Maurício Shogun ficou mais apreensivo por passar dois dias sozinho no Japão do que no ringue, onde derrotou quatro dos lutadores mais durões do vale-tudo para ficar com o cinturão do Grand Prix dos médios. Caçula do Pride com 23 anos, o curitibano prolongou sua estada no Oriente para atender ao assédio do público e da imprensa japonesa pelo mais novo astro da competição.
Ele foi campeão no último domingo, ao derrotar o compatriota Ricardo Arona na decisão do torneio bienal da categoria até 93 kg. Além de garantir o principal título da carreira de Shogun, a vitória vingou seu ídolo, companheiro de academia e campeão geral dos médios, Wanderlei Silva, eliminado por Arona na semifinal.
Após o feito já sem o staff da Chute Boxe, que voltou ao Brasil , o atleta iniciou uma maratona de entrevistas. Nem sabe quantas concedeu. "Fui em vários programas de tevê. Lá existem muitas publicações especializadas e até para revista feminina eu falei", contou, divertindo-se no seu desembarque ontem, no Aeroporto Afonso Pena.
Vestindo uma camiseta com o número 1 em japonês (presente de um fã no hotel, em Saiatama, local do torneio) e com o cinturão dourado nos ombros, ele foi recepcionado com bexigas, faixas e festa pela família e amigos.
"Eu sabia da importância do torneio, mas agora pude experimentar toda a repercussão. Com certeza é um avanço na minha carreira, agora com mais responsabilidade. Tenho um título a defender", afirmou.
Além de Arona, ele bateu o americano Quinton Jackson, o brasileiro Rogério Minotouro e o holandês Alistair Overeen. O último foi para o hospital e nem participou da cerimônia de premiação no domingo. Além do cinturão, ele recebeu no evento um cheque de 20 milhões de ienes (R$ 426 mil).
O que vai fazer com a bolada (uma parte vai para a academia)? "Nem pensei ainda, vou conversar com o meu pai e a minha mãe", disse, mais preocupado com o seu primerio compromisso no Brasil: comer arroz, picanha e batatas fritas, após semanas de dieta.
Só um garotão
Abraçado aos pais e irmãos (os lutadores Murilo Ninja e Marcos Shaolin), Shogun é só Maurício. "Ele é um garotão ainda. Mas possui um talento nato", avalia o professor Rudimar Fedrigo.
Para outro mestre do atleta, Rafael Cordeiro, Maurício comprovou ser o sucessor natural de Wanderlei Silva. No futuro, pois a principal cria da Chute Boxe ainda está na metade da carreira. Ele tem 35 lutas no Pride e pretende chegar a 70.
"Todos esperavam uma decisão entre eu e o Wanderlei. Infelizmente não deu. Mas fiquei muito orgulhoso porque ele considerou o meu título merecido", afirmou o campeão.
Shogun apontou a concentração como um trunfo na final. "Enquanto o Arona saiu do ringue preocupado com a rivalidade após vencer o Wanderlei, eu me concentrei na luta. Por isso estava tranqüilo."
A rixa em questão é entre a academia curitibana especializada em muay thai e a carioca Brazilian Top Team, com origem no jiu-jítsu. Agora, o placar do Pride marca 4 a 2 para os paranaenses.