A decisão
Macumba assustou herói coxa
Maracanã, Rio de Janeiro, 0h39 do dia 1 de agosto de 1985. Gomes acaba de cobrar o último pênalti e dá o título brasileiro ao Coxa. Enquanto a maioria torcedora do Bangu deixa o estádio, os paranaenses fazem festa. "É difícil falar o que vai fazer num momento desses", lembra Gomes, "Veja, o Ado, que perdeu o pênalti, até hoje o pessoal cobra isso dele. Mas eu estava vendo o Gilmar, que não tava arriscando canto. E o goleiro parado complica bastante. Eu decidi um canto e fui feliz."
Antes da decisão, uma jogada psicológica de Ênio Andrade. O Bangu, cuja campanha foi melhor que a do Coritiba, encarava o Brasil de Pelotas e os jogadores viam a boa atuação pela tevê. "Estávamos vendo o jogo e o seu Ênio mandou parar. Disse: "Esse time do Bangu é muito ruim. Não vamos ver senão vamos estragar nosso jogo", conta Tóbi. Rafael lembra: "O Bangu esteve em cima da gente o tempo todo. O que a defesa jogou naquela partida foi brincadeira."
Ele quase foi vítima de... macumba. "Me deram um saco de lixo e uma escrava Anastácia com um litro de uísque. Eu pus tudo do lado das minhas santas e pedi proteção. Era de um torcedor do Bangu. A escrava ia amarrar minhas pernas, o saco era para guardar os gols... O uísque eu guardo até hoje."
Passaram-se exatos 25 anos. Nos primeiros minutos do dia 1.º de agosto de 1985, época de transição política para a democracia no país, o Coritiba se tornava campeão brasileiro. A campanha com 12 vitórias, 10 derrotas e 7 empates começou com Dino Sani no comando técnico. Uma proposta do Catar o tirou do Coritiba. Foi uma sorte: o então bicampeão nacional Ênio Andrade assumiu a equipe para fazer história.
"Os resultados negativos vieram porque nós demoramos a nos entrosar no esquema do seu Ênio", conta o volante Tóbi, um dos destaques daquele time. "Tomamos uma pancada em cima da outra. Mas depois que a gente se estruturou, começamos a vencer", segue, em tom saudoso.
Uma pausa na competição, para que a seleção jogasse as Eliminatórias da Copa de 86, foi fundamental.
O grupo tinha uma mescla entre jovens da casa e jogadores rodados, como o goleiro Rafael, figura emblemática da trajetória até o triunfo contra o Bangu, no Maracanã.
O zagueiro Gomes, autor da cobrança do último pênalti na diputa final, lembra: "O presidente [Evangelino Costa Neves] era muito carismático. Antes de começar o segundo turno, ele disse: O Coritiba já chegou a 18, 19 títulos estaduais. Fomos bem algumas vezes em torneios nacionais, mas nunca levei. Eu quero chegar. E aconteceu."
Antes da decisão o Coxa passou por times como São Paulo, Cruzeiro, Corinthians e Santos. "Na época, a cidade foi ficando contagiada, na medida em que a gente ia passando de fase", diz Gomes.
Na semifinal, talvez o jogo mais marcante nos 100 anos do clube, veio o Atlético-MG. Vitória por 1 a 0 em casa; e na volta, um drama no Mineirão, com um empate sem gols e Rafael pegando tudo.
"Era aniversário do Nelinho [ex-lateral]: o Mineirão todo cantou parabéns para ele. Eu joguei com ele no Cruzeiro e cantei também. Ficaram bravos comigo. O Frega [Odivonsir, preparador físico] me disse: Vai aquecer, p..., só falta querer bolo [risos]", lembra Tóbi. O Galo martelou, mas não levou. "O Reinaldo me xingou: você é largo!", brinca o então camisa 1.
Veio a decisão nos pênaltis contra o Bangu e o triunfo. "Não ganhamos nem as medalhas, disseram que venderam elas para os sócios ouro. Mas tudo bem, temos orgulho", considera Rafael. Após escrever a página mais importante da história do Coxa, Tóbi só faria um reparo: "A única coisa que eu queria é que o clube tivesse seguido entre os melhores do Brasil."
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