César Cielo em dois momentos logo após a vitória em Pequim: com a medalha que ele só depois foi descobrir que era da prova feminina e depois com a sua e festejado pelos companheiros da equipe brasileira de natação| Foto: Fotos: Jonathan Campos, enviado especial/ Gazeta do Povo

Exemplo de Phelps na hora da prova e dica de Popov para o futuro do campeão olímpico

Pequim - A perseverança de Michael Phelps serviu de embalo na piscina. O testemunho de Alexander Popov serve de guia para os próximos passos. O primeiro campeão olímpico do Brasil nos Jogos usou os ensinamentos das duas lendas da natação para brilhar em Pequim.

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Nem Phelps acreditou na vitória

Michael Phelps era só sorrisos na entrevista coletiva após a conquista de sua sétima medalha de ouro. A sala estava lotada, mas boa parte dos jornalistas não estava lá apenas por causa do nadador. Minutos antes, os diretores da Fina (Federação Internacional de Natação) haviam reunido a imprensa para divulgar que Phelps havia, sim, vencido a prova dos 100 m borboleta. A medalha fez o americano igualar a marca de sete ouros em uma mesma edição de Olimpíada, obtida por seu conterrâneo Mark Spitz em Munique-1972. A suspeita sobre o resultado aconteceu por causa da chegada. O sérvio Malorad Cavic bateu na borda da piscina por baixo da água, Phelps, voando, cravou a mão por cima. Na TV, o americano parece ter perdido a prova. No cronômetro, ficou 0s01 a frente do rival. "Vi a prova depois, a chegada no telão e vi em câmera lenta na área de massagem. Olhando no computador. E é quase muito perto pra ver. É mais ou menos como da outra vez (no revezamento 4 x 100 m livre, vencido pelos EUA na batida de mão)’’, afirmou Phelps.

"Eu estava mais chocado agora do que antes. Vencer os 100 m por um centésimo... É a menor margem de vitória. É muito legal’’, festejou ele. A Sérvia entrou com protesto contra o resultado, mas aceitou as explicações da Fina.

Pequim - O próximo objetivo de César Cielo Filho, o primeiro nadador brasileiro a conquistar uma medalha de ouro em Olimpíadas, será a quebra do recorde mundial dos 50 metros livre. Na cabeça do atleta, isso já era para ter acontecido na piscina de Pequim.

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Depois de muito se esquivar, Cielo revelou qual o tempo espera fazer para tomar para si a marca. Aquele que deixa em um quadro no seu quarto, na Universidade de Auburn, nos Estados Unidos, e na China acabou em um pedaço de papel pendurado na parede: 21s27.

Com a marca ambicionada, Cielo atravessaria a piscina um centésimo mais rápido que o recorde mundial – 21s28, do australiano Eamon Sullivan. Venceria a si mesmo na prova olímpica por outros três centésimos de segundo – o tempo feito na final, recorde olímpico do brasileiro, foi 21s30.

"Era o que pretendia, mas fiquei um pouquinho acima", afirmou, para depois arriscar uma rápida previsão. "Nos 50 metros não há limite. Com esses centésimos que vamos baixando, com certeza daqui a pouco estaremos na casa dos 20 segundos."

Antes, no entanto, Cielo quer esquecer um pouco o seu mundo. Vai fazer um verdadeiro retiro em Santa Bárbara do Oeste, sua cidade natal, no interior de São Paulo. Ficar com a família, trancado em casa, vendo filmes.

"Quero esquecer um pouquinho de ser atleta. Descansar, curtir a família, tomar refrigerante, comer porcaria e assistir a filmes", disse.

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Com a medalha no peito, o nadador enumera dois fatores fundamentais para que tenha obtido o ouro: o apoio da família e a presença de seu técnico, australiano Brett Hawke, em Pequim. Logo depois lembra de um terceiro: o bronze nos 100 metros.

Até a final da prova mais nobre da natação, tudo estava ruim, ele se sentia irritado. Chegou a discutir com o treinador quando este disse que achava que o pupilo tinha chance de brigar por uma medalha.

"Vou brigar para não passar vergonha", foi a resposta que Hawke ouviu.

Mas, incrivelmente, na hora da prova o nadador se soltou. "Estava na raia oito, muito insatisfeito com o meu tempo nas semifinais. Mas me concentrei apenas na minha raia. E quando vi o resultado, tudo mudou. Passei o dia sorrindo, logo à tarde bati recorde olímpico. E foi assim, quando você está com uma energia positiva parece que tudo conspira a favor", relembra.

O atleta sofre de miopia, e passou por duas situações engraçadas logo após a final dos 50 m. Ao concluir a prova, na primeira vez que olhou para o placar, se viu em primeiro e chegou até a desconfiar, só acreditou quando retirou os óculos da natação.

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"Como não enxergo direito, tive de tirar os óculos para ter certeza. Daí, a primeira coisa que pensei foi: ‘Sou campeão olímpico’. Não há como definir essa sensação."

Depois, na hora da premiação, ao receber a medalha de ouro, viu que alguma coisa estava estranha, mas só percebeu realmente o que era a caminho do vestiário: havia recebido a medalha destinada à prova feminina. "Tive de ir lá trocar, mas agora está tudo certo."