Na quarta-feira fará cinco anos que o torcedor paranaense viu pela última vez a seleção brasileira atuar no estado. Quem esteve no Pinheirão na noite de 19 de novembro de 2003 lembrará por um bom tempo da partida entre Brasil e Uruguai, embora não haja nada para se comemorar. Nem pelo jogo, válido pelas Eliminatórias da Copa de 2006, um eletrizante 3 a 3. Tampouco pela marca negra deixada por aquele confronto no estado. Nunca se pagou tão caro para assistir e realizar um jogo do selecionado brasileiro.
Em números, os 31 mil ingressos foram vendidos a preços de show internacional: entre R$ 60 e R$ 200. Na época, o então presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF), Onaireves Moura, alardeava que a reforma em seu estádio havia custado R$ 3 milhões. A renda da partida foi pouco além da metade disso: R$ 1,6 milhão.
Tendo o tempo como juiz, hoje a percepção ultrapassa a análise simplista. O prejuízo financeiro é pouco se comparado ao ostracismo a que ficou relegada a administração do futebol do Paraná em nível nacional. Depois de Brasil e Uruguai, a FPF ficou ilhada, distante de qualquer ajuda da CBF. Recentemente, aquele fato de cinco anos quase respingou na candidatura de Curitiba à sede da Copa do Mundo de 2014.
"Aquele jogo foi a gota dágua para o futebol paranaense. A Federação se acabou, o Pinheirão se acabou, todo mundo se acabou com aquela partida", lembra Almir Zanchi, na época diretor-técnico da FPF.
A partida marcou o fim de uma união que parecia eterna: a do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, com o chefe do futebol no estado, Onaireves Moura. Desde 1989, quando Teixeira assumiu a confederação, Moura foi uma espécie de braço direito do genro do então presidente da Fifa, João Havelange. No período, o Paraná foi o estado onde a seleção mais jogou (leia texto nesta página).
Mas depois do rompimento, nem seleção nem Ricardo Teixeira voltaram a pisar no estado. No ano passado, em visita às cidades candidatas a sede de 2014, o presidente da CBF passou por São Paulo, Florianópolis e Porto Alegre, pulando a capital do Paraná.
Mas o que aconteceu nos bastidores daquela partida para que uma amizade tão longa se rompesse em poucos minutos? A Gazeta do Povo conversou com várias pessoas que estavam na FPF e CBF na época e conseguiu esmiuçar um pouco mais a história que, por cinco anos, deixou o futebol do estado a mercê da sorte.
A versão da Confederação Brasileira de Futebol é de que a FPF deu o calote. Além de não repassar a renda da partida, não pagou o hotel no qual a delegação ficou hospedada por três dias. A versão é confirmada também por ex-funcionários da Federação, mas o ato de Moura não teria sido premeditado e sim desesperado.
Em umas das últimas jogadas para recuperar o que sempre afirmou ser o seu xodó, o Pinheirão, Moura teria arriscado alto. Fez muitos acordos, mas acabou só. Na verdade, a FPF não teria ficado devendo toda a renda do jogo para a CBF, mas R$ 1,2 milhão. O valor teria sido o preço pelo qual Moura "comprou" a partida de Teixeira.
Com a seleção "na manga", o dirigente pensou que conseguiria seduzir os políticos locais a colocar dinheiro público na reforma do estádio. Diz ter recebido até promessa de Roberto Requião negada no Palácio Iguaçu. Mas o fato é que quem teve de arcar com todas as despesas foi a FPF.
Sem dinheiro para pagar os credores, a última tentativa de Moura foi apelar a Teixeira. Disse para o aliado que a partida não havia dado lucro e não teria repassado nem um centavo. Na CBF, o caso é lembrado com ironia. Afinal, nos corredores da entidade, o confronto entre Brasil e Uruguai é lembrado como o único da história da seleção a dar prejuízo.
"O governo ficou de ajudar e não ajudou. Daí ficaram umas dívidas", conta o então vice-presidente da federação, Jorge Dib Sobrinho.
Naquela noite, Teixeira voltou ao Rio de Janeiro com um empate amargo e de mãos abanando. Depois, a CBF ainda acabou no Serasa por não ter pago as diárias do hotel. Moura usou a renda para quitar parte das dívidas, mas o que ficou fez com que ele perdesse de vez a FPF do controle. Muito pior que isso, porém, foi o rompimento com seu maior aliado.
"Depois daquela partida a dívida da Federação acumulou muito", conta o advogado Vinícius Gasparini, que até o ano passado, quando fazia parte da entidade, lidava com algumas execuções de credores da época da partida. "Ela (a CBF) nunca cobrou nada. Mas também nunca mais ajudou."
Deixe sua opinião