"O futebol é assim", diz lateral-direita
Simone Jatobá era o contraponto do restante das jogadoras da seleção brasileira. Obviamente ela não estava feliz com a derrota na final para os Estados Unidos e a perda da inédita medalha de ouro. Mas também não ficou decepcionada com o segundo lugar. A prata serviu para a paranaense de Maringá acertar as contas com o passado. Convocada para os Jogos de Sydney, em 2000, a lateral-direita ficou de fora de Atenas-04 por opção do técnico René Simões, campeão brasileiro da Série B pelo Coritiba, no ano passado. Perdeu a chance de ficar com a medalha naquela ocasião o Brasil também perdeu a decisão para os Estados Unidos.
A jogadora conversou com a Gazeta do Povo após novo revés para as americanas.
O que significa para você a conquista da medalha de prata nesta Olimpíada?
Olha, para muitas jogadoras o sentimento é tristeza, mas para mim não. O sentimento é de luta, de gratificação pelo nosso esforço. É óbvio que queríamos o ouro, mas estou feliz com a prata também.
Tem como explicar esta derrota para os Estados Unidos após o Brasil dominar a partida inteira?
Não sei explicar, o futebol é assim.
Houve falha no lance do gol das americanas?
Não. Mérito dela, que acertou um belo chute no canto oposto da goleira.
As jogadoras dos Estados Unidos provocaram muito antes do jogo? Falava-se em revanche por causa da goleada de 4 a 0 que vocês aplicaram nelas no Mundial do ano passado, aqui mesmo na China.
Nada, foi tudo normal. Pelo menos foi o que eu percebi. Elas ficaram comemorando a conquista da medalha de ouro. (CEV)
A seleção feminina de futebol deixa Pequim sem a cobiçada medalha de ouro e com futuro incerto. Saída de jogadoras importantes, possível perda do técnico Jorge Barcellos para a China e a falta de um plano de renovação deixam dúvidas quanto a como serão os quatro anos até os Jogos de Londres, em 2012.
Andréia Suntaque (goleira, 30 anos), Maycon (meia, 31 anos), Pretinha (atacante, 33 anos), Formiga (volante, 30 anos) e Tânia Maranhão (zagueira e capitã, 34 anos) devem deixar a equipe por causa da idade. Nenhuma delas agüenta disputar mais um ciclo olímpico.
"De Atlanta para cá a seleção brasileira evoluiu muito. Não ganhamos nada, mas sempre estivemos nas finais. Saio de cabeça erguida, mesmo sem mais essa conquista. Queria muito fechar com a medalha de ouro, mas não conseguimos. Uma pena. Mesmo assim, saio feliz e certa de que deixamos um caminho para as que estão chegando", comentou Tânia.
É justamente aí que reside a maior preocupação de Barcellos. Sem uma categoria de base numerosa e eficiente, como fazer para substituir as veteranas sem deixar o atual nível cair? "Não sei", respondeu ele.
O treinador acredita que somente com o engajamento dos clubes grandes "de camisa" como diz com a criação de um departamento de futebol feminino poderia tirar a modalidade do ostracismo.
"Precisamos pensar no futuro. O ouro teria o poder de transformar a nossa realidade. Agora não sei mais, tenho lá as minhas dúvidas", comentou. "Pegue, por exemplo, o caso dos Estados Unidos. Eles têm uma liga de futebol eficiente. A Alemanha também possui a sua Bundesliga. Campeonatos fortes, coisa que não existe no Brasil", acrescentou.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) já demonstrou o interesse em colaborar, criando no ano passado a Copa do Brasil de Futebol Feminino. A questão, porém, é que a entidade apenas organizou o campeonato, sem pensar nos clubes, que sofreram para honrar despesas com viagens e alimentação das atletas. Pouco divulgada, a competição passou longe de empolgar. Ninguém sabe se terá continuidade nesta temporada.
Barcellos também não sabe se continuará no comando da equipe de mulheres. O técnico recebeu uma proposta para dirigir a seleção chinesa, algo que está estudando. "Não sei o que vai acontecer. Não conversei com ninguém, mas acho que vou continuar", explicou, sem entrar em detalhes.