Dezesseis anos após o ouro no masculino em Barcelona, o vôlei brasileiro pode viver outro dia histórico. O time feminino enfrenta os Estados Unidos às 9h da manhã deste sábado (23) com o status de favorito, após sete vitórias por 3 sets a 0, e atuações elogiadas por todos os adversários.
Se levar o título, o Brasil entrará no seleto clube de países que já conquistaram o ouro olímpico no masculino e no feminino: apenas Japão e União Soviética alcançaram a façanha, nas décadas de 60 e 70. E José Roberto Guimarães pode se tornar o único treinador campeão nas duas categorias.
Comandante do time masculino em Barcelona, Zé Roberto não fala sobre a possibilidade de escrever seu nome na história. Mostra confiança e diz que, ao contrário de 2004, quando assumiu a seleção a menos de um ano dos Jogos, pôde fazer um trabalho completo.
- É merecimento. Agora a gente merece. A gente trabalhou, formou o grupo, melhorou a parte técnica. É um time que superou as dificuldades nos momentos decisivos, passou por vários perrengues. E está se comportando de maneira diferente aqui, com confiança - analisa ele.
Zé Roberto diz que a chance do ouro em Pequim é resultado de um trabalho que começou logo após a traumática derrota para a Rússia na semifinal em Atenas, quando venciam por 24 a 19 e permitiram a virada. Conta que foi difícil fazer algumas jogadoras levantarem a cabeça após a decepção e que outros tropeços, como a perda da medalha de ouro no Pan para Cuba, fortaleceram o time.
- Tudo o que a gente passou ali foi difícil. Eu estava em um momento debilitado. Foi complicado poder digerir aquela situação. Perder daquele jeito, o time cai na sua cabeça. Você se sente culpado. Mas o time amadureceu muito com tudo isso que passou.
A decisão parece o menor obstáculo do time que venceu com propriedade favoritos como China e Rússia. Mas Zé Roberto pede atenção ao time americano, principalmente pela forma como ele atuou na vitória sobre as cubanas na semifinal.
- Com as vitórias sobre Itália e Cuba, os Estados Unidos ganharam força e confiança. É um time extremamente perigoso, com um bloqueio pesado. Elas mudaram um pouco a característica, estão jogando muito pelo meio. Vamos jogar contra um rival que vai exigir muito. Ainda falta um degrau, o mais difícil.
Conhecimento mútuo entre as seleções
Os dois times se conhecem muito bem. Antes de chegar em Pequim, o Brasil fez um estágio de treinos nos Estados Unidos e disputou três amistosos contra as rivais. Venceu todos e repetiu o resultado em um jogo-treino em Pequim. Até por isso, as jogadoras assumem que ficaram surpresas com a chegada dos EUA à decisão.
- Elas surpreenderam todo mundo. Vai ser mentira se eu disser que achava que eles estariam na final. Os EUA são uma equipe mais completa. A Logan é ótima, as centrais jogam bem. As americanas podem dar mais trabalho que Cuba porque têm bloqueio e defesa muito certinhos. Contra Cuba, seria aquele jogo de força que a gente já conhece - explica a atacante Sheila.
Do lado americano, as grandes ameaças são as atacantes Logan Tom, maior pontuadora da competição, e Danielle Scott-Arruda, que tem várias temporadas jogando no Brasil e a experiência de 36 anos e três Olimpíadas.
- É um time que a gente já enfrentou algumas vezes, que nunca entrega o jogo, está sempre lutando e buscando. Precisamos forçar o nosso ritmo do início ao fim. Nossa postura precisa ser muito agressiva - avalia Paula Pequeno.
Se conseguir impor seu jogo, as brasileiras poderão enfim comemorar a quebra do tabu de nunca ter chegado ao topo olímpico. E superar de vez o trauma de 2004.
- Não acabou. A gente tem que dar uma resposta ainda. Depois da final a gente se fala - diz a levantadora Fofão.
Mas talvez a melhor definição para a importância deste jogo tenha sido por Paula Pequeno após a vitória sobre a China.
- Sabemos que a história que nós escrevemos não está completa. Falta o ponto final.
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