Se a seleção brasileira de futebol chegou a Pequim disposta a ganhar o inédito ouro olímpico, dar uma sobrevida ao técnico Dunga e recuperar Ronaldinho, sua participação nos Jogos pode ser considerada um fracasso total. Os três objetivos viraram pó com a derrota por 3 a 0 para a Argentina, ontem, na capital chinesa, pela semifinal da competição. Agora, os argentinos tentarão o bi contra a Nigéria, enquanto o Brasil jogará pelo bronze contra a Bélgica.
Pior do que estender por mais quatro anos o jejum olímpico é perceber que, dois anos após a eliminação na Copa do Mundo da Alemanha, pouca coisa mudou na seleção. Isso se a situação atual não for pior, como indica o futebol de baixa qualidade apresentado pelo time que deve ser a base brasileira nos dois próximos mundiais.
"Faz tempo que não vejo um Brasil tão pequeno e defensivo. A Argentina foi superior em cada metro do campo", resumiu Diego Maradona, que assistiu ao jogo das tribunas de honra do estádio.
As explicações para o fracasso brasileiro, como sempre, variaram de insuficientes a ausentes. Dunga demorou a aparecer para a entrevista coletiva obrigatória e respondeu meia dúzia de perguntas. Ronaldinho foi "salvo" pelo exame antidoping.
Acima do peso, sem objetividade ou liderança e muitas vezes perdido em campo, o meia ainda tem moral com o treinador. "Sem dúvida tem um longo caminho na seleção. Foi um exemplo em todos os momentos. Não só no campo. Claro que não ia atingir o nível que todos conhecem. Mas estamos muito contentes com o que ele fez na seleção olímpica", defendeu Dunga.
Resta saber, após os Jogos de Pequim, se Ricardo Teixeira, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ficou satisfeito com o trabalho do contestado treinador. "Vamos dar seqüência ao trabalho. Lógico, com a derrota a pressão aumenta, os questionamentos também", admitiu o capitão do tetra.
Questionamentos sobre, por exemplo, a preparação do time olímpico. A começar pela convocação do próprio Ronaldinho, feita por Teixeira depois de o técnico ter garantido que só chamaria quem estivesse em atividade machucado e em litígio com o Barcelona, o meia pouco entrou em campo no primeiro semestre.
Ou jogar amistosos com o time principal quando a única competição que teria pela frente era a de Pequim. E ainda fazer o time olímpico disputar jogos-treino com selecionados fracos e combinados de atletas do terceiro escalão, como se fossem garantia de bons resultados na China.
As respostas precisam aparecer nos próximos dias. Logo no início de setembro a seleção principal ("reforçada" por muitos protagonistas do fiasco olímpico) se reúne para a disputa de dois jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo, contra Chile (dia 7) e Bolívia (dia 10) hoje o Brasil é o quinto no classificatório e teria de disputar uma repescagem para ir ao Mundial.
Até lá, a última impressão será a de uma equipe que se impôs perante os no máximo medianos Bélgica, Nova Zelândia, China e Camarões, mas não esboçou o menor poder de reação diante do primeiro adversário de nível na mais uma vez frustrada caminhada pelo ouro olímpico.
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