Com o encerramento da Olimpíada, todos os holofotes se voltam para o Rio de Janeiro. O COI aconselhou os organizadores do Rio à criação de um calendário de obras, segurança, transporte e infraestrutura que acompanhe o modelo dos ingleses.
Mas o COB já avisou que o orçamento para 2016 será revisto para cima. Os Jogos custarão mais caro do que havia sido estabelecido quando a cidade carioca ganhou o direito de sediar o evento. A roubalheira registrada no último Pan-Americano, também no Rio, assustou a população e o custo bastante elevado das obras nos estádios para a Copa do Mundo de 2014 igualmente chama a atenção pela sangria nos cofres públicos.
O impressionante é que a decadência ética e moral parece não ter fim. Recordo-me das vergonhas que falávamos em casa, porque roubar, mentir ou se vulgarizar estava fora da pauta. Nossas vergonhas infantis eram inocentes se comparadas com a falta de constrangimento que vem imperando. O grave é que poucos ainda ficam ruborizados simplesmente porque se perdeu a vergonha.
Fazendo um apanhado do que aconteceu nos últimos anos fica difícil acreditar que as pessoas ainda sintam alguma espécie de pudor. Um presidente do Senado foi soterrado por denúncias, seus pares aprovaram o arquivamento das investigações e ninguém ficou nem vermelho. Todos foram jantar alegremente na Piantella, a mais famosa cantina de Brasília.
O escândalo do mensalão levou anos para ser julgado e alguns ministros do Supremo Tribunal Federal ainda não têm juízo formado para a promulgação das sentenças, ouvindo a ladainha esfarrapada dos advogados de defesa.
Os políticos perdem a compostura com relativa facilidade, criam CPIs inócuas, deitam falação, defendem-se como podem, negam os erros, repelem os malfeitos e jamais pedem demissão do cargo que desonraram. No campo esportivo, depois da saída do notório Ricardo Teixeira da CBF, atletas olímpicos de diversas modalidades reclamaram de atitudes dos presidentes de suas confederações e ninguém acredita na aplicação integral dos R$ 2 bilhões prometidos para a preparação das equipes que disputarão os Jogos de 2016.
E a impunidade das autoridades afastadas do cargo por improbidade e dos políticos em geral causa tremendo mal-estar, servindo como péssimo exemplo para a população. Sobretudo para os jovens que ambicionam o sucesso profissional e sonham com um país sério e justo.
O superfaturamento e as falcatruas, exaustivamente denunciadas pela mídia na execução de obras públicas, são apenas o corolário dessa situação constrangedora pelo qual passa o Brasil. Portanto, lamentavelmente ninguém se envergonha mais de nada e não esperem uma recaída moral por causa dos dois megaeventos que se aproximam.
Será apenas um prolongamento dessa maldita corrupção endêmica instalada há muito tempo na vida nacional.
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