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Maurren Maggi beija o pódio em que ela receberia a medalha de ouro: título olímpico é a consagração de um carreira interrompida por doping. | Mike Blake/ Reuters
Maurren Maggi beija o pódio em que ela receberia a medalha de ouro: título olímpico é a consagração de um carreira interrompida por doping.| Foto: Mike Blake/ Reuters
  • A trajetória do salto de Maurren

Pequim, Estádio Nacional, 20h40 (9h40 no Brasil). As mais de 60 mil pessoas presente ao Ninho de Pássaro, que já haviam acompanhado finais de provas de corrida e do arremesso de dardo, ficam em silêncio por cerca de 30 segundos. Esquecem a final do salto com vara e olham fixamente para uma caixa de areia posicionada ao lado da pista.

Na ponta dela, a russa Tatyana Lebedeva, campeã olímpica em Atenas-2004, se posiciona para a última tentativa na final do salto em distância. A marca a ser batida é de Maurren Maggi: 7,04 metros. Ela percorre a pista, pisa pouco antes da tábua, decola e aterrisa. Não há dúvida de que é um salto na casa de 7 metros.

Mais alguns segundos de expectativa e duas reações opostas: Lebedeva chuta o ar, desapontada; Maurren corre e grita, eufórica. A russa pulou 7,03 metros. Por um centímetro, Maurren Higa Maggi, 32 anos, torna-se a primeira brasileira a conquistar o ouro individual em uma Olimpíada.

Em êxtase, ela inicia uma volta olímpica pela pista, quase parando a final dos 5.000 m feminino. Seus gritos de "É ouro, é ouro" são abafados pelo furor do público, que acompanha a sua corrida com a bandeira do Brasil às costas e uma bandeirinha da China, apanhada com um torcedor, na mão direita.

"Foi muita sorte. Mas eu estava preparada para fazer um salto melhor se ela conseguisse ultrapassar o meu", afirmou a atleta.

Maurren fez um salto perfeito. O primeiro. Queimou os três se-guintes. No último, fracassou (6,73m). Mas foi o suficiente para realizar o sonho da volta olímpica. "Queria ganhar essa medalha para mostrar para o mundo a nossa bandeira, nossa música, nossa batalha. A única coisa que pensava era em ouvir o hino brasileiro", disse.

Antes de a final começar, Maurren foi às arquibancadas, onde podia se comunicar com o treinador facilmente pela proximidade da pista, e entregou a Nélio Moura e sua esposa, Tânia, uma carta.

Nela, expôs, em poucas palavras, todas as dificuldades por que passara até aquele momento. Dizia não estar preocupada com a medalha – "sei que será conseqüência do nosso trabalho e esforço" –, mas estava pronta para fazer o melhor. E finalizou com a parte que embarga a voz do treinador na hora da leitura: "Obrigada por tudo, principalmente por não desistirem de mim".

O último trecho faz clara referência ao ano de 2003. Pouco antes de o Pan de Santo Domingo começar, Maurren foi pega no exame antidoping por passar uma pomada na coxa para curar um pêlo encravado. A pomada continha a substância clostebol, proibida pelo Código Mundial Antidoping. A saltadora foi punida por dois anos, e chegou a anunciar o fim da sua carreira.

Em 2006, o nascimento da filha, Sofia, fez Maurren mudar de idéia. Separada do piloto Antônio Pizzonia, o pai da menina, viu-se com a garota para criar, mas nada para fazer.

"A única coisa que fiz a minha vida inteira foi atletismo. Não estudei, não fiz mais nada por conta do esporte. Estava dando uma última chance à minha carreira e, graças a Deus, deu certo", lembrou. "Não pensava em chegar na medalha, mas foi tudo passo a passo, devagar. E agora estou aqui com o ouro no peito. É inacreditável."

O problema, hoje, é encarado como um dos principais motivos para o sucesso da atleta. E com o ouro a suspeita do doping está definitivamente acabada. "Serviu para provar que aquilo não passou de um acidente. Pois ninguém que usa doping consegue voltar em um nível desses", afirmou o técnico Nélio Moura.

Pelo ouro, receberá um prêmio de R$ 100 mil de um patrocinador e também deverá ganhar uma estátua em São Carlos (SP), sua cidade-natal. Só terá de convencer a filha, Sofia, do valor da medalha de ouro. Em conversa com a saltadora antes da prova, a menina pediu: "Traz a prata, mamãe."

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