Há alguns anos esteve no Brasil um técnico escocês chamado Andy Roxburgh, da comissão de estudos técnicos da Fifa, participando de uma daquelas conferências de fins de ano no Rio de Janeiro. Na verdade, o escocês não fez uma palestra, fez um apelo inflamado: que o futebol brasileiro abandonasse a mentalidade subdesenvolvida de imitar o futebol europeu. E que tratasse de jogar o futebol brasileiro de verdade, pelo motivo tão simples de ser esse o melhor que se teve conhecimento no mundo inteiro.

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Hoje em dia esse conceito foi colocado em xeque, um pouco pela decadência técnica do nosso futebol e muito pelo revolucionário sistema de jogo do Barcelona e, por extensão, da seleção espanhola.

Um dos intelectuais em evidência nos últimos tempos, entre outras coisas por ter publicado um livro sobre o assunto que mais entende com edição esgotada. Se reeditado agora, provavelmente se transformaria em best seller, sobretudo se atualizado com o que aconteceu ao autor na última década, culminando com sua consagradora carreira como técnico do Barcelona: trata-se do catalão Josep Guardiola i Sala, autor de Mi Gente, Mi Fútbol.

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Por "supuesto" que não estou sugerindo a contratação de Pep Guardiola para dirigir a seleção brasileira e muito menos esperando de nossos principais técnicos incursões literárias pelo intelecto da bola. Apenas gostaria de realçar a cultura dos europeus que amam o futebol. Não, não estou pedindo que o Hulk ou o Neymar leiam Eça de Queirós na concentração. Uma boa alfabetização basta. Tostão e Sócrates jogaram muita bola e se formaram em Medicina, belíssimas exceções que devem ser reverenciadas. E muito menos tenho a doce ilusão de que algum futebolista brasileiro um dia chegará a ser flagrado lendo Shakespeare como aconteceu com Beckenbauer, surpreendido por Armando Nogueira na concentração da seleção alemã, na Copa de 1970.

Educação formal e uma boa dose de cultura não fariam mal a ninguém neste país tão atrasado, sejam políticos, administradores, liberais ou, por que não, esportistas. Se os estrangeiros são os maiores admiradores do futebol brasileiro, e se somos pentacampeões do mundo, coisa que nenhum outro país é, por que diabo teriam técnicos, jogadores e diversos comentaristas a estranha sensação de querer macaquear os europeus?

Devemos confiar na técnica do jogador brasileiro, mas que haja uma mudança de comportamento para incentivar o desenvolvimento intelectual de todos. Só assim os nossos talentosos jogadores se tornarão pessoas equilibradas e conscientes de suas responsabilidades para encarar os grandes desafios impostos por sociedades culturalmente mais antigas e muito mais evoluídas.

O futebol moderno está exigindo mais do que bons jogadores, mais atletas de alto nível de rendimento com inteligência e caráter de competidores.

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