Imagine a criação de uma mirabolante categoria cinematográfica contemplando peças de ficção científica sobre o futebol paranaense. Dessa curiosa distinção, talvez o filme mais espetacular seria sobre o clube que nasceu gente. E mais, veio ao mundo acompanhado de um irmão gêmeo. Seriam eles Coxa e Chinês. Ou, com nome e sobrenome, Coritiba Foot Ball Club e Evangelino da Costa Neves. O roteiro basearia-se no mito (há quem diga que é verdade) de que tudo o que acontece a um dos gêmeos reflete imediatamente no outro. Sendo assim, se o Coritiba estivesse mal, Evangelino sentiria o mesmo peso. E é nesse momento que temos um pouco de realidade em meio a toda essa invencionice.

CARREGANDO :)

Aos 80 anos, sem qualquer contato próximo com o clube por problemas de saúde, Evangelino limitava-se, como afirmou, a "esperar o dia clarear para que lhe tragam boas notícias do Coxa". Porém, preocupado com as dificuldades do "irmão gêmeo" à beira da Segunda Divisão, deixou o descanso um pouco de lado.

O Chinês está triste, como todo coritibano. "Naturalmente eu me sinto como qualquer torcedor comum, sofro muito com essa situação", comenta. E para quem foi o comandante na vitoriosa década de 70 e no título brasileiro de 85, a condição de torcedor comum não alivia a dor. "Confesso que choro. As lágrimas me vêem aos olhos, pois eu dei tanto de mim para esse clube", revela, machucado pela briga para fugir da degola.

Publicidade

Apesar de não viver intensamente o Coritiba, Evangelino está por dentro dos bastidores do clube. Informa-se basicamente pelos jornais, televisão e conta com a ajuda dos médicos ligados ao Coxa que o atendem. Para ele, Giovani Gionédis é um grande presidente na parte administrativa, mas pecou ao assessorar-se mal no futebol.

"O presidente não é um profundo conhecedor do esporte. E as pessoas escolhidas por ele para o departamento de futebol falharam nas contratações", aponta, ressaltando que não houve má vontade, somente equívocos. O início do problema, para o ex-dirigente, foi o afastamento de Domingos Moro da vice-presidência. "Se o Moro voltasse para o Coritiba há cinco ou seis rodadas, tenho certeza de que a situação seria outra".

Enquanto soluções a longo prazo não podem ser tomadas, o velho Chinês – famoso pelo arrojo na condução do time – sugere as medidas a serem tomadas pelo comando, no calor dos vestiários antes das duas partidas decisivas. "Primeiro, eu chamaria a atenção dos nossos atletas para a situação em que se encontra o clube. Em segundo lugar, os alertaria do risco que correm nas suas vidas profissionais caso fracassem", disse.

Na torcida pelo clube – e prometendo comparecer pelo menos no jogo contra o Internacional – Evangelino alimenta no coração a esperança da permanência na elite do futebol brasileiro. Mas a razão desconfia. "Eu tenho a esperança de que a situação seja contornada. Esperança tão somente. Na realidade, não acredito que o Coritiba consiga se manter".