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Caderno exige plano específico de transporte

Nenhuma área relacionada à infra-estrutura recebe tanta atenção no Caderno de Encargos da Fifa como transporte. São dois tópicos tratando do tema nas 13 páginas do documento para a Copa-2014. É também o único ponto – dos nove abordados – que solicita um plano de ação governamental visando ao evento.

Em grau de comparação, Curitiba poderia até considerar esse aspecto como trunfo na disputa frente às demais capitais do país. Porém, pelo enfoque do questionário, a malha viária do município, assim como o deslocamento interestadual, exige ações emergenciais.

Mesmo sendo cortada por várias rodovias federais (BR-116, BR-376, BR-277 e BR-476), os problemas de conservação dificilmente suportariam uma vistoria da Fifa – em especial no caso da Régis Bittencourt, principal acesso a São Paulo.

O aeroporto, item que surge com sete indagações por parte da Fifa, também deverá ser reajustado para receber um maior número de vôos internacionais. Atualmente, há nove portões de embarque no Afonso Pena (dois deles eventualmente atendem deslocamentos desse porte), com quatro salas (três atendem apenas as viagens domésticas). Outra deficiência seria a falta de linhas de ônibus intermunicipais próximas ao local.

Já em relação aos serviços de ônibus urbanos, ponto que visivelmente favorece à candidatura do estado, não há muitas preocupações por parte dos cartolas. A entidade que comanda o futebol se limita a perguntar o custo médio da passagem, além de dados genéricos.

Como exemplo, a Alemanha investiu 4 bilhões de euros (aproximadamente R$ 11 bi) para modernizar seu sistema de transporte visando a Copa-2006. O foco central era: ampliação de auto-estradas, sistemas de operação do trânsito até os estádios, bem como o cofinancimanento de melhorias em estações ferroviárias e metroviárias nas cidades-sedes dos jogos, construção de estradas municipais e estacionamentos.

"Curitiba estaria, sim, preparada, sobretudo no aspecto da logística. Temos como exemplo da nossa capacidade de transporte o trabalho na COP-MOP (convenções da ONU sobre diversidade biológica, ocorridas no ano passado, com 5 mil participantes de 187 países)", garante Ana Cristina Moro Milleo, mestre em Engenharia Civil-Transportes pela Universidade Estadual de Campinas e funcionária da Urbs (empresa municipal que gerencia o trânsito e o transporte coletivo de Curitiba).

Rodrigo Fernandes

Diagnóstico

O que a Fifa exige – Detalhes sobre sistema de transporte em urbano em ônibus, metroviário e ferroviário; dados sobre o porte do aeroporto e restrições a vôos noturnos; informações sobre a malha rodoviária e deslocamento entre as sedes; facilidades de estacionamento no entorno do estádio; sistema de gerenciamento de tráfego próximo ao estádio; plano detalhado de melhorias na rede de transporte.

Análise – O transporte urbano, ponto forte da cidade, tem pouco peso no questionário da Fifa. As rodovias de acesso a Curitiba precisarão ser remodeladas, enquanto o Aeroporto Afonso Pena precisará ser adaptado para receber maior número de vôos internacionais.

Saúde tem dados antigos

O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) não tem dados atuais sobre os serviços médicos na cidade. As estatísticas, portanto, terão de ser atualizadas para a candidatura à Copa. Pelas informações de 2003, a capital paranaense teria 6.735 leitos em 72 hospitais. Destes, 4.063 são atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Computando a Região Metropolitana, são 9.102 vagas, segundo dados de um ano antes. Segundo pesquisa do mesmo período, quartos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) somam 319; leitos médicos, 1.859; e cirúrgicos, 1.753.

Mesmo sem a definição do estádio, é possível antecipar que há razoável número de hospitais no raio de 20 km ou 50 km exigido pelo caderno de encargos, tanto no caso da Arena quanto na área atualmente ocupada pelo Pinheirão. O acesso é rápido e fácil, inclusive para as instituições de referência como o Vitta, o Hospital de Clínicas, o Hospital Cajuru e o Angelina Caron.

Em Curitiba não há preocupação especial com epidemias ou problemas de saúde que exijam cuidados específicos. No Paraná, há regularmente casos de dengue, mas normalmente são observados durante o verão. Um inconveniente para os visitantes é a baixa qualidade do atendimento público (SUS), reclamação constante da população de todo o país.

Outra dúvida é a capacidade do município de reagir a desastres naturais ou incidentes de maior gravidade – até mesmo um atentado terrorista – já que a cidade nunca foi testada em grandes tragédias. (SG)

Diagnóstico

O que a Fifa exige – Nomes e número de hospitais em um raio de 20 km e 50 km do estádio; Serviços de emergência operantes; Informações sobre riscos à saúde dos visitantes, necessidade de vacinação dos turistas e ocorrência recente de epidemias.

Análise – Hospitais de referência, como HC, Cajuru, Vitta e Angelina Caron estão no raio indicado pela Fifa. O grau de exigência da entidade pode indicar a necessidade de mais leitos.

Qualidade de vida

A qualidade de vida dos habitantes e as inovações no tocante a planejamento urbano são as principais características de Curitiba que chegam ao exterior e podem ajudar a cidade a sair na frente como candidata a sede da Copa de 2014. Em uma pesquisa realizada pela revista Exame, no ano passado, a capital paranaense ficou em terceiro lugar entre as capitais brasileiras na avaliação de infra-estrutura. Ficou atrás de São Paulo e Rio de Janeiro.

Já em levantamento da revista Viagem e Turismo, que apontou as melhores cidades do país – utilizando quesitos como transporte, beleza urbana, segurança, hospitalidade, comida, compras, atrações, vida noturna e preços –, Curitiba apareceu na quarta colocação. Rio de Janeiro, Florianópolis e São Paulo foram as líderes. Os dois casos são exemplos do status que a cidade vem conquistando nos últimos anos.

No futebol, tem sempre um time se destacando no Brasileiro e constantemente há uma equipe disputando também a Libertadores. O Atlético sagrou-se o primeiro campeão nacional do século 21, em 2001.

O município tem pontos turísticos modernos, como a Ópera de Arame, e antigos, como o prédio da Universidade Federal, que podem entreter os visitantes. Segundo dados de 2002 do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), são cerca de 34 universidades e faculdades espalhadas pela região, assim como 70 hospitais com 9.102 leitos – estes, dados de 2002 incluindo a Região Metropolitana. Além de dezenas de salas de cinema, a cidade tem teatros importantes como o Guaíra e alguns museus, destacandose o Oscar Niemeyer. São opções de cultura para os momentos de lazer. Estima-se que atualmente existam 18 mil leitos nos hotéis da cidade.

Sandro Gabardo

Diagnóstico

O que a Fifa exige – Tradição esportiva e no futebol; Experiência em grandes eventos; Estrutura hoteleira, hospitalar, cultural e de ensino superior.

Análise – Os índices de qualidade de vida da cidade estão entre os melhores do país. Tradição esportiva também não falta, com dois títulos da Série A do Brasileiro. De acordo com o grau de exigência da Fifa, pode ser necessária a ampliação da rede hoteleira.

O trunfo da capital ecológica

A reciclagem do lixo, tema que virou moda no Brasil e no mundo, já é realidade na capital paranaense desde 1991. Por sua preocupação com o meio ambiente, a cidade ganhou o apelido de "Capital Ecológica". Assim, falta de experiência em projetos ambientais não será problema na candidatura. A questão passa a ser quanto é que os organizadores estarão dispostos a investir na empreitada, que não costuma ser prioridade. O maior desafio deve ser o de encontrar meios de evitar o uso excessivo de embalagens e de reciclá-las. A limpeza dos locais de competição também devem incomodar. (SG)

Diagnóstico

O que a Fifa exige – Avaliação de impacto ambiental; Objetivos, metas e prioridades de proteção ao ambiente; Informações sobre reciclagem e medidas de limpeza dos estádios; Campanha de preservação.

Análise – O pioneirismo no programa de separação do lixo e reciclagem indica a habilidade da cidade para lidar com dejetos. Qualidade importante para saber o que fazer com a montanha de lixo a ser produzida especialmente no estádio.

Clima atrai europeus

O inverno curitibano é conhecido pelas temperaturas mais amenas do país. Nos últimos cinco anos, a média não passou de 17°C em maio de 2005. Julho é normalmente o mês mais frio, ficando em torno de 14°C entre 2002 e 2006. Em média, o ápice de calor diário variou entre 17°C e 22°C. Os números podem ser considerados favoráveis aos jogos, sem desgaste excessivo e sem frio exagerado.

De outro lado, as freqüentes chuvas entre maio e agosto podem prejudicar as partidas, já que os estádios da cidade não são cobertos. Nos últimos cinco anos, maio e julho tiveram precipitações em cerca de 10 dias cada – um terço do mês. Junho e agosto, por sua vez, apresentaram ao menos uma semana de chuvas como média.

Com o vento em Curitiba com velocidade oscilando entre 5 e 7 km/h e a altitude irrelevante para a prática do esporte (934 m), falta apenas a umidade do ar para completar o questionário climático da Fifa. A média apontada pelo Simepar está dentro do normal, entre 70 e 80%. O aspecto que poderia ser negativo está na máxima registrada: 100%. Isso porque em locais muito úmidos o corpo tem dificuldade para eliminar o calor por meio do suor. Mas, como a temperatura nesta época é amena, isso não deve interferir no desempenho dos jogadores. (SG)

Diagnóstico

O que a Fifa exige – informações sobre níveis de umidade e temperatura no período e horário dos jogos

Análise – A temperatura amena é um grande atrativo para seleções européias. Por outro lado, a ocorrência de chuvas e a combinação entre frio e névoa em jogos noturnos podem se tornar um problema.

Os nós da segurança

A Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná (SESP-PR) não divulga informações sobre a criminalidade em Curitiba. A alegação é de que os dados atuais ainda estão sendo levantados. Resta recorrer à sensação dos curitibanos, que faz tempo não se sentem seguros em andar pelas ruas, com medo de assaltos ou dos cada vez mais comuns seqüestros-relâmpago. E nem é preciso estar na calçada. No levantamento mais recente da Urbs, de 2004, nove ônibus eram assaltados diariamente na região.

Para o tenente-coronel Roberson Bondaruk, especializado em desenvolvimento urbano sustentável em segurança pública, o nível de violência na capital é considerado aceitável – diferentemente do que se vê em São Paulo e Rio de Janeiro –, e não serve para descredenciar a cidade como sede do Mundial. Para o comandante do regimento de polícia montada, Curitiba está preparada para lidar com um evento de grande porte sem a necessidade de gastos astronômicos.

Como exemplo, cita dois casos. "Recebemos o COP-MOP (Convenção sobre diversidade biológica da ONU) e uma convenção da Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagem) que tinha 60 países representados. Fomos elogiados pela estrutura de acolhimento nos dois casos", conta.

A palavra-chave para dar conta do recado é intensidade. De acordo com o especialista, não é preciso criar nada novo, apenas reforçar o que já existe. A exceção seria a organização de um centro de atendimento ao estrangeiro, com profissionais fluentes nos principais idiomas. No mais, basta encorpar a estrutura já existente.

O patrulhamento no aeroporto, nas cercanias dos hotéis, nos pontos turísticos, nos terminais de ônibus e até dentro dos coletivos teria de ser reforçado. "Com uma escala diferenciada durante o evento e a utilização de policiais de outras regiões, não seria preciso contratar ninguém só por causa da Copa", avalia.

As centrais de rádio e o atendimento médico feito por Siate e Samu também precisariam de reforço. Uma das despesas fundamentais para o sucesso da operação estaria no treinamento dos policiais para casos especiais, como um atentado terrorista.

Pesa a favor da cidade a ausência de tumultos nos estádios nos últimos anos. A última batalha campal ocorreu em 1999.

O tenente-coronel tem na ponta da língua a estratégia para manter a ordem nas arquibancadas. "O ambiente é comprovadamente um determinante do comportamento das pessoas e o futebol já coloca as emoções à flor da pele. Por isso, o estádio é fundamental. Tendo um estádio limpo, confortável e que transpareça segurança, as ocorrências serão minimizadas", diz, citando que atualmente apenas a Arena tem condições de receber uma competição internacional de peso – segundo avaliação da Comissão Paz no Esporte, que envolve o Ministério da Justiça e o Ministério do Esporte.

Somado a isso, ele sugere um controle de acesso rigoroso para evitar superlotação, planejamento e divulgação antecipada de onde ficará cada torcida, sinalização adequada na praça esportiva, bilheterias suficientes para evitar filas, além de policiamento em número proporcional. (SG)

Diagnóstico

O que a Fifa exige – Definição de zonas de proibição de vôos sobre os estádios em dias de jogos; Informações sobre a estrutura policial do estado e município; Avaliações especializadas sobre risco de distúrbios civis, índice de criminalidade, riscos de catástrofes naturais e ataques terroristas; Detalhes sobre distúrbios de larga escala em eventos esportivos nos últimos dez anos

Análise – A violência é crescente como em todo o país, mas não chega a níveis críticos como no Rio e em São Paulo. Seria necessário treinar os policiais para situações extremas, como o caso de atentado terrorista.

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