A vitória na estreia de Ricardo Drubscky e a classificação do Paraná à segunda fase da Copa do Brasil tornaram-se nota de rodapé diante do mais novo caso de racismo no futebol brasileiro. Aos 46 minutos do segundo tempo, com a vitória paranista por 3 a 1 já garantida, o volante Marino, do São Bernardo, foi expulso por uma cotovelada em Rodrigo Mann. Na saída para vestiário da Vila Capanema, foi chamado de "macaco" por dois torcedores tricolores, que deixaram a arquibancada correndo após um segurança, negro como Marino, tentar detê-los. A Polícia Civil abriu inquérito para investigar o caso.
"Me xingaram e com a cabeça quente acabei indo para cima desses torcedores. Desci para o vestiário chorando. Você deixa sua família em casa para trabalhar e precisa enfrentar esse tipo de situação", disse o jogador, que, logo após a partida, registrou boletim de ocorrência na unidade da Demafe (Delegacia Móvel de Atendimento ao Futebol e Eventos) montada no estádio.
Na porta da delegacia, Luiz Fernando Ferreira, presidente da equipe do ABC, não escondeu a revolta. "Isso tem de ser banido do futebol. Vamos relatar para a CBF e esperamos que haja punição. É inadmissível que alguém ofenda outra pessoa por causa de sua cor de pele", afirmou o dirigente, antes de cobrar um posicionamento firme do Paraná. "A instituição não tem culpa, mas são seus torcedores. É preciso colaborar com a apuração."
A primeira reação da diretoria paranista foi de negar o ato. O vice de futebol, Celso Bittencourt, perguntou a alguns repórteres se eles tinham ouvido o xingamento. Diante da negativa, chegou a falar em perseguição ao Paraná. Minutos depois, reviu sua posição e repudiou o fato. O presidente do clube, Rubens Bohlen, se comprometeu a ajudar na identificação dos autores das ofensas.
O delegado da Demafe no jogo, Fábio Lopes, adiantou que já enviou ofícios para as emissoras de televisão presentes no estádio para auxiliar na identificação dos torcedores. Se forem identificados, os acusados serão enquadrados por injúria racial (lesão à honra de uma pessoa). O crime permite fiança e a pena máxima é a reclusão por oito anos.
"Eu consigo reconhecer. Vou fazer de tudo o que puder para pegar esses caras", afirmou Marino.
O caso na Vila Capanema aconteceu no mesmo dia em que o Tribunal de Justiça Desportiva do Rio Grande do Sul (TJD-RS) puniu de maneira inédita um caso de racismo. O órgão tirou nove pontos do Esportivo no Gauchão-2014 por ofensas raciais de torcedores contra o árbitro Márcio Chagas, durante jogo com o Veranópolis, em março. A punição resultou no rebaixamento do clube de Bento Gonçalves.
Na mesma sessão, o Grêmio foi multado em R$ 80 mil por ofensas raciais de torcedores contra o zagueiro Paulão, do Internacional. Ainda este ano, o jogador Tinga, do Cruzeiro, foi perseguido com imitação de sons de macaco durante partida contra o Real Garcilaso, pela Libertadores. O clube peruano foi multado em US$ 12 mil. No Campeonato Paulista, o volante Arouca, do Santos, também foi chamado de "macaco" após a partida contra o Mogi-Mirim.
A série de casos fez o governo federal eleger o combate ao racismo uma das bandeiras da Copa de 2014. A presidente Dilma Roussef chegou a receber Tinga, Arouca e o árbitro Márcio Chagas em Brasília para prestar apoio.
Paraná 3x1 São Bernardo
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