O candidato à prefeitura de Curitiba pelo PDT, Gustavo Fruet, na sabatina realizada ontem pela Gazeta do Povo, defendeu sua aliança com o PT dizendo que ela é programática. Reclamou que está sendo acusado injustamente de ter se aliado a mensaleiros.
Fruet falou ainda que quer recuperar a capacidade de planejamento da cidade. E estabeleceu como meta estratégica melhorar a educação pública.
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O sr. participou em 2005 da CPI dos Correios como deputado, investigou o mensalão e apresentou denúncias contra o PT. Denúncias graves envolvendo o governo do presidente Lula. Agora, está aliado ao PT nesta eleição. Nos últimos dias, inclusive sua campanha vem citando Lula e a presidente Dilma. O que aconteceu entre 2005 e 2012? O sr. mudou? Mudou o PT?
Cada um é guardião da sua história e das suas convicções. Eu não mudei. Eu mantenho as mesmas posições. Vejam agora que o Supremo [Tribunal Federal] vai provando o que nós apresentamos na CPI. Entendo que cumpri um papel importante quanto a isso. Essa também é uma oportunidade para deixar claro o que está em jogo nessa eleição: não me aliei com mensaleiro, não me aliei com corrupto. E nunca fiz um combate institucional a um partido [o PT]. Estão tentando criar uma imagem distorcida de mim distribuindo folhetos e jornais [pela cidade]. Ontem [terça-feira], participei de um debate no Unicuritiba e lá estava o filho do prefeito entregando jornal, com assessores, afirmando que eu me aliei com corruptos e mensaleiros. Isso não é verdade. É uma tentativa de desqualificação. Mas o que eles [adversários] tentam é distorcer e criar uma maldade. Eles me colocam como aliados de mensaleiros e corruptos. E vendem o terror. Dou um exemplo: pegaram uma Kombi, botaram meu nome nela, colocaram umas moças com a bandeira do PT, e distribuíram folheto dizendo que eu ia ocupar 60 mil imóveis em Curitiba. Para mim, é tragicômico. Mas vendeu o terror. Também pegaram uma foto minha ao lado do [bicheiro] Carlinhos Cachoeira e uma foto minha com o João Cláudio Derosso [ex-presidente da Câmara], dizendo que são meus aliados. Essa foto com o Cachoeira foi quando eu era deputado federal, num depoimento dele na Câmara, por envolvimento com o Waldomiro Diniz e com um deputado do Rio de Janeiro, André Luiz, que foi o primeiro deputado a ter o mandato cassado na Câmara. Eu fui relator. E a outra foto minha, com o Derosso, foi quando fui à Câmara pedir que o Derosso deixasse a presidência [do Legislativo municipal, em função das denúncias de irregularidades na publicidade da Casa]. Depois disso, ele me convidou para compor a mesa. Como eu fui vereador, eu compus a mesa com ele. E aí pegaram essa foto dizendo que eu sou aliado ao Derosso. Então, há uma batalha de comunicação que é desigual, quase demonização.
Talvez o mais importante nessa história é que as pessoas querem saber o que o sr. pensa. Afinal, o sr. é social-democrata, está do lado do PT? Qual é a sua ideologia?
Sobre a ideologia, sou social-democrata. E afirmo: uma aliança não se faz entre iguais, ela se estabelece entre diferentes. A aliança com o PT é programática e tem o aval da ministra Gleisi Hoffmann, que fala em nome da presidente Dilma. A importância disso é a capacidade de construir projetos para a cidade. Boa parte dos investimentos em Curitiba são realizados hoje com recurso do governo. E mostrar que nós estamos estabelecendo uma aliança com pessoas com quem a gente tem muito mais convergências do que divergências. Então, do que me acusam? De ligação com quem? Quais pessoas que me apoiam em Curitiba que têm alguma conduta de desvirtuamento? O Luciano [Ducci] tem 15 partidos que o apoiam. Ele está com o PTB do Roberto Jéfferson e nem por isso eu estou dizendo que ele é mensaleiro. Está lá com PP do Pedro Correia e nem por isso eu estou dizendo que ele é mensaleiro. E do que me culpam? De ter feito bem ao país. Às vezes, me dá a impressão, eu me pergunto: será que valeu a pena [investigar o mensalão]? Eu acho que valeu. Pra mim foi uma causa de vida. Acho que eu estou com sentimento de missão cumprida.
A gente vê, na sua propaganda eleitoral, as pessoas falando "O Gustavo está com o Lula, então eu estou com ele". Mas, na época da CPI, o sr. chegou a dizer a seguinte frase em uma entrevista: Se o Lula sabia [do mensalão], é grave. E se não sabia, é igualmente grave. O que o sr. pensa do Lula, do governo dele?
Tem dois pontos: um positivo e um crítico. O positivo: não houve uma descontinuidade de governo. Isso é um ganho da democracia no Brasil. As questões macroeconômicas foram mantidas. E teve um grande foco para a questão social. O Brasil passou um período, que poderia ter sido melhor, de distribuição de renda, de ampliação de programas sociais e de inclusão. Isso é positivo. Politicamente, o que houve de negativo é isso que o Supremo está analisando agora [o mensalão]. Eu não mistifico ninguém. Acho que todos nós e todos os nossos presidentes têm suas qualidades e seus defeitos. Mas o problema dele foi a postura quando surgiu o episódio do mensalão. O ponto negativo seria a questão política, a gestão da crise.
Como se deu sua saída do PSDB?
Aconteceu no meio do caminho o Derosso [que era ex-presidente do PSDB em Curitiba]. Eu explico: fiz a opção de apoiar o Beto Richa em 2004 [na eleição municipal] numa posição de rompimento [com PMDB, partido ao qual estava filiado; logo depois Fruet ingressou no PSDB]. Eu fiz o inverso do que faz o político tradicional: abri mão de estar no governo [de Roberto Requião]. À época, Eleonora [Fruet, irmã do candidato] era secretária de Planejamento. E sempre deixei muito claro que eu ia me preparar para disputar a sucessão [municipal]. Acho que todos que me acompanham sabem que eu sempre tive um sonho de um dia poder disputar a eleição da capital. Assim foi em 2008, quando deixei de disputar a indicação de vice-prefeito [na chapa de Richa], entendendo que havia uma composição. Veio 2010 e a eleição para o Senado. Não deu certo [Fruet não se elegeu]. Então o Beto me convidou para participar do governo. Eu abri mão. Disse que ia ficar ruim para ele e para mim se tivesse de criar uma secretaria especial [a opção que sobrou a Fruet]. Não exigi, mas fiz um pedido: que fossem lembrados todos os compromissos que a gente foi assumindo politicamente de 2004 até 2010 [para que Fruet fosse candidato a prefeito em 2012]. Mas Derosso vetou [a candidatura de Fruet, como presidente do PSDB de Curitiba]. E quando eu disse que ele era a face da mesma moeda do Luciano [Ducci], é porque ele teve aval do prefeito para vetar. Só uma pessoa me falou em ser candidato a vice-prefeito do Luciano: foi o Derosso, num encontro na casa do vereador Celso Torquato, em 2011. Eu perguntei: Você está falando em nome do prefeito?. O Derosso falou Estou. E eu falei: A minha resposta é não. Não é por desconsideração ao prefeito e muito menos a cidade. É uma honra para qualquer pessoa ser vice-prefeito ou disputar a vice-prefeitura de Curitiba. Mas dessa maneira, não. Porque eu estou num processo de disputar a presidência do partido na capital. E ele foi taxativo: Então só vão lhe sobrar o PT e PDT. E seja rápido, porque senão o PDT também vai para a base do governo. Eu procurei o Beto, manifestei que tinha um veto do Derosso. O Beto reafirmou o compromisso para que eu fosse presidente do PSDB na capital. Reafirmei que gostaria de assumir a presidência do partido, para construir um projeto, fazer o diretório na capital, fazer filiação, recadastramento, pôr o partido para funcionar. Houve três meses de silêncio. Foi um silêncio constrangedor. Eu tinha dois caminhos. Parava ou eu buscava uma alternativa. Parar? Pela primeira vez eu estava passando como uma pessoa sem atitude. Fiz então opção pelo PDT.
Nos últimos dias, sua campanha tem dito que o sr. foi traído. Nessa sua última resposta, o sr. citou o governador Richa e o Derosso... O sr. poderia dizer exatamente por quem foi traído? Não vou dizer. A população vai julgar.
Em 2004, quando o senhor saiu do PMDB, perder a disputa interna para Requião. No PSDB, também. O sr. sabe que política é confronto. Se assumir a prefeitura, vai ter que se confrontar com empresários, grandes empreiteiras. Como o eleitor vai acreditar que, nesses combates, o senhor vai ter "pegada"?
Diga um nome no Brasil de um deputado que participou do processo de cassação de quatro deputados federais, inclusive de chefe da Casa Civil do governo federal. Hoje é fácil falar do mensalão. Mas quem estava lá na hora de levantar a papelada, ir atrás do Banco do Brasil, dizer que a base estava errada, dizer que as bases da Anatel e das telefônicas estavam erradas? Eu fui o primeiro a dizer que o contrato [do Marcos Valério] com o Banco Rural era simulado. Agora o Supremo confirmou. Agora é fácil falar, mas eu estava lá e fui o primeiro a falar em público. Isso não é atitude? Enfrentei a estrutura partidária do PSDB, enfrentei a CPI dos Correios. No Congresso Nacional, disputei a presidência contra o Arlindo Chinaglia, o Aldo Rebelo e contra o presidente Lula. Isso não é enfrentamento? Enfrentei a eleição para o Senado sem estrutura, convocado pelo PSDB de última hora. Fui na Câmara pedir que o Derosso fosse afastado. Alguém mais fez isso? O Ratinho e o Luciano fizeram isso? Eu nunca reclamei, fui para a luta. Nessa eleição, estou enfrentando máquinas poderosas, principalmente de comunicação.
Sua coligação pediu para barrar a divulgação da última pesquisa Datafolha. Por quê?
Há ainda uma necessidade de evolução da forma que se trabalha com pesquisa no Brasil. Além da questão da estratificação e da metodologia, existe um fato novo. Tem uma estrutura na cidade que se chama Instituto Curitiba de Informática [ICI, vinculado à prefeitura]. Esse instituto tem uma base de dados georreferenciados que atinge quase 100% da população de Curitiba. Mesmo que a gente ache que não, eles têm o perfil de praticamente a maior parte do morador e do eleitor de Curitiba. Essa base de dados deveria ser pública e ser utilizada só no serviço público. Mas nada impede que algumas empresas que trabalham com essa base de dados possam, coincidentemente, prestar serviço na campanha. Em um mês de pré-campanha essas empresas têm o perfil de mais de 80% do eleitor curitibano. Quando começa uma pesquisa é registrada [na Justiça Eleitoral] e a equipe de coleta dos dados sai à rua, é um bombardeio de folheto, propaganda, rádio e telefonema [de marketing eleitoral]. Numa eleição muito acirrada para alterar, 1%, 2% não é difícil. Não é uma disputa de ingênuos nem uma mera sondagem de opinião pública. É uma batalha de comunicação desigual.
Mas qual é a finalidade de tentar impedir a divulgação da pesquisa?
É para chamar a atenção para esse debate. São outras questões também. Lembro que na disputa para o Senado em 2010, o Ibope na véspera da eleição, divulgado pela RPC, disse que eu ia ficar 20 pontos atrás do Requião. Eu dei uma entrevista coletiva e afirmei que a pesquisa não conferia e que o resultado seria outro e que dali uma semana todo mundo esqueceria isso e não contestaria os institutos de pesquisa. A história se repete. O Ibope disse que eu faria 2% e o Vox Populi disse que eu faria 3%. Cheguei a 21%, 22% dos votos. Isso tem um fator de influência e é muito forte quando se fala de arrecadação, principalmente para um candidato de oposição. Segundo ponto, há uma dúvida em relação à estratificação [dos dados]. E aqui não estou questionando a integridade dos institutos de pesquisa. Mas recebemos pesquisas de institutos nacionais no mesmo campo e período com resultados diferentes.
Mas o sr. falou em entrevista na Bandnews que não entraria na Justiça contra uma pesquisa. Não é incoerência?
Apenas se fossem liberadas todas as pesquisas. Mudei a estratégia por conta dessa guerra que se estabeleceu nas duas últimas semanas.
Sua campanha faz um alerta contra candidatos que se declaram independentes, citando o ex-presidente Collor [que sofreu impeachment]. O único que se declara independente nesta campanha é o seu concorrente Ratinho Júnior. O sr. acha que ele pode virar o "Collor" de Curitiba?
Não, até porque Curitiba não tem essa dimensão.
Mas a ideia que a mensagem passa é que, caso eleito, seu adversário se transformaria num "Collor", que saiu do governo acusado de denúncias de corrupção. Não fica essa imagem para o eleitor?
Acho que não tem meio-termo agora. Tem uma guerra de comunicação. Não dá para eu enfrentar duas máquinas que me criticam pela aliança com o PT e tentam adotar uma postura de independência. Quando faço essa referência ao Collor, é justamente à instabilidade, à dimensão e o que representa essa estrutura política para o processo da capital.
O senhor comporia uma aliança com Ratinho Júnior no segundo turno?
Não vou dar margem para especulação agora. Essa discussão é para depois do primeiro turno.
Como o sr. analisa o momento atual de Curitiba?
Pela primeira vez na história recente há um sentimento de que a cidade estagnou. A última grande intervenção na cidade sob o aspecto físico foi a Linha Verde, que é um projeto antigo, está com problemas de execução e que provavelmente não terá recursos garantidos para sua finalização no curto prazo. É uma cidade em manutenção. Mas o grande desafio é saber quem vai assumir o papel de liderança para pensar estrategicamente a cidade no médio e longo prazo. Curitiba mudou de escala. Tem que se reposicionar. Dizer o que pensa de economia, no que será para o Brasil e o que pensa em termos internacionais. Nós temos uma história de planejamento, principalmente entre as décadas de 60 e 80, que está sendo queimada. Qual foi o mérito dessa geração? Foi ter a capacidade de recrutar lideranças e novas ideias que estavam surgindo numa cidade universitária. Esse recrutamento não se faz do mesmo modo agora.
Qual é então a vocação da cidade, o papel dela no futuro? E qual é a necessidade mais urgente no momento?
São três questões. Uma é de curto prazo. Temos de recuperar a qualidade do serviço público e determinados investimentos. A saúde, que sempre foi referência, hoje sofre um apagão logístico. O transporte público perdeu velocidade, perdeu usuários, perdeu investimento e não se apresentou projeto alternativo. Também aumentou o número de pessoas que vivem em área irregular. Essas são questões muito imediatas e pontuais. Mas há duas questões estratégicas, que são o desafio. O primeiro deles é fortalecer o Ippuc [Instituto de Pesquisa Urbana e Planejamento de Curitiba]. Temos de pensar num plano municipal de desenvolvimento sustentável de dez, vinte anos. Pensar onde Curitiba vai se situar em relação à região metropolitana e como vai se dar o adensamento das últimas áreas disponíveis, especialmente no Sul da cidade, como vai ser o transporte. Para isso, temos de recompor o quadro do Ippuc, que está se aposentando. Também temos de lembrar que, ao contrário daquele recrutamento [de antes], hoje há outras universidades, outras instituições e entidades que querem colaborar. E que a nova geração vem com ideias muito oxigenadas para um projeto desses. Vamos ter de pensar ainda em estimular a economia verde e a criativa. Curitiba hoje tem um potencial de serviço que poucas capitais têm e necessitamos de uma forte integração com as universidades. O Tecnoparque tem de ser ampliado com investimento forte da prefeitura e incubadoras. Podemos usar o ICI como instrumento não só de tecnologia de informação da prefeitura, mas como fator de incremento e sustentação desse projeto. O ICI foi criado também para fazer pesquisa. A segunda questão estratégica, que talvez seja a maior bandeira e o maior legado que quero deixar se for prefeito de Curitiba, é fazer o maior investimento da história na educação. Essa é uma obra imaterial, transformadora da cidade. Não só para recompor essas vagas necessárias de creche, pré-escola. Por ano, saem quase 100 mil jovens da escola e é uma disputa diária contra o crime. Assumi como meta para que a gente estabeleça, independente de quem venha a ser o prefeito, que, em 10 anos, a média de escolaridade do morador da cidade suba de 8 para 13 anos. Esta vai ser a grande transformação, é preparar esta geração para a nova economia e para sermos menos prestadores de serviço.
Quais seriam os investimentos em educação?
Pelo menos R$ 100 milhões a mais, aumentando de 26% para 30% das receitas [os investimentos].
De que área o sr. tiraria esse dinheiro para destiná-lo à educação?
Tem algumas coisas que estou bem ansioso para verificar, como a qualidade dos investimentos no ICI e na Urbs... Mas não se trata de cortar de algum lugar, há a expansão natural do orçamento, uma gestão fiscal eficiente, recursos repassados pelo governo federal.
O sr. abriria a base de dados do ICI para a população?
Uma parte sim. Lógico que têm algumas informações que exigem sigilo fiscal. Esse cuidado tem que ser tomado. E também colocar dados à disposição da polícia, da Guarda Municipal e da gestão do trânsito. Há um sistema de uma empresa espanhola que permite que as imagens das câmeras dos radares, por exemplo, sejam usadas para outras questões além da multa. Ela permite a contagem de tráfego e a contagem de pedestres. E vai além: permite a identificação das placas, imagine esse sistema disponível para a Guarda Municipal integrado com a Polícia Militar e Civil. Numa segunda linha, vai ter dados do crescimento da cidade compartilhado, por exemplo, com universidades e com centros tecnológicos. Na hora que a gente tornar essas informações públicas, elas vão ter ainda um impacto econômico. Analisando os dados da cidade, um investidor, uma empresa vai fazer investimentos. Então vamos usar o ICI para isso.
Qual seria sua primeira ação na prefeitura?
Tomar posse... e vai ter que ser de bicicleta [para chegar na prefeitura]. Mas são desafios imediatos: formação de equipe, ter a transição, trabalhar nas questões orçamentárias. Mas, no primeiro momento, recompor obras que foram interrompidas ou que foram mal realizadas. Depois, estabelecer desde cedo um diálogo para um plano de cargos e salários dentro da prefeitura. E terceiro: recompor a estrutura do IPPUC e torná-lo instrumento de diálogo com a cidade e com o seu futuro.
Quais são as obras inacabadas ou mal feitas?
A Rua Fredolin Wolff, o Terminal do Cabral, da Santa Cândida, a Linha Verde, várias obras da Cohab, muitas obras do PAC, que estão com problema de execução ou estão sendo entregues incompletas.
O que o senhor mudaria em Curitiba que está sendo projetado para a Copa?
Acho que o questionamento que agora não adianta mais é a Ponte Estaiada [sobre a Avenida das Torres]. A obra está iniciada. Então, não adianta essa discussão. A obra da Marechal Floriano também está iniciada. Mas estamos perdendo a oportunidade de redefinir o papel da Rodoferroviária, do Terminal do Guadalupe, da nova Cândido de Abreu. Isso ainda está em tempo. A questão que ficou pendente e vai gerar ainda muita discussão é em relação à transparência dos investimentos na Arena. Ainda dá para discutir o projeto do metrô. Mas se for contratado, não tem volta. Mas algumas questões precisam ser respondidas antes. Qual vai ser o custo na tarifa? Qual vai ser o subsídio? Qual vai ser o modelo de operação? Vai ser uma concessão? Já vai ficar casado com o projeto de expansão para a Região Norte? Vai se dar a integração metropolitana? Vai ser dada a integração com outros modais?
O sr. acha que o nosso sistema hoje está esgotado?
Não, ele pode ter sobrevida. Mas um novo modal não deve ser concorrente, e sim complementar. Então, quando a gente pensa em novas alternativas, falo da bicicleta como conceito, indução de mudança de postura. Pensar na melhora do sistema [de ciclovias e ciclofaixas]. Também é preciso investimento prioritário no transporte coletivo, sem medida restritiva para uso de carros. Sou contra pedágio ou rodízio. E é preciso investimento novo em canaleta. Na hora que se faz um binário, um novo anel, tem que ter canaleta, uma faixa exclusiva para ônibus e uma para bicicleta. Me perdoe quem tem carro, mas a prioridade vai ser essa, sem perseguição ao automóvel.
O sistema de transporte público tem um déficit anual de R$60 milhões. Isso significa que a passagem vai subir ou tem de haver subsídio?
A questão é que o subsídio é uma tendência no mundo. A acho que tem que ter subsídio. Mas nós temos capacidade [para R$ 60 milhões]? Isso tem que ser avaliado. A questão é: quem depois vai bancar essa diferença? O governo do estado? Mas o governo vai ser cobrado a dar o subsídio também para outras cidades. Acho que o governo estadual e federal tem de entrar nisso.
Dentro das ações emergenciais, quais seriam para saúde?
Recuperar a credibilidade do sistema, para o usuário e para o profissional. A prioridade vai ser a atenção básica. Porque há anúncio de novos investimentos, eu defendo um hospital na região norte e transformar o hospital do Bairro Novo no hospital da mulher e também um centro 24 horas no Tatuquara. Mas, mais do que investir em novas estruturas físicas, é recuperar a resolutividade e a eficiência do sistema. Então, no primeiro ano haverá mutirões de cirurgias e consultas. Segundo: aumentar as equipes de atenção básica, como o programa de atendimento domiciliar com recursos do Ministérios da Saúde. Fortalecer o atendimento nas unidades básicas contratando novos profissionais, multiprofissionais, para que as unidades aumentem o horário de atendimento em algumas regiões da cidade e que as unidades possam trabalhar com especialidades e serviço emergencial. Acertar a questão de plano de cargos e salários e carga horária. Também fortalecer as equipes de atenção básica e as unidades básicas, inclusive com especialidades. E repactuar contratos com o setor [hospitalar] privado, filantrópico, universitário. E Curitiba tem que entrar no consórcio metropolitano.
Outro ponto emergencial que o sr. citou seria a questão da ocupação de áreas irregulares. O que se implica exatamente a isso, regularização fundiária, projeto de loteamento, o que tem que fazer?
Pela projeção que a gente fez, considerando a estrutura que precisa ser fortalecida da Cohab, é possível pensar em regularizar pelo menos 15 mil lotes em quatro anos. Daí tem uma pressão: atende prioritariamente quem vai ser realocado das áreas de ocupação irregular ou quem está na fila da Cohab, que tem mais de 70 mil famílias? Tem que trabalhar os dois, buscando alternativas. E aí passa por uma articulação com a região metropolitana e com o governo federal.
Curitiba não seria injusta com seus pobres, exportando pobreza para a região metropolitana?
Esse diálogo tem que ter [com os municípios vizinhos]. Mas existe uma tendência quase inevitável, com preços de terrenos aqui mais caros, de instalar a população mais pobre nos municípios vizinhos.
O senhor usaria mecanismo do IPTU progressivo ou da desapropriação para desapropriar áreas para moradia popular?
Não, acho que Curitiba não precisa disso. E não têm tanta área assim também.
Qual seu projeto para o Centro?
Hoje o próprio setor mobiliário já começa a recuperar e revitalizar o Centro pela falta de novas áreas ou de áreas disponíveis. Mas a prefeitura pode investir em segurança, transformando a Guarda Municipal em uma verdadeira polícia comunitária. Dar também incentivos fiscais. Dar vida ao centro, com muito prestação de serviços públicos na área central como creches para pessoas que vão trabalhar ou circulam na região.
O que o sr. fará com as pichações?
Guarda Municipal. Aí, é tolerância zero.
Qual política pretende adotar para questão do uso de drogas?
Nós propusemos o comitê municipal de combate a drogas e tratamento de usuários com unidades públicas e parceria com unidades terapêuticas. A prefeitura pode assumir o papel de prevenção. Os jovens também precisam ter ocupação. Nossa proposta é fortalecer o contraturno escolar, com trabalhos culturais e de profissionalização. E um trabalho forte na área social. O papel da Guarda Municipal deve ser de polícia.
E o barulho, que é uma das principais reclamações da população? Como resolver?
Fiscalização e permanente trabalho. E vamos criar zonas de conforto na cidade. São áreas em que vamos priorizar o pedestre, com calçadas, tráfego lento e ciclofaixas.
A questão do lixo é problema há várias gestões. O modelo atual, de um grande aterro, gera grandes interesses. A licitação então acaba emperrando na Justiça devido à disputa das interessadas. O que o senhor pretende fazer para resolver essa questão?
Enfrentamento. Qualquer grande projeto da cidade têm grandes interesses envolvidos porque há uma alta receita envolvida. Proponho o cancelamento da licitação porque ela não se sustenta. E este modelo estabelece apenas uma planta [de aterro] para a cidade. O que estamos defendendo é uma nova licitação com pelo menos quatro plantas, duas em Curitiba e duas na região metropolitana. Além de dar destinação adequada aos resíduos recicláveis, limitando ao máximo a destinação para o aterro.
O senhor citou a política tributária. Pensa em revisão da planta do IPTU? Qual seria sua política tributária?
Não há muita margem para mexer na planta do IPTU. Mas em algumas regiões, onde a prefeitura entra com investimento público, há valorização dos imóveis e é justo que haja contrapartida. Já o ISS tem que ser indutor de novas atividades.
Sobre funcionalismo público. O sr. falou em revisão de carreira. O que seria essa revisão?
Há um passivo de profissionais na saúde que querem o mesmo tratamento [dos terceirizados], piso igual e carga-horária igual. Isso vai ter que ser resolvido, com muito diálogo. Na educação, propomos aumento do salário dos educadores, um novo plano de cargos e salários e fazer uma transformação na carreira. A Guarda municipal precisa aumentar seu efetivo.
O sr. pretende tomar alguma medida de participação popular no orçamento?
Tem o 156. É preciso também descentralizar ao máximo a administração, por meio das subprefeituras que eu vou criar. Promover audiência pública para valer. Podemos até pensar em um porcentual do orçamento [para destinar por meio de consultas populares].
E como ficam as demandas dos vereadores?
O vereador pode indicar, dentro dos projetos do município, qual escola, por exemplo, vai receber um recurso.
Por que o sr. quer ser prefeito?
Se for prefeito -- e desde que nasci de alguma maneira estou me preparando para isso --, quero ser lembrado daqui a 20 anos por ter deixado um legado: ter transformado a educação, criado condições para estabelecer o conceito de economia verde em Curitiba. Quero ser lembrado como o prefeito da mobilidade, que permitiu um novo modal que é a bicicleta. E que não se perdeu nas miudezas da política. Apesar de gostar do mandato parlamentar, o grande passo é no Executivo, ele é gerencial, pode mudar a vida das pessoas. Chegou a hora de fazer esse enfrentamento. Desafio é ter uma gestão que possa deixar um legado para o futuro desta cidade. A população que vai julgar se acha que a cidade está no ritmo certo ou não. Sou candidato em paz, alguém que não se rendeu aos interesses escusos.
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Jornalistas da Gazeta do Povo entrevistaram o candidato à prefeitura de Curitiba Gustavo Fruet (PDT). Ele foi o terceiro dos quatro principais concorrentes à prefeitura a ser sabatinado.