Há 11 dias a paranaense Natália Falavigna da Silva, de 21 anos, é figura carimbada em programas de televisão e páginas de jornais. Tudo graças ao prêmio de melhor atleta do ano, oferecido pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), conseqüência do inédito título mundial de tae kwon do, categoria até 72 kg, conquistado em abril na Espanha.

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Feliz com o reconhecimento, ela entende que a exposição na mídia vem bem a calhar tanto em seu projeto pessoal, de conseguir recursos para poder competir internacionalmente com mais freqüência, como nos planos de popularizar a modalidade no país.

"Espero que não pare por aí. Que não só o tae kwon do, como as artes marciais em geral, continuem em evidência e entrem mais nas escolas", torce Natália, levando em consideração o espaço equivalente ganho pelo judoca João Derly – vencedor do mesmo prêmio entre os homens, também decorrente de um título mundial inédito.

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Ela se mostra consciente da responsabilidade colocada sob seus golpes. "Sei que cada resultado que eu trouxer se reverte em mais matérias na imprensa e no aumento do número de praticantes. Por isso tenho de trabalhar muito, mas não chamo a carga só para mim", acrescenta a maringaense, aproveitando para convocar os colegas de esporte a se engajar no projeto.

Natália só lamenta a necessidade de resolver primeiro problemas próprios antes de poder ajudar de forma efetiva o esporte a crescer no país. Os apoios da Confederação Brasileira de Tae Kwon Do e da Bombril – através do programa Mulheres que Brilham – lhe permitem se dedicar integralmente aos treinos, mas não são suficientes para garantir participação em competições internacionais. No ano que vem deve se tornar também atleta do São Caetano, mas com um acordo de poder continuar morando em Londrina – em 2005 passou a maior parte do ano treinando em Campinas.

"É muito importante enfrentar as principais adversárias para manter o nível de competição mundial. Seria ideal passar um período disputando competições na Europa", explica a lutadora. Nos torneios nacionais ela chega a sofrer com a falta de oponentes. No Campeonato Brasileiro, por exemplo, foi obrigada a disputar, e ganhar, a categoria acima de 72 kg.

Em 2003, um ano antes de ser semifinalista da Olimpíada de Atenas, Natália chegou a pensar em mudar de esporte. "Pensei que talvez fosse melhor ser a 20.ª do ranking nacional de uma modalidade como o tênis, por exemplo, do que continuar como primeira no tae kwon do e não ver reconhecimento", lembra.

A boa participação na Grécia começou a mudar as coisas. "Mas só fui sentir que melhorou mesmo depois do título mundial este ano", conta Natália, que, entre uma entrevista e outra, ainda não teve tempo de mensurar o alcance prático de ter sido escolhida a melhor atleta do país em 2005.

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Por conta da visibilidade menor da arte marcial que pratica em relação à já consolidada ginástica olímpica – esporte das concorrentes Laís Souza e Daiane dos Santos –, ela foi à entrega do Prêmio Brasil Olímpico com poucas esperanças de voltar do Rio de Janeiro consagrada pelo voto dos internautas. "Sonhava com isso, mas admito que entrei em estado de choque na hora."

Eleita, Natália abraçou a missão de ser um dos exemplos do emergente esporte brasileiro. Mas sabe que o reconhecimento também gera cobrança. Talvez por isso, pense no futuro de forma gradativa. "Uso muito a frase do Bernardinho: meu objetivo é sempre o próximo. Acho que se eu me preparar para uma coisa de cada vez as conquistas podem vir com mais naturalidade. Lógico que penso a longo prazo também, Pan, Olimpíada, mas não posso nunca esquecer do agora."