Natália Falavigna se trancou ontem na Vila Olímpica. Só saiu para um treino leve, à noite. Mandou avisar via assessoria de imprensa do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) que não concederia entrevista na véspera do confronto com a grega Kyriaki Kouvari, hoje, às 22h45 (de Brasília), na sua estréia nos Jogos Olímpicos de Pequim.
Principal aposta do tae kwon do brasileiro, a maringaense passou o dia entre o quarto e o refeitório, dentro da casa dos atletas olímpicos, se concentrando apenas no combate. Se tudo der certo, disputará outras duas lutas antes da final, já na manhã de sábado no Brasil.
Tamanha dedicação faz sentido. Natália reconhece que passa por um momento de afirmação. Deixou de ser a desconhecida revelação na Olimpíada de Atenas-04, quando arrancou para uma surpreendente semifinal, só parando na chinesa Chen Zhong a oriental ratificou na luta seguinte a conquista da sua segunda medalha de ouro consecutiva. Virou referência, especialmente após o título mundial de 2005, em Madri, na Espanha.
O problema é que o sucesso fez com que as rivais estudassem o seu estilo de lutar. Sem concorrentes dentro do país, o que a obriga a treinar com homens em Londrina, Natália não teve mais vida fácil.
No Mundial seguinte, em 2007, também na capital chinesa, a paranaense perdeu na semifinal para Rosário Espinoza, do México. O bronze não foi suficiente para amenizar a pressão e a intensidade dos primeiros questionamentos. Ali, no tablado do ginásio Changping, no norte de Pequim, Natália conheceu a sua principal rival. A mexicana se transformou na verdadeira "pedra no sapato". Alguém capaz de calar um complexo esportivo inteiro, lotado por fãs da brasileira.
Foi o que aconteceu na decisão do título pan-americano, ainda no ano passado, no Rio de Janeiro. As oponentes fizeram um duelo equilibrado, decidido apenas no golden score (ponto de ouro). Um descuido de Natália, logo aos oito segundos da prorrogação, determinou o segundo revés seguido perante a latina. Cabisbaixa e abatida, ela chegou a ensaiar uma reclamação com os árbitros, mas desistiu logo nas primeiras palavras. A decisão não seria revista.
É por causa desta série de resultados negativos que a atleta preferiu se recolher. Pediu para não ser incomodada até que termine sua participação na Olimpíada. Antes de tudo, precisa estar focada no que tem de fazer para buscar o título inédito. Afinal, imediatamente após a estréia da brasileira será a vez de Rosário Espinoza entrar no tatame para encarar Khaoula Bem Hamza, da Tunísia. É torcer para que a concentração ganhe jogo e a pedrinha pare de incomodar.
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