Os acidentes graves de trânsito (registro com vítimas) tiveram um crescimento de 28,24% nos últimos dois anos no Paraná, após pelo menos quatro anos praticamente estáveis. Ao todo, o estado registrou 145.232 acidentes entre 2003 e 2004, sendo 69.649 (ou 47,95%), com vítimas fatais e não-fatais. Na comparação desses dois anos com 2002, foram registrados 8.059 casos a mais com mortos e feridos.
As rodovias continuam sendo o principal palco de fatalidades. No ano passado, por exemplo, 73,85% das mortes no trânsito ocorreram por conseqüência de acidentes nas estradas. Neste período também foi registrado aumento da frota de veículos no estado. Em 2004, foi totalizada uma frota de cerca de 3 milhões de veículos, o que equivale a um aumento de 17,04% desde 2002.
O grande responsável pelo aumento brusco na quantidade de acidentes seria a vulgarização do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) na opinião do diretor geral do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), Marcelo Almeida. "Ele caiu em banalização após oito anos. Quanto mais longe do código, maior a percepção da impunidade. A coisa está piorando, as pessoas perderam o medo de perder pontos na carteira", avalia Almeida. Para o diretor, falta rigidez nas punições previstas nas leis do CTB, de 23 de setembro de 1997. "O código é muito solto. Nunca vi alguém matar uma família porque estava alcoolizado e ir parar atrás das grades. No trânsito ninguém vai preso", comenta.
As más condições das rodovias, onde ocorrem a maioria dos acidentes graves, e os excessos dos motoristas, também têm sua parcela para este trágico resultado na avaliação de Almeida. "Há a má conservação da malha viária, das placas de sinalização, muitos buracos, e as pessoas andam em velocidades muito maiores do que deveriam", afirma. A saída, de acordo com Almeida, deveria ser a diminuição da velocidade máxima permitida nas vias e o aumento do número de lombadas eletrônicas e dos radares. "O cidadão só respeita a lei se estiver sendo vigiado", conclui.
A opinião de Almeida é compartilhada com o advogado Marcelo Araújo, especialista em trânsito e professor universitário de Direito em Trânsito em Curitiba. "Acabou se perdendo o medo", afirma. Araújo acrescentou ainda que os motoristas não estão sofrendo as conseqüências das infrações, como ficar sem dirigir. "Hoje há 50 mil pessoas que deveriam entregar as carteiras, mas apenas 10% (5.000) se sujeita à penalidade. E isso não há como fiscalizar", diz o advogado.
Segundo Araújo, as autoridades são conscientes do que considera uma perda do medo desde a implantação do CTB. "Tudo que é imposto através do medo não se sustenta. Já era previsível", comenta. Sobre isso, Araújo faz uma comparação com normas em países de leis mais rígidas. "Até que ponto diminuíram as mortes com a pena de morte ou a mutilação de membros", indaga. A melhor forma de reverter a situação atual nas ruas e estradas do Paraná, na avaliação de Araújo, seria a veiculação de massivas campanhas publicitárias, principalmente mesclando daquelas que chocam, com as que ironizam e as "lights", as quais mantêm o tema na lembrança das pessoas.
Há também que não acredite na vulgarização do CBT, como é o caso do Diretor de Trânsito da Diretran, em Curitiba, coronel Gilberto Foltran. "É a morte que está banalizada. A população tem a morte como coisa inevitável, do destino", diz. Para Foltran, os cidadãos deveriam cobrar mais das autoridades. "Devia ter mais manifestação popular no sentido de que não aconteça", afirma.
O diretor acredita que a educação é o melhor caminho que as autoridades podem tomar para levar à consientização. "O ideal mesmo é que não houvesse multa, acidente de trânsito, infração, mas isso é utopia. E se não aprender pela educação, então que seja pelo pagamento de multa. Trânsito é coisa séria, que mata, aleja. É isso que as pessoas precisam entender", conclui ele.
Interatividade:
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