Exemplo de Phelps na hora da prova e dica de Popov para o futuro do campeão olímpico
Pequim - A perseverança de Michael Phelps serviu de embalo na piscina. O testemunho de Alexander Popov serve de guia para os próximos passos. O primeiro campeão olímpico do Brasil nos Jogos usou os ensinamentos das duas lendas da natação para brilhar em Pequim.
Nem Phelps acreditou na vitória
Michael Phelps era só sorrisos na entrevista coletiva após a conquista de sua sétima medalha de ouro. A sala estava lotada, mas boa parte dos jornalistas não estava lá apenas por causa do nadador. Minutos antes, os diretores da Fina (Federação Internacional de Natação) haviam reunido a imprensa para divulgar que Phelps havia, sim, vencido a prova dos 100 m borboleta. A medalha fez o americano igualar a marca de sete ouros em uma mesma edição de Olimpíada, obtida por seu conterrâneo Mark Spitz em Munique-1972. A suspeita sobre o resultado aconteceu por causa da chegada. O sérvio Malorad Cavic bateu na borda da piscina por baixo da água, Phelps, voando, cravou a mão por cima. Na TV, o americano parece ter perdido a prova. No cronômetro, ficou 0s01 a frente do rival. "Vi a prova depois, a chegada no telão e vi em câmera lenta na área de massagem. Olhando no computador. E é quase muito perto pra ver. É mais ou menos como da outra vez (no revezamento 4 x 100 m livre, vencido pelos EUA na batida de mão), afirmou Phelps.
"Eu estava mais chocado agora do que antes. Vencer os 100 m por um centésimo... É a menor margem de vitória. É muito legal, festejou ele. A Sérvia entrou com protesto contra o resultado, mas aceitou as explicações da Fina.
Pequim - O próximo objetivo de César Cielo Filho, o primeiro nadador brasileiro a conquistar uma medalha de ouro em Olimpíadas, será a quebra do recorde mundial dos 50 metros livre. Na cabeça do atleta, isso já era para ter acontecido na piscina de Pequim.
Depois de muito se esquivar, Cielo revelou qual o tempo espera fazer para tomar para si a marca. Aquele que deixa em um quadro no seu quarto, na Universidade de Auburn, nos Estados Unidos, e na China acabou em um pedaço de papel pendurado na parede: 21s27.
Com a marca ambicionada, Cielo atravessaria a piscina um centésimo mais rápido que o recorde mundial 21s28, do australiano Eamon Sullivan. Venceria a si mesmo na prova olímpica por outros três centésimos de segundo o tempo feito na final, recorde olímpico do brasileiro, foi 21s30.
"Era o que pretendia, mas fiquei um pouquinho acima", afirmou, para depois arriscar uma rápida previsão. "Nos 50 metros não há limite. Com esses centésimos que vamos baixando, com certeza daqui a pouco estaremos na casa dos 20 segundos."
Antes, no entanto, Cielo quer esquecer um pouco o seu mundo. Vai fazer um verdadeiro retiro em Santa Bárbara do Oeste, sua cidade natal, no interior de São Paulo. Ficar com a família, trancado em casa, vendo filmes.
"Quero esquecer um pouquinho de ser atleta. Descansar, curtir a família, tomar refrigerante, comer porcaria e assistir a filmes", disse.
Com a medalha no peito, o nadador enumera dois fatores fundamentais para que tenha obtido o ouro: o apoio da família e a presença de seu técnico, australiano Brett Hawke, em Pequim. Logo depois lembra de um terceiro: o bronze nos 100 metros.
Até a final da prova mais nobre da natação, tudo estava ruim, ele se sentia irritado. Chegou a discutir com o treinador quando este disse que achava que o pupilo tinha chance de brigar por uma medalha.
"Vou brigar para não passar vergonha", foi a resposta que Hawke ouviu.
Mas, incrivelmente, na hora da prova o nadador se soltou. "Estava na raia oito, muito insatisfeito com o meu tempo nas semifinais. Mas me concentrei apenas na minha raia. E quando vi o resultado, tudo mudou. Passei o dia sorrindo, logo à tarde bati recorde olímpico. E foi assim, quando você está com uma energia positiva parece que tudo conspira a favor", relembra.
O atleta sofre de miopia, e passou por duas situações engraçadas logo após a final dos 50 m. Ao concluir a prova, na primeira vez que olhou para o placar, se viu em primeiro e chegou até a desconfiar, só acreditou quando retirou os óculos da natação.
"Como não enxergo direito, tive de tirar os óculos para ter certeza. Daí, a primeira coisa que pensei foi: Sou campeão olímpico. Não há como definir essa sensação."
Depois, na hora da premiação, ao receber a medalha de ouro, viu que alguma coisa estava estranha, mas só percebeu realmente o que era a caminho do vestiário: havia recebido a medalha destinada à prova feminina. "Tive de ir lá trocar, mas agora está tudo certo."