O mistério do desaparecimento da vara para salto de 4,55 metros de Fabiana Murer é uma das maldições que volta e meia se apresentam em Olimpíadas. A brasileira de 27 anos ficou desesperada quando notou a falta do equipamento, o que pode ter lhe custado a medalha olímpica depois de anos e anos de trabalho.
Fabiana não é exceção. As "maldições" são até mais comuns do que parece, mas não são registradas como o brilho das medalhas. Acabam perdidas em recortes velhos de jornal ou meio apagadas pela memória.
Mas em Pequim mesmo -- melhor, em Hong Kong, onde estão sendo levados os eventos hípicos -- o cavaleiro Álvaro Affonso de Miranda Neto, o Doda, não pôde disputar a competição porque sua égua "AD Picolien Zeldenrust" não foi submetida à segunda avaliação. A notícia veio em forma estranha: o problema teria sido causado depois de o animal passar por sessão de acupuntura, o que lhe provocou uma infecção.
Antes da égua de Doda, também o cavalo "Nilo", que participaria do adestramento, foi reprovado na inspeção, e o sonho de Rogério Clementino, que queria ser peão de rodeio e foi parar na elegância do adestramento olímpico, não se concretizou. O cavalo já tinha uma história complicada, mas havia sido aprovado para a Olimpíada.
Na Olimpíada de Moscou-1980, o nadador Djan Madruga chegou para brilhar, pelos grandes resultados apresentados na temporada, nos Estados Unidos. Ele tinha tempo para medalha nos 1.500m, mas teria saído correndo da piscina de aquecimento para a prova dos 1.500m depois de ter sido avisado com atraso, e machucado o pé. Passou longe da final -- fez 15min56s, quando seu melhor tempo era 15min22s.
Em Los Angeles-1984, não que o ciclismo brasileiro de estrada tivesse chance de medalha, mas Jair Braga protagonizou um episódio bizarro durante um treino. As bicicletas tinham o guidão curvado para baixo, mas para aquela Olimpíada o desenho tinha sido modificado e eles estavam retos. O ciclista brasileiro foi treinar na estrada e, em meio à velocidade, levantou o corpo, largou o guidão, olhou para o lado e, distraído, abaixou-se de novo para agarrar o guidão curvado... não achou nada, levou um tombo de ralar da orelha às pernas -- e lá se foi a Olimpíada.
Mas nem sempre o azar está para o lado dos brasileiros. Nessa mesma Olimpíada de Los Angeles, Torben Grael chegava com Daniel Adler e Ronaldo Senft "ninando" o barco "Força Oculta", da classe Soling. Mas na vistoria a quilha foi impugnada. Torben correu atrás de emprestar o barco reserva dos britânicos. E foi com o "Sausalito" que conquistou sua primeira medalha olímpica: a prata.
Aliás, a primeira medalha olímpica brasileira, que foi de Guilherme Paraense, do tiro, nos Jogos de Antuérpia-1920, foi conseguida com uma pistola Colt.22 emprestada pelo coronel Snyders, dos Estados Unidos -- as armas levadas no périplo dos brasileiros, que tiveram de ir de trem de carga de Bruxelas para Antuérpia para chegar a tempo das provas, depois da travessia de navio, deram pena nos adversários. Teriam até sido prejudicadas pela areia que rondava com o vento no campo de Beverloo. Arma emprestada, ouro para o tenente Paraense.
Árbitros e Língua Solta
Se João Carlos de Oliveira foi prejudicado na Olimpíada de Moscou-1980, onde ficou com o bronze do salto triplo depois da marca de seu pé na tábua ter sido rapidissimamente apagada depois de o árbitro ter dado um dos saltos do brasileiro como "queimado" -- João do Pulo dizia ter feito um salto de 18,00 metros, o que lhe daria o ouro --, no mesmo atletismo Joaquim Cruz perdeu chance de disputar medalha por conta de falar demais e sem pensar.
Em Seul-1988 (a Olimpíada de Ben Johnson), o meio-fundista brasileiro foi duvidar da feminilidade da velocista Florence Gryffith-Joyner, recordista mundial dos 100m e queridinha da América, e de sua cunhada Jackie Joyner-Kersee, do heptatlo -- as duas treinadas pelo técnico Al-Joyner, marido de Jackie, e as duas sob suspeita de doping.
Os adjetivos de Cruz correram o mundo e a pressão sobre ele foi tanta que o meio-fundista simplesmente não conseguiu correr os 1.500m, onde também podia pensar em medalha. Desistiu.
Desorganização Atlântica
Mas, como Fabiana Murer, muitos atletas não tiveram culpa de perder provas. Ao contrário. Sofreram por anos de trabalho perdidos por causa de distração de anônimos. Na mais que desorganizada Olimpíada de Atlanta-1996, o esgrimista James Ransom, do Canadá, estava em um ônibus que o levaria para a competição. Mas o motorista se perdeu (como a maioria, naqueles Jogos). O esgrimista chegou em cima da hora. Competiu, mas imagine-se a que preço.
Na mesma Atlanta, ficaram na história os remadores britânicos que tiveram de sequestrar um ônibus na Vila Olímpica, para que fossem levados a tempo das provas em Lake Lanier.
Mais "maldições"? Na Olimpíada de Pequim, os remadores Ante Kusurin e Mario Vekin, do double-scull da Croácia, ficaram feridos seriamente quando o ônibus em que os levava ao local de competição foi atingido por uma van. O ônibus teve todo o lado do motorista arrancado. Os remadores chegaram a disputar a qualificação, mas não conseguiram passar às semifinais.
Ainda em Pequim, a nadadora australiana Jess Schipper se viu às voltas com um zíper encrencado do supermaiô LZR, praticamente único para cada atleta. Foi chorando que recebeu um emprestado da colega Libby Trickett, para fazer a final dos 100m borboleta no Cubo D'Água.
Fabiana Murer achou a tal vara. Em um depósito. E muito depois de sua prova ter acabado.
Padre Maluco
Mas nada foi tão marcante como o ex-padre irlandês Cornelius Horan, que agarrou o brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima, que liderava a maratona em Atenas-2004 no quilômetro 36. Vanderlei entrou no estádio "fazendo aviãozinho", pelo bronze que ainda assim conseguiu. O ex-padre profetizou que Vanderlei só lucraria com a cena, porque ficaria mais famoso por ela do que por seus resultados. Ele tinha razão.
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