
Um único título. O retrospecto modesto contrasta com um perfil campeão. Nílson Borges não precisou ser formado no Atlético nem levantar muitas taças para tornar-se um ídolo. Talvez o nome com maior longevidade no Rubro-Negro. Viveu quase a metade da própria existência do clube, que chega aos 83 anos segunda-feira.
Em 2008, o ex-ponta-esquerda completaria 40 anos de serviços prestados ao Furacão. Não completará mais. Até o fim do mês, Bocão, como é carinhosamente conhecido, vai se despedir.
A reformulação no departamento de futebol atingiu o ex-jogador, hoje com 66 anos. Outros nomes de grande vínculo com o Atlético, como Antônio Carletto Sobrinho e Borba Filho, e alguns de menor escalão também sucumbiram à nova estrutura.
Borges estudava a aposentadoria há alguns meses. Mas quando ela chegou de forma compulsória, o baque foi inevitável.
"Nossa, é muito difícil. A gente sente muito. Na minha família foi aquela choradeira, pois todos são atleticanos. Até quem não era, virou", conta. O rubro-negro por imposição é um dos dois genros. Deixou de lado a torcida pelo Coritiba "e agora até briga pelo Atlético", garante o sogro.
A trajetória de Nílson Borges no Atlético começou em 68. O ponta-esquerda defendia o Corinthians quando foi procurado em casa por representantes do lendário presidente Jofre Cabral. Pediu para conversar com a esposa grávida antes e aceitou o convite.
Chegou para ajudar o Rubro-Negro a sair do jejum. E é por isso que o título solitário tem seus méritos. "Ganhamos o Estadual de 1970. Havia 12 anos que o clube não era campeão. Foi uma conquista inesquecível porque vencemos na raça. Tínhamos um time modesto e pouquíssimo dinheiro", relembra.
A penúria aumentou em meados da década e os atrasos de salários passaram a ser recorrentes. "Foi o pior momento. Mas eu era tão bem tratado no estado e gostava tanto do clube que não quis ir embora."
Ficou e fez amigos como Sicupira, Alfredo e Júlio (para citar apenas alguns). Trabalhou como técnico de todas as categorias incluindo esporádicas incursões tampão no profissional , auxiliar e olheiro. Foi dele a responsabilidade de espionar todos os adversários na maior conquista atleticana, o Brasileiro de 2001. Por causa disso, só assistiu aos dois jogos finais com o São Caetano. "Nos outros eu estava viajando. Foi incrível. Me emocionei e até chorei, como uma legião de atleticanos."
E nesse tempo todo assistiu à transformação do clube. Uma alteração e tanto para quem chegou a nadar com um jacaré na concentração usada pelo time em Colombo, nos anos 70.
A aventura foi, na verdade, uma brincadeira do jogador Vaquinha. Natural de Mato Grosso, ele trouxe um filhote de réptil e colocou no lago usado pelos atletas.
"Um dia estava o time inteiro na água quando descobriram o jacaré e saíram correndo, no maior desespero. Parecia um filme. Ele era pequeno, mas já machucava", conta e se diverte.
O bom humor de Bocão alivia o medo da nova fase. "Vou aproveitar para pescar, passear com a esposa. Vejo a reformulação do Atlético como algo normal. Mas infelizmente alguém sofre com isso."
Para amenizar a saudade, promete ir aos jogos. "Deus vai me ajudar. Mas vou sentir muito." Por quê? "Porque o Atlético é minha vida, oras."
Ontem, o diretor desportivo Marcos Teixeira disse não ter nada ainda para falar sobre a saída de Nílson Borges e dos outros profisisonais.
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