Esporte e escola. A junção dessas duas instituições é apontada, há anos, como agente transformador da sociedade. Agora, com a euforia do Rio-2016, essas duas palavras tendem a ser repetidas em proporção geométrica. Desde 2005, as Olimpíadas Escolares, promovidas em parceria entre Ministério do Esporte, o COB e as Organizações Globo, criam mais um meio de descobrir talentos para os Jogos que o Brasil sediará. Olheiros de confederações acompanham de perto o desempenho de estudantes de 12 a 17 anos, conta o paranaense Edgar Hubner, o responsável pela organização do evento.
Seu início no esporte foi na quadra de handebol do Colégio Estadual do Paraná. Foi o primeiro atleta filiado à Federação Paranaense de Handebol, entidade que presidiu anos depois. Em 2004, aceitou o convite do presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, para atuar na entidade. À Gazeta do Povo, Hubner falou sobre a evolução do esporte escolar brasileiro nos últimos cinco anos e como o Rio-2016 pode chamar ainda mais a atenção da sociedade para as competições escolares.
Com a confirmação do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada, haverá mais atenção dada às Olimpíadas Escolares? O atual modelo terá alterações por causa da escolha?
Com o Rio-2016, lógico que o desporto escolar passa a ser mais atraente. Mais escolas vão querer participar e esperamos que isso aconteça. Estamos caminhando bem nesses cinco anos, vamos continuar crescendo. Planejamos incluir novas modalidades, respeitando os recursos que temos. Cada vez que fazemos uma inovação na etapa nacional, a tendência é que essas modificações sejam adotadas nas próximas edições estaduais e municipais.
É possível ter uma projeção de que parcela dos atletas que hoje disputam as Olimpíadas Escolares estarão nas seleções dos Jogos do Rio, em 2016?
Estamos a sete anos dos Jogos, os jovens de 15 a 17 anos das Olimpíadas Escolares do mês que vem, em Londrina e em Maringá, têm potencial para disputar medalhas no Rio. Temos como exemplo a Bárbara Leôncio (atleta de 18 anos, medalha de ouro nos 200 metros no Mundial de Menores, em 2007), que participou de Olimpíadas Escolares. A Sara (Menezes, judoca, que disputou os Jogos de Pequim em 2008) é tricampeã brasileira escolar. Este ano, o técnico da seleção brasileira juvenil de vôlei listou quase 20 nomes de atletas entre 12 a 14 anos com talento potencial. Nos jogos para atletas entre 15 e 17 anos, o técnico da seleção masculina de handebol confirmou presença, para ministrar curso e observar atletas.
Além de promover competições, o que mais é necessário para que o esporte esteja presente no ensino?
Tem de se trabalhar muito a comunicação para que mais escolas em mais municípios entendam como podem participar e os benefícios de fazer parte das Olimpíadas. Não é um projeto só de alto rendimento, é um projeto de transformação social. Temos histórias que mostram isso. Vemos crianças que nunca andaram de escada rolante, de avião vivendo isso tudo. É uma transformação gigantesca, uma ampliação do horizonte de cada um. Há histórias até engraçadas. Na edição das Olimpíadas em João Pessoa (PB), tínhamos de pedir o reforço de salva-vidas na praia porque muitas das crianças nunca tinham visto o mar. O esporte permitiu isso.
As Olimpíadas são financiadas com os 10% do que o COB recebe da Lei Agnelo-Piva, destinado ao esporte escolar. No Ministério do Esporte, no entanto, o projeto está locado na Secretaria Nacional de Alto Rendimento. Afinal, o objetivo principal é revelar atletas ou democratizar o esporte pelo ambiente escolar?
As Olimpíadas Escolares têm servido de exemplo de modelo para outros países porque não se limitam a ser um evento esportivo, mas também sócio-educacional. Além dos jogos, os estudantes têm palestras, participam de exposições sobre temas como a prevenção do doping.
O trabalho nas bases do esporte nos estados brasileiros tem evoluído? Há um desenvolvimento maior em determinada região do país ou uma tendência à uniformidade?
As regiões estão se equiparando. Algo que chama a atenção é o grande número de atletas vencedores das escolas públicas. A distribuição de medalhas também mostra isso. No judô, as 20 medalhas de ouro foram ganhas por judocas de 14 estados diferentes. Vejo um fortalecimento geral do atletismo. Na natação, a predominância ainda é de alunos da rede particular. Como evitar que o desejo de formar atletas para 2016 mude o foco no desporto escolar, fazendo com que professores de educação física das escolas passem a priorizar o aluno com potencial para treinamento no alto rendimento?
São duas coisas separadas. O projeto das Olimpíadas Escolares abre espaço para o futuro atleta. Quando vejo um garoto do interior do Brasil receber o convite para ter uma bolsa de estudos para treinar, vejo que o projeto cumpre parte do seu papel. Os vencedores da etapa nacional podem receber o Bolsa Atleta. Atletas não federados em sua modalidade têm a chance de ser revelado nas Olimpíadas Escolares.
Como foi a escolha de Londrina e Maringá para receber as Olimpíadas dos estudantes de 15 a 17 anos, em novembro? Quanto o COB investe na organização do evento?
O COB investe, em média, R$ 3 milhões e prioriza propostas que atendam, primeiramente, a três critérios: vontade política da prefeitura e estado local, para cumprir o caderno de encargos; ter rede hoteleira suficiente e boas instalações esportivas. Como Maringá não tinha quartos suficientes, surgiu essa parceria com Londrina. Esperamos ter a participação de 26 estados e o número recorde de atletas. Não é só um evento esportivo, é um investimento na cidade que movimenta o comércio da região. Deixamos um legado importante, com a capacitação de voluntários e as melhorias nos aparelhos esportivos.
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