Emanuel teve de intensificar os treinamentos durante a Olimpíada para compensar a lesão de Ricardo.| Foto: Fotos: Jonathan Campos. enviado especial/ Gazeta do Povo

Parada por paredão americano, dupla vice-campeã já projeta 2012

A foto do torneio de vôlei de praia em Pequim, que ficará guardada para a história dos Jogos Olímpicos, tem dois americanos em um plano acima e quatro brasileiros no pé da composição. Novamente, o Brasil ficou no quase. Amealhou o bronze, a prata, mas o ouro bateu na trave. Ou melhor, no bloqueio do suíço naturalizado norte-americano Dalhausser.

Na opinião da dupla Márcio e Fábio Luiz, foi apenas ele quem mudou a história estatística do confronto – Roggers ficou em segundo plano. Pois, agora, os brasileiros têm três vitórias de vantagem no confronto direto, mas a medalha de ouro está em outras mãos.

"Não dá para explicar o que aconteceu. Fizemos tudo certo, mas não deu", afirmou Fábio Luiz, até então o melhor jogador do torneio, com um bloqueio implacável.

A inexperiência contou bem mais para a derrota. O tie brake se encarregou de mostrar a diferença que faz, em uma final olímpica, uma dupla madura.

Ricardo e Emanuel, quando venceram em Atenas, já tinham participado de outras edições dos Jogos. Enquanto o paranaense havia atuado em duas Olimpíadas, o baiano já tinha uma prata. Por outro lado, da dupla que acabou derrotada na final de ontem, apenas Márcio havia disputado o torneio, em Atenas, com Benjamim – amargaramuma 9ª colocação. Fábio era estreante e pagou por isso.

Foi em cima dele que o último set do jogo foi definido em inacreditáveis 15 a 4. Dalhausser bloqueou tudo. E fez com que o capitão Marcio planeje uma sacudida no time.

"Agora vamos fazer uma reformulação. Preciso planejar o que faremos nos próximos dois anos. Vamos conversar e ver viagens, torneios e a família", disse, olhando para a medalha de prata. "Poderia ser de outra cor, mas está bom, é uma prata dourada, pois sofremos muito para chegar aqui."

Contudo, uma coisa está praticamente certa. O time continua junto até Londres-2012, para tentar recuperar o que, na China, deixou escapar por entre os dedos.

"Não temos nenhum problema e essa derrota não altera nada. Só temos de ver os nossos objetivos. Mas com certeza a Olimpíada de Londres é um dos principais", disse Fábio, que nem esperou para conversar com o parceiro. Brincou: "Se ele não quiser, eu levo ele até lá nas costas." (MR)

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Por vários momentos, Ricardo segura a emoção. Com a medalha de bronze no peito, diz: "É como se fosse ouro, pois tivemos de passar por muitas dificuldades para chegar aqui. Só nós sabemos como foi difícil".

A vitória sobre a dupla brasileira que defende a Geórgia, Renatão e Jorge, foi mais tranqüila do que se imaginava. Emanuel e Ricardo venceram por 2 a 0, 21/15 e 21/10. E voltaram a subir ao pódio olímpico. O paranaense chegou à sua segunda medalha. Já o baiano se tornou o maior medalhista brasileiro da modalidade: foi prata em Sydney-2000, junto com Zé Marco, ouro em Atenas-2004, e bronze agora. A última trajetória, a mais difícil delas.

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Com uma proteção no pé esquerdo, apenas após a derrota na semifinal é que o parceiro de Emanuel no vôlei de praia resolveu revelar o verdadeiro problema de seu tornozelo, até então, algo que parecia apenas uma leve torção. A contusão, na verdade, era mais séria do que parecia: uma fratura por impacto, semelhante à mesma lesão por estresse.

"O exame acusou uma fratura bem na junção, onde mexo o pé", revelou Ricardo, que constatou o problema logo após voltar do Grand Slam de Moscou.

Faltava um mês para Pequim, e o jogador teve de usar muletas por 15 dias. Ficou sem treinar, mas o tempo não foi o suficiente para a cicatrização. Ricardo teve de conviver com a dor na competição.

"Só quem teve uma fratura dessas sabe como dói, fica machucando a gente", disse.

O jogador chegou a pensar em ficar fora da Olimpíada. Lembrou de Juliana, que havia rompido o ligamento cruzado do joelho direito. Contudo, recebeu todo o apoio de Emanuel e partiu para a recuperação. Pela defasagem, os treinamentos tiveram de ser intensificados dentro da competição, o que acabou sendo bom.

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"Aprendemos que temos de construir a medalha dentro da competição, continuar o trabalho duro, treinar", afirmou Emanuel.

A dupla agora volta a concentração para o Circuito Brasileiro e para vencer, pela sexta vez seguida, o Mundial. Depois, pretende sentar e conversar sobre o futuro. Mas Emanuel garante que não haverá muitas novidades.

"Atingimos a maturidade. Temos de aproveitar isso. Muita gente chegou neste ponto e não aproveitou. Uma dupla que já ganhou tanto não pode se separar agora".