Ressaca olímpica domina Pequim um dia após encerramento
Pequim amanheceu de ressaca ontem. A agitação dos últimos dias deu lugar a uma calmaria de dar sono. Ou raiva em quem ainda precisava usar a infra-estrutura, montada especialmente para os Jogos Olímpicos, para trabalhar. A organização pisou no freio, deixando de oferecer serviços básicos.
No terminal de ônibus, por exemplo, aqueles que quiseram ir à Vila Olímpica para ver os atletas indo embora tiveram que esperar por mais de uma hora. Ou melhor, por um aviso de que o ônibus demoraria outros 50 para chegar.
Paciência também precisou quem tentou seguir para o aeroporto. A saída de várias delegações no mesmo horário tumultuou o já complicado trânsito da capital chinesa. No local, imensas filas se formaram para entrar no saguão de embarque internacional.
O tumulto no terminal aeroviário era o contraponto à tranqüilidade que imperou nos locais de competição. Depois de 16 dias de intensa movimentação, o Ninho de Pássaro ficou em silêncio. No Centro de Mídia, poucos profissionais ainda circulavam em busca de notícia. Do lado de fora, contudo, o único resquício de que passou uma Olimpíada pelo local. Colecionadores, de diversas partes do mundo, seguiam trocando pins (broches) intensamente. Eram os únicos gritos que podiam ser ouvidos. Pelo menos até a Paraolimpíada começar, no dia 6 de setembro. (CEV e MR)
De repente, as vendedoras do Mercado da Seda (Silk Market) saem correndo, mexem nas bolsas e voltam munidas com câmeras fotográficas. Segundos depois, a explicação para a agitação. É parte da equipe feminina de vôlei do Brasil, campeã olímpica no sábado, que entra no templo da muamba em Pequim para fazer compras.
Os apertados corredores do centro comercial ficam ainda menores, tamanha a quantidade de curiosos chineses e estrangeiros interessados em saudar as medalhistas.
"Nossa, tudo isso para mim?", brinca a ponteira Paula Pequeno, a única do grupo, composto também por Carol, Valeskinha, Sassá e Thaísa, que enfrentou o risco de tirar a medalha de ouro de dentro do quarto da Vila Olímpica.
"A minha está guardada. A Paula só pode ser louca de ficar desfilando por aí com a medalha. Só pode ser", diz, rindo, a levantadora reserva Carol, enquanto trava os últimos lances da acirrada disputa com a atendente por um desconto mais vantajoso. "Tem de pechinchar, tem de pechinchar", diz, explicando a tática para se dar bem na Ciudad del Este oriental, local escolhido por grande parte dos atletas, de diversas nacionalidades, para curtir o dia seguinte ao encerramento dos Jogos Olímpicos.
As jogadoras ainda estão extasiadas, curtindo cada segundo da maior conquista do vôlei feminino nacional e o conseqüente fim de um período turbulento, iniciado com a eliminação para a Rússia nas semifinais da Olimpíada de Atenas, há quatro anos. Elas quase não dormiram desde o triunfo sobre as americanas por 3 a 1.
Logo após a volta olímpica no Ginásio Capital, o grupo inteiro seguiu para uma churrascaria brasileira, instalada em uma das principais regiões da capital chinesa. O local foi fechado pela Confederação Brasileira de Voleibol (CBV). A festa, regada a muita picanha, samba e pagode, avançou noite adentro. "Estes têm sido os melhores passeios da minha vida. Estamos com alma lavada", comenta a ponta da Sassá.
No domingo, após a cerimônia de encerramento, o grupo esticou para uma danceteria badalada de Pequim, onde viraram a madrugada se divertindo. Hoje, elas embarcam de volta para o Brasil.
Espera no aeoroporto
Alegria de um lado, decepção do outro. Atordoada com a derrota para os EUA e o fim do sonho do bicampeonato olímpico, a seleção masculina deixou a Vila ontem de madrugada e teve de enfrentar uma longa espera no Aeroporto Internacional de Pequim.
O vôo que levaria o time de volta ao Brasil estava com overbooking. Somente depois de muita negociação todos conseguiram embarcar.
"Pensei que nem ia mais. Ficavam umas dez chinesas gritando uma com a outra para resolver. Mas ainda bem que deu certo. Isso vale uma medalha", brincou o capitão Giba.
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