Sei que a história de Ulf Lindberg, o filho sueco de Mané Garrincha, é conhecida por aqui. Há quatro anos o pessoal do Torto Bar, talvez o maior fã clube de Garrincha no mundo, trouxe Ulf para Curitiba. As fotos do gênio da bola espalhadas pelas paredes da casa foi um generoso ato de resgate, que sensibilizou o filho e homenageou o pai – eles que em vida nunca se conheceram. Portanto, não é novidade. Na semana passada, porém, saindo da Olimpíada para Estocolmo, pude avaliar com mais profundidade a gratidão prestada naquele ano pelo boteco da Paula Gomes.

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Fomos para o Hotel Scandic, onde estavam os campeões de 58 e que seriam homenageados antes do amistoso contra a Suécia. Não era o hotel da seleção de Mano Menezes. Além de nós, apenas um segurança especial para Pelé, o pessoal da Câmara do Comércio do Brasil, que organizou a cerimônia para a rainha Silvia, e dois senhores suecos que diziam ter assistido à decisão de 1958. Não havia mais nenhum jornalista.

Vi Ulf conversando com Mazzola e Zito, e entrei no papo. O filho de Garrincha contou da emoção que sentiu em Curitiba e que pretender voltar para cá. "Agora tudo o que me falta é estar com Pelé pela primeira vez", disse.

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Quando Pelé desceu e o abraçou fraternalmente, o olhar distante de Ulf brilhou. Foi o abraço que ele nunca havia recebido do pai. Emocionou. Foi demorado. Atrasou até o compromisso real... Mas a realeza se entende. Talvez o momento mais iluminado da vida de Ulf. Registrei o fato. Fotografei. Senti ali a energia imensa do que é um afago quando a tímida carência não suporta e pede.

Conhecendo a injustiça cometida contra o pai, gênio e ingênuo, e parte do sofrimento do filho que nem a mãe conheceu – logo que nasceu foi deixado num orfanato – faço minhas as palavras de Nelson Rodrigues: "Somos um povo de tão pouco amor, e com tal destino suicida, que na primeira esquina tratamos de esquecer o herói que nos restava. De 1966 para cá, Garrincha foi mais irrelevante, mais secundário, mais apagado do que um cachorro atropelado".

A identidade

O jogo de hoje entre Paraná e Atlético vai além dos três pontos – aliás, o empate é totalmente descartável. Acertos e desacertos no aluguel do estádio provocaram mal-estar entre as diretorias. As torcidas também não se toleram. Mas o que vale é no campo e lá dentro penso que será uma partida franca. Os tricolores se conhecem melhor e jogam em casa. Mas o astral de três vitórias seguidas do Atlético nivela tudo. No geral poucos atletas se identificam com o torcedor. Lúcio Flávio e Ricardinho, este dirigindo, têm a cara do Tricolor. Manoel, Deivid e Paulo Baier são veias e artérias rubro-negras. A identificação é pouca, mas é a realidade de hoje. Por isso, mais do que nunca, devemos ser gratos àqueles que ainda jogam com alma e coração.

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