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| Foto: David Gray/ Reuters

50 metros sem respirar

Em menos de 30 segundos, os nadadores precisam combinar saída perfeita, potência muscular e coordenação perfeita entre pernas e braços.

Saída

O nadador precisa minimizar o atrito na entrada na água. Para isso, envolve a cabeça entre os braços com os bíceps cobrindo as orelhas.

Acertando a velocidade e o ângulo

Em geral, os competidores não devem mergulhar mais do que 60 centímetros para não correr o risco de perderem velocidade quando voltarem à superfície.

Timing perfeito

Para maximizar a eficiência do nado crawl e evitar a perda de energia, coordenação entre pernas e braços (o ritmo) é crucial. Feito de maneira correta, o estilo parece fácil e flui sem esforço.

Atrás do prêmio

E se o atleta estiver atrás no meio da prova? Michael Lohberg, ex-técnico de Fernando Scherer e atual de Dara Torres, dá uma dica: "Você precisa manter seu estilo e torcer para que os outros ‘morram’."

Última brecha

Até o final, "não há muito o que pensar", afirma Lohberg. Os nadadores evitam respirar para não perder tempo e tentam acelerar.

Terminando bem

Os nadadores buscam o máximo de eficiência na última braçada, terminando a prova quase de lado para alongá-la ao máximo, e procuram tocar o placar eletrônico na parte submersa, onde ele é mais sensível.

César Cielo Filho tem um quadro em seu quarto na Universidade de Auburn, nos Estados Unidos, onde mora, no qual marca as metas e objetivos que tem em sua vida. Lá, no começo do ano, anotou quatro números, separados por um ponto final. Ele olha para aquilo todo dia antes de dormir, todo dia ao acordar: é o tempo que planeja fazer amanhã, na final do 50 m livre (às 23h36 de Brasília), sua especialidade.

É algo extraordinário, há de se imaginar. Nos dois últimos dias, o nadador de Santa Bárbara do Oeste, interior de São Paulo, quebrou duas vezes o recorde olímpico da prova. Na noite de quinta em Pequim (manhã no Brasil), nadou a eliminatória em 21.47. Dois minutos depois, o francês Amaury Leveux cumpriu a distância em um centésimo a menos (21.46). "Os 50 metros fazem a felicidade e a desgraça de muitos rapidamente. Mas não, não era essa marca. Se fosse, não teria feito agora", comentou, conformado com a baixíssima durabilidade da marca.

Cerca de 14 horas depois, já manhã de sexta na China (ontem à noite pelo horário de Brasília), Cielo recuperou o recorde. Cravou 21.34, o melhor tempo da semifinal da prova mais veloz da natação, apenas seis centésimos acima do recorde mundial, do australiano Eamon Sullivan (21s28). "Esse pelo menos vai durar um dia", brincou.

Mas também não é essa a marca que guarda o sono do nadador. "Ainda está acima (do tempo do quadro). Não tem limite. Vou buscar a prova perfeita na final. Ainda dá para melhorar na partida", afirmou, embora considere registrar um novo recorde algo secundário. "Não importa o tempo. O importante é bater na frente."

A primeira medida para que ele possa atingir a perfeição partiu da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). Cielo foi liberado do revezamento 4 x 100 m medley, que teria sua eliminatória na manhã de hoje (pelo horário brasileiro), para poder descansar. Algo difícil para o nadador, vítima de um peculiar tipo de insônia desde quinta-feira. Provocada por uma inédita medalha olímpica, de bronze brilhante, conquistada pela manhã, que fez o nadador entrar para o seleto grupo de atletas medalhistas olímpicos na prova mais nobre do esporte, os 100 metros livre.

"Ainda estou meio zonzo. Até agora (após a preliminar dos 50 m) estou com o bronze na cabeça. Não consegui dormir olhando para a medalha. Agora tenho de descansar de qualquer maneira", disse.

Na chegada à Vila Olímpica, Cielo foi recebido com festa pelos brasileiros. Tirou fotos com a medalha no peito. Mas garante que o moral da conquista não ajudou nas baterias dos 50 m livre. "Na água a medalha não ajuda muito. Mas na Vila Olímpica valeu bastante", brincou.

Ele ainda teve outro problema: quando conseguiu chegar ao quarto, lembrou que não tinha onde guardar o prêmio. Foi então que teve a idéia de embrulhá-la em meio às roupas – ele achava que junto da medalha vinha uma caixinha. "Vai ficar guardada lá até o último dia. Estou com medo que arranhe, é tão lisinha."

Ao fim da premiação da manhã chinesa, Cielo afirmou que estava pronto para ganhar o ouro. "Estou no melhor momento da minha vida. Estou muito confiante."

E isso quer dizer muito. Afinal, se nos 100 metros ele nadou achando que não conseguiria medalha alguma e ficou com o bronze...

"Tinha certeza de que não ia pegar a medalha. A minha temporada foi supercomplicada nos 100 m, não estava nadando bem, mas fiz a melhor prova da minha vida."

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