisas, calções e meias estão estendidos pelas grades nos fundos do Bom Jesus da Lapa. Mas obviamente há diferenças para as grandes equipes do estado.
"É só você ver o campo que a gente joga e treina que verá a diferença. Mas aqui a estrutura é boa, salário em dia...", diz Safira, que pertence ao Corinthians Paranaense, está emprestado ao Roma, e aos 27 anos ainda sonha em chegar às equipes grandes.
Desejo parecido tem o técnico Lio Evaristo, do Arapongas. Conhecido pelo trabalho especialmente nas categorias de base do Atlético, o treinador está há três meses no Norte do estado e não se arrepende pela opção na Segundona do Estadual.
"Quando vim de Curitiba não poderia imaginar que encontraria essa estrutura e essa torcida. A visão na capital é que esses times do interior estão todos acabados", diz Lio.
No Arapongas, a concentração do time fica na sede campestre do clube. Com piscina, refeitório, salão de jogos e alojamento para 35 jogadores, nem parece que uma equipe de Segunda Divisão vive no local.
"O investidor tem de colocar o dinheiro na frente para ter algum retorno depois", explica Adir Leme, empresário do ramo imobiliário, que já dirigiu o Londrina, mas atualmente comanda o Arapongas e o Barueri. "O custo mensal do Arapongas é de R$ 130 mil. Mas nem 50% da receita é recuperada [são três patrocinadores na camisa]", revela o dirigente, querendo o acesso para faturar e investir muito mais.
Na vizinha Apucarana (a apenas 15 quilômetros de distância), a realidade é a mesma. A intenção é dobrar o faturamento com a subida de divisão. "Não falo em valores, mas queremos no mínimo dobrar a receita com a cota de tevê", diz o presidente Sérgio Kovalski.
Os dois rivais do Norte, que pretendem representar a região na Primeirona em 2011, também brigam pelo recorde de público na rodada decisiva. Não por acaso, a maior marca do campeonato até agora ocorreu no confronto entre Roma e Arapongas há dez dias: 4.269 pagantes.
Perto da elite, Arapongas conquista a torcida local
Na loja de artigos esportivos mais tradicional da cidade, a Sacramentana, a camisa do Arapongas virou um artigo de luxo. José Tanoure, o proprietário há 38 anos, jamais atendeu tantos telefonemas com a mesma pergunta. "Chegaram as camisas do Arapongão?".
"Nunca vi uma mobilização tão grande pelo futebol aqui", reconhece o comerciante, logo após receber uma remessa de 20 novos modelos do uniforme branco. "E não vão durar muito tempo. Já tem umas quatro ou cinco que estão encomendadas", avisa.
Sem ver o representante local na elite estadual desde 1991, os torcedores tiveram uma semana angustiante antes do jogo decisivo de hoje contra o São José.
"Quem precisou do funcionário concentrado nos últimos dias teve problemas", afirma o técnico Lio Evaristo, ex-treinador de Atlético e Corinthians-PR. Ele virou um ídolo por ter tirado o Alviverde do Norte das últimas colocações na primeira fase para chegar à rodada final da competição em condição privilegiada.
Uma rápida volta no centro de Arapongas e já percebe-se o que os fãs estão vivendo. No bar mais movimentado, o Alvorada, o assunto é apenas a chance de ouro que o município tem de retornar ao convívio dos grandes do Paraná.
"Peguei mil ingressos [para vender] na quinta-feira e já não tem nem duzentos", comentava Olair Francisco, na tarde de sexta. Dono do bar há 41 anos, ele está eufórico pelos encontros da torcida local antes e depois de cada jogo. "Pena que preciso cuidar do bar e não posso ir ao estádio", lamenta.
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