Início da temporada de 1995, um zagueiro rústico, de pouca técnica e muita disposição desembarcava no Couto Pereira. Ele vinha do interior gaúcho. Era Zambiasi (foto), que no início enfrentou muita resistência por parte da imprensa e da torcida, mas aos poucos ganhou espaço pela raça e amor à camisa. O defensor foi (há dez anos) figura emblemática do retorno alviverde à Primeira Divisão. Agora, aos 39 anos, o ex-jogador trabalha como engenheiro agrônomo em Carazinho (RS) e lembra da emocionante campanha que devolveu o Coxa à elite – e diz que a história deve servir de exemplo ao time que jogará a Segundona em 2006.

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Gazeta do Povo – Qual era a principal arma daquele time?Zambiasi – Tínhamos um grupo muito unido. Eram vários líderes nas horas difíceis. Eu, o Alex, Ademir Alcântara, Marquinhos Ferreira, Brandão, entre outros, chamávamos a responsabilidade. Isso fez a diferença. Até porque foi um ano difícil. O mês tinha muito mais do que 30 dias (salários atrasados).

A principal lembrança foi na classificação para o quadrangular final? Quando vocês venceram o Ceará e torceram pelo empate entre Mogi Mirim e Remo?Nosso jogo (no estádio Presidente Vargas, em Fortaleza) terminou três minutos antes e ficamos torcendo até que o resultado (0 a 0 em Belém) se concretizou. Eu lembro que o Renato era o goleiro e no jogo anterior tomou um gol de falta. Ele estava preocupado e disse que se não conseguíssemos a culpa seria dele. Eu disse que ninguém ganha e nem perde sozinho. Quando fiz um gol contra o Ceará, atravessei o campo para abraçá-lo.

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Como foi a final com Mogi, Atlético e Central?O Atlético era principal adversário. Arrancamos bem com um 5 a 0 sobre o Mogi Mirim, em casa. A torcida fez a parte dela e decidimos a vaga no Atletiba. Vencemos sem contestação. Foi um grupo que fez por merecer.

Como é ser reconhecido pela raça e não pela técnica?O Carpegiani (Paulo César, treinador) me ajudou muito com isso. Afinal, a raça era o que eu tinha de melhor. Técnica nunca foi meu forte. Temos que ser bons no que temos de melhor. Até hoje nas peladas a gente tem que, acima de tudo, honrar a camisa que veste e é assim que jogo: não tem bola perdida. Nunca joguei pelo salário, mas sim para minha família se orgulhar de mim. Em 1997 atuei em um Atletiba com dois dedos quebrados e fiz dois gols. Dois dedos da mão não faziam falta, porque tinha mais oito.

Você acompanhou o rebaixamento do Coritiba em 2005?Acompanhei na minha casa e comentei com a família na semana do jogo contra o Inter: "O Coxa não perde para o Inter". Mas mesmo assim não deu. Fiquei muito chateado por que fica o vínculo. Sei do amor da torcida pelo time e isso não muda em qualquer divisão. É uma pena, porque toda aquela luta que tivemos terá que ser enfrentada de novo.