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Quem manja de bola conta que no futebol só existe uma verdade: a vitória. Pois fora do gramado, nos bastidores, nada é mais verdadeiro que o dinheiro. Seja no espanhol Real Madrid, o clube que mais faturou em 2006, seja no curitibano Trieste, campeão da Suburbana no ano passado, os tempos românticos do futebol amador se foram – não totalmente, ainda bem – e na atualidade, ao final de cada temporada, o mercado de contratações de jogadores pouco difere do que acontece no profissional.

Exceto pelas cifras envolvidas, é claro. Bem menos polpudas que as oferecidas para "Ronaldinhos e Beckhans". A moeda antiga, do tempo do "amadorismo puro", definitivamente já era na Divisão Especial da Suburbana – que volta aos gramados dia 10 de março. Foi-se o tempo em que muitos atletas entravam em campo por uma bela churrascada regada a cerveja após as partidas.

Hoje em dia, no máximo rola uma "força" no aluguel, nas contas e, quando necessário, um troco para a condução. Ainda assim, na maioria dos clubes, graças à ajuda de patrocinadores.

"Quebrou o encanto, mas é assim mesmo, um reflexo do que acontece no Brasil. Culpa dos clubes, que foram inflacionando o mercado", aponta José Navarro Peres, vice-presidente do Iguaçu.

Na elite dos corajosos boleiros do subúrbio, composta basicamente pelos que recém aposentaram suas chuteiras, os clubes oferecem de R$ 150 a R$ 250 reais por jogo – no caso dos considerados grandes, entre eles Trieste e Combate Barreirinha. Sem contar o oferecimento, em alguns casos, da chamada "luva", dinheiro para o jogador trocar de agremiação, que vai de R$ 1 mil a R$ 4 mil.

No segundo escalão, formado pelos jogadores jovens ou de menor expressão, a grana para suar a camisa nos finais de semana pode representar um extra de R$ 20 a R$ 100. É nessa faixa que os dirigentes trabalham para convencer os atletas a ingressarem em suas equipes.

Mas não é só a grana que entra nas negociações. Além disso, tem a conversa de pé-de-ouvido entre as temporadas. O poder de influenciar é decisivo para fechar um negócio.

"O jogador se interessa se enxerga uma boa oportunidade. Um time com condições, com bons jogadores", diz Marco Aurélio Oliveira, presidente do São Paulo.

Ao final de cada campeonato, termina o vínculo dos atletas com os clube, e eles ficam livres para escolherem seu destino. Dessa forma, conhecer bem os jogadores também é fundamental. Assim se evitam as "deserções", as "traições" (mudança para o rival, o que é muito comum) e se consegue manter uma base.

"É um universo pequeno na cidade. Então conhecemos bem as manhas e os vícios deles", revela Juarez Mocelin, técnico e diretor do Capão Raso.

E nesse poder de influência financeira baseada na "intimidade" dos boleiros, não poderia ficar de fora a camaradagem. Foi desse jeito que o técnico Ivo Petri montou o time do Combate Barreirinha para a temporada 2007. Campeão com o Trieste no ano passado, o treinador levou junto para o Combate os amigos Hideo (meia, ex-Paraná), Guilherme (lateral, ex-Paraná, Coritiba e São Paulo) e Marcelo Valença (goleiro, ex-Paraná).

"A lealdade e o respeito entre nós é muito grande. É isso que nos faz ficar tanto tempo um ao lado do outro e mudar de clube juntos também", diz Petri. "É comum esse tipo de relação, como a que temos com o Seu Ivo. O dinheiro é importante, mas a amizade igualmente, pois ninguém vai ficar rico na Suburbana", comenta Hideo.

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