“Quando o Davi pega uma bola de fora da área de voleio e faz um grande gol, ele pode fazer em qualquer jogo, né? E com a disposição e com a vontade que temos não devemos temer ninguém.”Marcelo Oliveira, técnico do Coritiba| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

O Coritiba já é campeão estadual, mas pode coroar a conquista fechando o campeonato sem derrotas pela terceira vez na história hoje (1935 e 2003 foram as outras) se ao menos empatar com o Cianorte, no Couto Pereira. Grande parte do crédito do time vem de um técnico sereno, conversador, bagunceiro, como ele mesmo já admitiu, e extremamente trabalhador. Desaprovado pela torcida no momento de sua contratação, Marcelo Oliveira não teve nem tempo de ouvir as reclamações. Quatro meses depois, comemora ter em mãos um time que joga bonito e, até aqui, imbatível na temporada.

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Qual foi o momento mais difícil dessa campanha vencedora no Estadual?

Todo momento é difícil. Às vezes você tem uma sequência de vitórias e aí a expectativa é de mais uma vitória. Enfrentar adversários que vêm com tudo. O Coritiba passou a ser o alvo. Aquele jogo do Corinthians-PR no segundo turno foi um jogo dificílimo [1 a 0 em um pênalti contestável]. Tivemos uma variedade de situações, mas o importante é estar preparado para lidar com adversidades, obstáculos. E esse grupo é maravilhoso porque não desiste nunca, acredita sempre que pode.

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O Paranaense serve de parâmetro para o Nacional?

Serve porque quando o Léo Gago faz um lançamento de 40 metros e o Rafinha domina, já bate e faz o gol, ele pode fazer isso no Brasileiro, na Libertadores, na Europa... Quando o Davi pega uma bola de fora da área de voleio e faz um grande gol, ele pode fazer em qualquer jogo, né? E com a disposição e com a vontade que temos não devemos temer ninguém.

Como foi sua preleção antes do Atletiba, jogo que sacramentou o título?

Bolamos um vídeo, foi uma ideia do Juvenilson [preparador físico] e do Felipe [Ximenes, superintendente de futebol]. As pessoas ficam muito ligadas à preleção achando que isso ganha o jogo. Ela colabora porque você traz detalhes finais e uma motivação, uma sacudida antes do jogo. Mas a preparação da semana é mais importante. No Atletiba, eu repassei a bola parada exaustivamente porque poderia ser decidido assim, porque era o forte do nosso adversário. Depois falei muito, enfatizando a união desse grupo, que começou quatro meses atrás e poderia culminar com a conquista. Pode dar mais detalhes?

Dei uma repassada jogador por jogador e até foi engraçado porque falo sempre improvisando, não tinha a lista de 20 jogadores na mão e alguns membros da comissão ficaram com receio de eu esquecer alguém, mas tive a tranquilidade de falar de todos, da importância deles, de exemplos que eles davam. O Willian, por exemplo, que jogou muito bem e depois passou a camisa para o [Leandro] Donizete com a maior alegria, e vibrava da mesma forma. O Leonardo pedindo para treinar fora do horário porque achava que o Bill estava muito bem, merecendo ser titular, e que ele precisava novamente buscar sua melhor condição para voltar ao time. E depois o vídeo.

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A enfermidade do vice-presidente Vilson Ribeiro de Andrade, que se recupera de um câncer, foi tratada de que forma pelo grupo?

O Vilson é muito querido. No primeiro instante ficamos chateados com a situação que ele está vivendo. Ele não é só um grande dirigente – aliás, está entre os três maiores com que trabalhei, pela competência, equilíbrio, correção e, principalmente, pela dignidade. Todos confiam no que ele fala. Eu dei a ideia para que ele fechasse aquele vídeo. Sinceramente, essa questão da doença a gente até não comenta muito porque temos absoluta certeza que ele vai superar. Uma pessoa tão boa, tão leal, certamente pode superar qualquer coisa.

Sobre a parte tática do time. Como se deu a mudança do 3-5-2 para o 4-2-3-1?

Acho que qualquer sistema pode dar certo, tanto é que o São Paulo foi a campeão Brasileiro com o Muricy [Ramalho] com três zagueiros, o [Luiz Felipe] Scolari foi campeão mundial jogando com três zagueiros e o Fluminense recentemente também. Só que eu recém havia chegado e o Coritiba precisava marcar um pouquinho mais para atacar e era possível fazer com três zagueiros. Se não adaptou imediatamente, não tem por que insistir. Mudamos, encaixou melhor.

Você passou pelo Paraná. O que falar da situação do clube, rebaixado no Estadual? Quais as diferenças para o Coritiba?

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Não gostaria de fazer comparação. São dois grandes clubes aqui do Paraná. Tenho um respeito grande à instituição Paraná, à torcida, deixei grandes amigos lá. Lamentei o rebaixamento, não esperava. Mas serve também como uma reflexão para que se possam mudar coisas importantes dentro do clube.

Quando você chegou ao Coxa, pesquisa de opinião publicada pela Gazeta do Povo mostrava que a torcida não acreditava muito no seu trabalho...

Eu não tenho esse tipo de sentimento [mágoa]. O torcedor é passional e vislumbrava, de repente, um técnico de currículo maior, passagem por outros grandes clubes... Mas ele também poderia ser questionado na primeira derrota justamente porque o Ney Franco foi tão querido, tão efetivo e tão competente [no Coritiba]. Fiquei tão feliz de vir para cá que só pensei em trabalhar. E esse trabalho intenso gerou resultado.

Por que você demorou tanto para despontar na profissão?

Quando parei [de jogar futebol, aos 30 anos] não quis ser treinador. Fui convidado pelo Atlético-MG para treinar os juniores, mas queria ficar um pouco afastado porque vinha de muitos anos trabalhando com futebol, viajando, muita concentração e tudo isso.

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O que você vislumbra até o fim desta temporada para o Coritiba?

Espero que a gente cumpra nossos objetivos da melhor forma possível. Que possamos estar sempre entre os primeiros, e até conquistando [títulos]. Mas não vai ser fácil. Copa do Brasil, Campeo­nato Brasileiro... É muito concorrido. Não tenho nenhu­ma fascinação nem ambição em sair para outro clube que não me dê a condição que tenho aqui.

E quem sabe fechar o ano na Libertadores...

Pois é, seria muito importante. É possível, mas não é fácil.