Weggis, Suíça – Ronaldinho prende a bola no peito do pé direito, sob olhar admirado de Kaká e Robinho. Concentrado para não deixá-la escapulir, o jogador do Barcelona apóia os dois braços no chão e inicia o movimento de uma cambalhota. Sem jogo de imagem ou edição (em pleno campo de treinamento em Weggis), fecha sem erro o 360 graus. Os quase 5 mil espectadores aplaudem de pé o craque – e os colegas de seleção ficam de boca aberta com a cena.

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O jogador admitiu ontem – em entrevista para pequeno grupo de jornalistas, dentro do Park Hotel Weggis – que está se especializando cada vez mais na arte de brincar com o futebol. Fala das peripécias rindo e agradece os colaboradores, amigos e anônimos, que lhe mandam vídeos com inovações na arte da embaixadinha.

Marca registrada do camisa 10, o show particular com a bola dominada até lhe rendeu pedidos sob encomenda para comerciais de televisão – isso sem contar toda a polêmica causada na seqüência de tabelinhas com o travessão.

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Durante 15 minutos a principal estrela da Copa 2006 falou sobre a família, ídolos, falta de privacidade, expectativa para o Mundial e até sobre o visual exótico.

Dono do maior faturamento na temporada (R$ 36,6 milhões em publicidade e R$ 22,2 mi em salários), Ronaldinho Gaúcho termina a entrevista reverenciando Ronaldo. Diz ser fã do centroavante, a quem atribuiu o posto que ocupa hoje – o de melhor do mundo.

Explica essa mania de fazer malabarismo com a bola.

(risos) Meus primos gostavam de fazer essas brincadeiras, meu irmão (Assis) também. Cresci vendo isso. Então sempre gostei desse negócio, desde pequeno. Sou estou dando continuidade.

E a inspiração vem de onde?

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As pessoas começaram a enviar vídeos para mim. Muitas coisas eu vou copiando; outras criando. É meu passatempo predileto.

Então seus conhecidos lhe incentivam com vídeos...

Muita gente manda. Pessoas que eu não conheço também me mandam. Mas quando o meu sobrinho (Diego, 11 anos) está junto comigo, a coisa ganha força. Ele adora bola.

Já percebeu que o público espera ver algo mágico quando você ensaia embaixadas?

Soube dessa expectativa no primeiro dia de treino aqui, quando brinquei com a bola e vi o povo aplaudindo e feliz. Depois percebi que acaba o treino e fica todo mundo esperando algo. Ninguém sai (do estádio). Isso é muito legal.

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Esse tipo de coisa pode ser levado para o jogo? Algo sério?

É um passatempo, algo extracampo, uma diversão. O futebol atual não tem nada a ver com isso.

Como foi que nasceu aquela cambalhota sem deixar a bola cair?

Demorou. Treinei um monte de vezes e não consegui. Nem lembro o tempo, acho que uma semana. Fui fazer uma propaganda (de chicletes) e disse para a turma da agência de publicidade: ‘estou treinando um negócio e dá para fazer’. Eles gostaram e fechou.

Nota-se que os jogadores também admiram esse teu domínio com a bola. Eles pedem dicas?

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A gente fica sacaneando um ao outro. Não tem essa de pedir ajuda, pois todos têm qualidade. A galera sempre traz coisa (novas firulas) para desafiar o colega. É uma espécie de competição nossa.

Alguém no mundo é melhor que você nisso?

Tem muita gente, certeza. Há profissionais fazendo só isso na vida, nem jogam bola. É só embaixadinha. Eu recebo vídeo direto desses caras e não tem nem comparação com o que eu faço.

E aquele negócio de acertar a trave várias vezes?

Não voltei a treinar mais (risos).

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Aquilo é mentira, não é?

Mentira. Você acha? Treinei muito para fazer aquilo lá (gargalhadas).

Tem alguma influência dessas acrobacias no seu estilo de jogo?

Tento fazer meu estilo ser o mais objetivo possível. Utilizo meus dribles para que a jogada acabe em gol. E estou feliz com o resultado.

Por que você tem preferido as assistências aos chutes em gol?

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Aqui (na seleção) tem muita gente de qualidade. A primeira opção é tocar para quem está sozinho. Pego a bola e vem o Adriano, Ronaldo, Kaká. Minha função é essa (ajudá-los). Com certeza, por causa disso tudo, diminuiu muito o número de finalizações.

Qual tem sido a música mais tocada na concentração? Pagode?

Tem inúmeras músicas que a gente gosta. Pagode e outras, mas não tem nada de especial.

Como está sendo esse período de reclusão?

Da forma como a gente esperava. O grupo sabia que ia ser legal ficar junto novamente. É sempre uma alegria reunir esse pessoal.

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O melhor do mundo precisa ser o melhor da Copa?

Se for, melhor... O pensamento é que o Brasil seja o melhor. Se isso acontecer, o resto acontece naturalmente. Meu objetivo é esse. Se tudo sair perfeito para mim, ótimo.

Outro dia divulgaram fotos do seu filho. Isso te chateia?

Chateado não. Apenas surpreso. Ele (João, 3 anos) estava na praia com a mãe e foram flagrados.

O garoto vai ser jogador?

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Ele gosta de bola. Falo com ele e escuto ‘papai, bola’. Já me identifica na tevê. É uma fase muito legal. Estou feliz.

Vocês se vêem pouco, não?

Vejo ele todo dia. Agora na concentração, a gente se vê em webcam. Pessoalmente, fica difícil, pois não moramos juntos.

Ser celebridade não incomoda?

Não. É o sonho de todo jogador. Ter o trabalho reconhecido mundialmente. Não deixo de fazer nada que eu tenho ou gosto de fazer. Levo essa consciência de ir a um lugar público e atender as pessoas.

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Alguma vez você teve que sair disfarçado?

No máximo um boné. Disfarçado não.

O uso desse capuz virou uma marca sua, não?

Sempre gostei de usar. Agora me deram um modelo com a cor da roupa de treinamento (azul).

Você pensa em usar aparelho dentário no futuro?

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Teve uma época que pensei. Depois ficou difícil, pelo medo da adaptação. Mas penso em ver isso futuramente.

Há alguém no futebol mundial de hoje melhor que você?

Têm muitos. Só do meu lado aparece um monte. Sou jovem e tenho muito que aprender ainda. Quero me manter nesse nível por muitos anos.

Quem, por exemplo?

Ronaldo. Meus ídolos serão sempre os mesmos: Zidane, Ronaldo, Romário...

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Mas o Ronaldo não está gordo?

Ta forte pra caramba (risos).