Jadel disse que não se sente sozinho, mesmo sem a companhia de um técnico: “Tem tanta gente comigo, mas tanta gente; família, amigos, patrocinadores."| Foto: Jonathan Campos, enviado especial/ Gazeta do Povo

Jadel Gregório está abandonado em Pequim. O seu treinador principal, o inglês Peter Stanley, não pode deixar a concentração britânica para orientá-lo. Já o brasileiro Pedro de Toledo, o Pedrão, espécie de auxiliar técnico do vice-campeão mundial no salto triplo, deprimido por ficar isolado em um hotel, longe da Vila Olímpica, voltou ao Brasil sem avisar ninguém.

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A presença de Pedrão foi um pedido pessoal de Jadel. A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), contudo, optou por não incluí-lo na delegação oficial, daí a dificuldade do treinador em se encontrar com o atleta. Pedrão não tinha o que fazer com o tempo ocioso. Como não fala inglês nem mandarim, passava os dias trancado no quarto. Irritado com a situação, pegou o primeiro avião e regressou.

"Não conversamos ainda. Mas me parece que ele se sentiu abandonado e foi embora. Depois que passar tudo isso, vamos sentar, conversar e reprogramar. Está tudo bem", amenizou o triplista, convertido ao islamismo após o casamento, em 2005, com a fisioterapeuta Samara Abdul Ghani, de família muçulmana sunita.

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A relação com Stanley, ex-técnico do recordista mundial Johnatan Edwards (18,29 metros, registrado em 1995), há três anos seu orientador em Gateshead, na Inglaterra, também está distante. Jadel conseguiu se encontrar apenas uma vez com o treinador e, mesmo assim, muito rapidamente, após as eliminatórias de ontem, quando se garantiu na final com a nona melhor marca, pulando 17,15 metros. "Se ele deve ter ficado satisfeito? Eu fiquei satisfeito, é o que importa", ressaltou, economizando nas palavras.

Paranaense de Jandaia do Sul, o atleta não acredita que a falta de um profissional ao seu lado poderá tirá-lo da briga por uma medalha – a decisão será na próxima quinta-feira, às 9h20 (de Brasília). "Tem tanta gente comigo, mas tanta gente: a minha família, os meus amigos, os patrocinadores... E apesar de os meus técnicos não estarem aqui, sinto-os próximos de mim", avaliou. "Com o preparo que eu tenho hoje, não há com o que me preocupar. Isso (orientação) é importante no treinamento. Na competição não é tão relevante. Se você trabalhou direitinho e sabe como fazer, é só chegar na hora e fazer", acrescentou, evitando a modéstia.

Recordista brasileiro e sul-americano da prova com 17,90 metros, quebrando a marca de outro brasileiro, João do Pulo, Jadel tem plena consciência do que pode fazer no Ninho do Pássaro na quinta. "Meu objetivo é saltar o meu melhor. E, como o meu melhor é 17,90, então pretendo pular 17,91, 17,92...", cravou, rejeitando o status de favorito. "Na final, só Deus sabe o que vai acontecer."