Enquete
Por que Zé Roberto foi o melhor jogador do futebol paranaense?
"A maior virtude do Zé Roberto era a impulsão e a qualidade e rapidez que tinha dentro da grande área. Tinha um raciocínio incrível quando estava na grande área."
Capitão Hidalgo, ex-jogador do Coritiba e radialista.
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"Ele realmente era muito bom. O que vou dizer? Era aquilo que alegra os olhos. Para entender, só mesmo quem viu ele jogar. Era muito acima dos outros. Pena que não se cuidava. Senão seria ainda melhor."
Edson Mauad, ex-dirigente e Coritiba e empresário.
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"Era extremamente técnico, matador e sabia usar muito bem o calcanhar. Na época do Sócrates, muitos comparavam com o estilo do Zé. Eram épocas diferentes, mas serve para ver o nível em que ele estava. No Coritiba ele foi notável. Realmente estava acima da média."
Fernando César, radialista.
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"Ouvi falar muito bem do Zé nos tempos que joguei no Botafogo. Vim a cruzar com ele aqui no Atlético, em 68, e aí constatei: era fantástico. Depois ele foi para o Coxa e jogou mais ainda. Vi o abacaxi que era jogar contra. E eu sei distinguir, pois joguei com Garrincha, Rivelino, Zagallo..."
Sicupira, ex-jogador do Atlético e radialista.
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"O Zé Roberto foi o jogador mais espetacular que apareceu no futebol paranaense. Ele fazia todo o tipo de gol: de bicicleta, de cabeça, com os dois pés... Ele inventava as jogadas na hora, mas não para aparecer, e sim porque era a melhor opção."
Edson Militão, jornalista.
Zé Roberto faz silêncio. Depois, com a voz embargada, diz: "Nossa Senhora, estou emocionado". O "Gazela", aos 63 anos de idade, não esperava que seus dribles fantásticos e gols incríveis (aqui vale todos os adjetivos sem medo do senso comum) ainda retumbassem pelas bandas do Paraná após mais de 30 anos. Muito menos que ainda tivessem tanta força.
O jogador que marcou história defendendo as cores de Coritiba e Atlético no anos 60 e 70 foi escolhido o melhor jogador que atuou no futebol paranaense em todos os tempos na eleição dos "Cem Melhores do Futebol Paranaense", publicada ontem, na Gazeta do Povo. Foram 74 eleitores, entre jornalistas, comentaristas, narradores, radialistas, historiadores... Mas quase sempre a mesma opinião: Zé Roberto.
De Serra Negra, interior de São Paulo, onde se prepara para a aposentadoria como funcionário público, o ex-jogador não tem dúvidas de que foi nos gramados paranaenses que mostrou o seu melhor. Lembra da chegada no Atlético em 1968, da ida para o Coxa em 71, mas deixa de lado o seu retorno ao Furacão, em 77. "Aí já estava parando, machucado. Não conta, né?"
Diz que, na época, era fácil de jogar por aqui. O campeonato era bom. Os companheiros de time, incomparáveis ao que se vê hoje em campo. Acha mesmo que, com o nível atual do pessoal, não dá mesmo para deixar cair na noite. Coisa que no seu tempo não via problema nenhum.
"Olha, eu sempre gostei de sair. Mas falam umas inverdades minhas. Eu saía segunda, terça e quarta, mas nunca em véspera de jogo", conta. E ri.
É porque está lembrando do começo de sua passagem pelo Coritiba, quando foi contratado por Evangelino da Costa Neves, o Chinês. Eram 11 horas da manhã, na casa do presidente Alviverde, quando o contrato já estava meio acertado.
Evangelino perguntou: "Um uísque?" Zé Roberto: "Claro!" O repórter que presenciava a cena perguntou: "Mas a essa hora?" E Zé Roberto: "Não gosto de guaraná!".
"Depois esse repórter ainda falou para o Evangelino que ele tinha arranjado para cabeça. O Chinês respondeu: contratei um problema para mim durante a semana e para outros no fim de semana."
Uma verdade, afinal, Evangelino já sabia como era ter de enfrentar o jogador quando ele vestia a camisa rubro-negra. E depois confirmou a sua profecia quando Zé recebeu a Bola de Prata em 72, foi artilheiro em 73 e ajudou o clube a conquistar o Torneio do Povo no mesmo ano. Dessa época, aliás, vem o gol que o craque considera o mais memorável de sua carreira.
No dia 14 de março de 73, uma quarta-feira, o Coritiba tinha uma partida importante contra o Londrina pelo Estadual. Zé Roberto estava com o tornozelo engessado, nem participava da concentração. Porém, "sem sono", aportou cedo no local para jogar baralho com os companheiros. Foi quando o técnico Tim o chamou num canto: estava com problemas.
"Disse que ia colocar o Abatiá e o Hélio Pires, mas achava que pelas características parecidas eles iam acabar sendo bem marcados. E perguntou se já dava pra eu tirar o gesso. Falei que achava que não, mas o médico tirou, tava meio doído. Fizemos uma botinha para eu ir para o jogo", lembra Zé, que ficou meio apreensivo. "Então eu recebi uma bola do Aladim na pequena área. E fiquei com medo de chutar, pelo pé. Vvirei de costas para o gol, eles pensaram que eu ia tocar, mas vi o goleiro vindo e dei de calcanhar. Vencemos por 3 a 0 e o Tim me tirou 10 minutos depois".
Após as lembranças, Zé Roberto também pede para votar, e faz a sua lista dos melhores, com Dirceu Krüger e Sicupira no topo. Depois enumera ainda Cláudio Marques, Bráulio, Roderlei, Charrão, Madureira e Abatiá.
"Mas não tem mais jogador assim. Hoje, o cara jogou duas, três partidas, e já é craque. Mas craque é aquele que mantém sempre. Pode jogar uma ou duas mal, mas à maioria ele arrebenta", diz. "E na nossa época tinha muito desses. No Paraná estava cheio, no Água Verde, Britânia, Londrina. Era um baita campeonato".
Na despedida, Zé Roberto achou, talvez por simpatia ou humildade, que o melhor seria agradecer por ter sido o melhor. Disse: "Obrigado". "Obrigado a você, Zé", foi a resposta.